terça-feira, 9 de outubro de 2007

palavras, apenas.

Tu sabes que as palavras não estão em nenhum lugar
embora possam vir de uma região subterrânea
ou da parte mais alta da cabeça como ondas
que às vezes são de areia ou de cal mas outras de
[ um sangue negro ou verde

Quer escrevas quer não escrevas
estás sempre à beira de
uma zona inexplorável
mas que uma palavra a única e que tu não
[ esperavas e esperavas
faz estremecer como a possibilidade iminente
de uma actualidade de palavra viva
O teu corpo estremece antes e depois
porque o inviolável transgride os limites
da precária segurança desse frágil suporte
que poderia estalar e desagregar-te
Mas perante a palavra que vai à tua frente
tu sentes o glorioso frémito
da queda na brancura ou num deserto fulminante

Antonio Ramos Rosa, IN A Imobilidade Fulminante (1998)

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