segunda-feira, 25 de junho de 2012

Amor inventado


que foi que me fez inventar o amor 
e imaginar-te objecto de beijos?
um passo ao acaso, terá sido?
ou o peito exibido entre ombros?
um arco de olho, um desamparo?
um abandono ao verso medonho?
um gesto de nuvem na curva do dia?
que sei eu, que queres que te diga?
eu já só domino o foro do sonho
tu estás muito longe e eu deste lado
bebeste do lago a maior poesia
e eu do poema o amor inventado.


Poesia publicada por João Miguel Henriques em seu blog, Quartos Escuros 



terça-feira, 19 de junho de 2012

O Amor Eterno

E agora que as mãos da incrédula 
rapariga te empurram para a saída, 
onde irá chover, de acordo com 
a cor do céu, não resistas. Na rua, 
onde os ventos se cruzam na esquina,
os que sopram, do norte, de colinas
manchadas pelo inverno, e os que
nascem do rio, trazendo a impressão
húmida do litoral, acende um cigarro,
para que o calor do lume te reconforte
as mãos, avança pelo passeio, enquanto
o frio te deixar, e ouve o canto da água
por baixo de terra: correntes
no limite entre o gelo
e o fogo, uma evaporação de humores,
como se as almas lutassem em busca de
saída, e, no fumo de uma memória
de mesa antiga, tu e essa que amaste,
trocando as frases matinais do re-
encontro. Vidros embaciados pelas
lágrimas da ruptura, perguntas sem
resposta, a casa de luzes
apagadas, como se estivesse vazia - e como
se não soubesses que os destinos se decidem
por cima de nós, onde em cada instante
um deus cansado nos desfaz as inúteis
promessas de eternidade.


Nuno Júdice, in "A Fonte da Vida"

segunda-feira, 11 de junho de 2012

caminhos...



"E então, quando se abrirem vários caminhos e não souber qual escolher, não tome um qualquer, tenha paciência e espere. Respire com a confiante profundidade com que respirou no dia em que veio ao mundo, não deixe que coisa alguma a distraia, espere e continue esperando. Fique parada, em silêncio, e ouça o seu coração. Quando enfim ele falar, levante-se e vá aonde ele a quiser levar."


Susanna Tamaro, in 'Vai aonde te leva o coração'



segunda-feira, 4 de junho de 2012

as sombras e as dúvidas a ocuparem tudo.



“Há um tempo para chegar e outro para partir. Quando eu cheguei, já ela tinha partido. Hoje recordo o seu sorriso como o vento entre as árvores, todos os segredos partilhados, as ternas palavras, e uma visão toma conta de mim. Demasiado tarde para encontrar um começo. Para reconhecer o que foi, é preciso ter sido. As sombras a ocuparem tudo. Eu queria ver pelos teus olhos. Sentir com o teu coração. Morrer por ti.”


Pedro Paixão IN Sombras do amor, O mundo é tudo o que acontece