quinta-feira, 29 de novembro de 2007

os meus, os teus, os nossos

Geórgica

Se gostas de maçãs, colhe maçãs
Do teu próprio pomar.
Guarda republicana há sempre em toda a parte
Onde não temos nada,
E a força é cega por definição.
Ora no teu pomar
Podes serenamente
Gozar o transitório paraíso.
Na pequenina haste
Que um dia tu plantaste
Nasceram frutos túmidos e doces
Que são teus.
Colhe, pois, esses frutos.
Não faças como o Adão e como a Eva, uns brutos
Que comeram maçãs, mas do pomar de Deus.

Miguel Torga

E eu, cada dia mais e mais apaixonada pela poesia portuguesa. Se você também gosta, compartilhe comigo. Poemas, ao contrário dos frutos, podem e devem ser trocados.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

divina graça de parar o tempo.

A querida Ju já escreveu: "parei de tentar entender o mundo. vou vivendo". Eu resolvi fazer o mesmo. Chega de tentar entender o porque das coisas, o porque das afinidades e dos abismos que se formam entre as pessoas. Eu quero sempre tentar achar explicação pra tudo, mas esqueço que para algumas coisas simplesmente pode não haver uma resposta, uma razão. Principalmente nas coisas do amor. Como já disse a poeta portuguesa Inês Pedrosa, no excerto que reproduzo abaixo:

“Tudo o que há para saber do amor é deslumbrada aceitação. Não se aprende a amar, Camila; não há vontade democrática capaz de espalhar a paixão pelas bolsas de pobreza onde ela não chega, nem fábricas capazes de a produzir em peças, para montagem, construção ou exportação. Não há nada de justo nesse sentimento: a justiça, aliás, não passa de um espetáculo de ordenação do mundo, um circo que inventamos para substituir a irracional lei do coração. Não procures explicação para a minha vida, nem a tomes com pena ou escândalo; quando eu ficar tão velha que pareça louca, lê nestes cadernos que eu fui feliz. Não te preocupes como ou quanto, nem caias na tentação de distinguir amor e paixão: a pouco e pouco, fui vendo que essas divisões são armadilhas que se montam para que o pano caia sobre os nossos olhos e a imortalidade desapareça do nosso horizonte. O amor, Camila, consiste na divina graça de parar o tempo. E nada mais se pode dizer sobre ele”.

(In: Nas tuas mãos, de Inês Pedrosa, p. 24-25)

Parece escrito pra mim mesmo. Tanto que está até identificado nominalmente.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

notícias populares

Acabei de chegar do show da Ana Carolina no Credicard Hall (o show foi na noite de domingo). Se foi bom? Foi maravilhoso. Muito mais do que eu imaginava. Tão bom quando as nossas expectativas são superadas. Aninha é linda, cantou muuuito e me encantou mais ainda. Se antes já era fã, agora então... sou muito mais. Teve quase todas as músicas fodásticas (só faltou Vestido Estampado), teve 3 bis, um cenário show de bola... e eu lá, muito perto do palco. Imagens congeladas que guardarei para sempre. Chico Buarque, sinto dizer que Ana empatou com você na listinha VIP de shows inesquecíveis da minha vida.

E como se não bastasse a alegria e a excitação causadas pelo espetáculo, tem que ter uma pitadinha a mais de emoção. Como disseram a Fer, a Lu e a Rô, ótimas companhias, só eu mesmo para passar por situações tão surreais. Conheço gente no meio da rua, voltando do supermercado e cheia de sacolas, faço grandes amigos pelo orkut e vejo pessoas inesperadas num Credicard Hall lotadaço, onde a probabilidade de se encontrar alguém conhecido é relativamente pequena. Então eu vi uma pessoa que fez parte de um passado muito recente, e que às vezes ainda insiste em ser presente, sabe-se lá Deus por que. Pois é, digníssimo X e sua senhora estavam no show. Pegaram a fila algumas pessoas depois de nós. Se foi bom ou ruim rever? Ainda não sei dizer. Foi inesperado, assustou no começo, depois passou e eu curti o show. Ahh, curti muito mesmo. Agora me diz, precisava? O destino deve estar tirando uma com a minha cara... Só pode ser isso.

Fotos exclusivas no meu orkut: http://www.orkut.com/Profile.aspx?uid=1532815861486952004

domingo, 25 de novembro de 2007

e agora, José?

«(...) que fazer dos caminhos que se nos abrem?
Como avançar, sem barco ou rumo, em direcção a que
porto? E que nos espera no regresso ao lugar de
onde ninguém deve partir se não tiver, no bolso, a carta
de chamada, o endereço, a voz acolhedora de um deus?»

«PARTIDA» de Nuno Júdice («As Coisas mais Simples» Ed. Dom Quixote)

sábado, 24 de novembro de 2007

strawberry fields forever

Clarice Lispector já avisou: ‘Não esquecer que por enquanto é tempo de morangos.’

O verão está aí, hoje está um dia lindo e azul e eu deixo o desejo de um final de semana repleto de coisas boas e que os momentos felizes sejam de fato felizes, intensos e verdadeiros. Com morangos salpicados no açúcar ou no chantilly. :-)


MORANGOS

Nunca houve morangos
como os que tivemos
naquela tarde tórrida
sentados nos degraus
da porta-janela aberta
de frente um para o outro
seus joelhos encostados nos meus
os pratos azuis em nossos colos
os morangos brilhando
na luz quente do sol
nós os mergulhamos em açúcar
olhando um para o outro
sem apressar a festa
para chegar ao fim
os pratos vazios
deitados sobre a pedra juntos
com os dois garfos cruzados
e me aproximei de você
dócil naquele ar
nos meus braços
abandonado como uma criança
da sua boca ávida
o gosto de morangos
na minha memória
inclina-se de volta
deixe-me amá-lo

deixe o sol bater
sobre o nosso esquecimento
uma hora de tudo
o calor intenso
e o relâmpago de verão
nas colinas de Kilpatrick

deixe a tempestade lavar os pratos

Edwin Morgan

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

é a poesia que nos move.

O corpo, ainda corpo,
sabe de cor
a dor. Dizer adeus,
carpir, esconder,
bater palavras contra o muro.

Ruas de São Petersburgo
sob a neblina - o corpo
sabe de cor
onde se morre.

Mas, por entre o estridor
de soldados e funcionários,
cava uma saída:

o próximo poema
(promessa de delicadeza e silêncio)

- ouve cantar uma cereja.

Eucanaã Ferraz

isso é globalização.

Diretamente do Jornal Nacional da vida real:

Brasil e Líbano pretendem estreitar os laços - todos eles. Laços de fita de cetim, aqueles bem belos, sabe?

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

oh happy days

"Riso: uma convulsão interior, que produz uma distorção da expressão facial e que é acompanhada por sons desarticulados. É contagioso e, embora intermitente, incurável."

Bierce, Ambrose

Dias felizes, repletos de ataques de riso incontroláveis, com algumas das pessoas mais importantes na minha vida, e programinhas muito bacanas. Teve partida de tranca até altas horas da madrugada, teve o casamento da Tati, teve passeinhos leves no shopping, teve visita a um apartamento que abriga a decoração mais bizarra e obscura que se pode imaginar, teve praia, teve comida farta e deliciosa, teve baladinha com a Sil e a Lu, que conheci e já gostei assim de cara... ah, teve um monte de coisa boa. Adorei o feriado. E a semana promete ser agitada porque tenho evento na quinta-feira. Trabalho grande, que exige concentração e muitas horas extras. Portanto, não estranhem se não aparecer nos blogs ou mesmo aqui. É sumiço temporário em virtude do acúmulo de trabalho. Boa semana pra todo mundo!

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

os efêmeros somos nós.

O texto abaixo foi extraído do blog da Marcia Tiburi, filósofa que participa do Programa Saia Justa (no GNT toda quarta às 22h30). O programa é ótimo e ela também. É a reflexão dela depois de assistir à peça "Os Efêmeros", que ainda rendeu um videozinho muito bacana, mostrado no Saia.

Para refletir no feriado... beijo a todos!

Os Efêmeros

“Ando em busca d’Os Efêmeros. Encontro-os por todos os lados. Passantes calmos ou afoitos, vendo-se ou vendo-me. Os efêmeros são os vivos, os que podemos ver, e os fantasmas que vemos mesmo que não existam, e os que existem e não podemos ver. Qual a cegueira que nos toca, que nos impede a mira? O que eu veria se destapasse os olhos? Veria os efêmeros, os que se escondem, atrás de suas próprias nucas, e à sua frente perdidos de si mesmos em busca de si mesmos por meio de outros, e os outros? Outros, os desistentes e os insistentes, os efêmeros com seus sapatos, saias, bolsos, máquinas de fotografar, sombras; lêem livros, fazem teatro, assistem, esperam, comem, andam, olham, chegam, vêem, vão, os efêmeros estão por todos os lados, simples, complexos, apressados, com seus trejeitos, sorrisos, fome, seus objetos de espera, de sedução, repetem a vida, repetem a morte em vida, repetem a vida em vida, a armadura que sustenta toda vertigem. Os efêmeros formam atalhos, desvios, andam, andam, seguem lemingues sempre prontos ao abismo lento ao qual demos o nome de esperança. Os efêmeros são feitos de sinais, filigranas, fascínio, atenção, esperas, pés no chão, amor, prazer, conversas, ordens, são antípodas, são a nossa imitação.
Os efêmeros nos perguntam e não respondem, os efêmeros só esperam que os ajudemos a atravessar a grande vertigem. Sempre a espera do grande contentamento invisível.
Desnudemos os olhos. Queremos nossos olhos nus para que os efêmeros passem em seu cortejo triunfal em paz. Os efêmeros somos nós.”

Marcia Tiburi

O blog: http://bloglog.globo.com/marciatiburi/

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

a vida é dura.

Este último final de semana foi "cinema em casa" total: revi 2 filmes ótimos: Fale com ela, do Almódovar e Brilho eterno de uma mente sem lembranças, com Jim Carrey - único filme que ele parece um cara normal e não faz caretas como o Máscara. O primeiro fala de amizade, amor incondicional e entrega, princípios e decisões e acidentes que mudam sua vida para sempre. É um filme lindo, com a fotografia e as cores que só Almodóvar conhece. Certamente um dos filmes que encabeça minha listinha VIP de filmes perfeitos.

O segundo não é assim o top, na minha opinião. Deveria ser um pouco mais curto. Mas é sempre bom rever porque fala de uma história de amor que terminou, de um casal que decide simplesmente apagar as lembranças que tinham um do outro, para evitar o sofrimento e a dor da perda. Quando o cara percebe que está destruindo tudo de ruim e também tudo de melhor que viveu com a menina, resolve voltar atrás e parar o processo. Talvez seja tarde demais - ou não. Talvez seja a oportunidade para começar tudo de novo, reescrever uma história que pode ter um novo final. Feliz, lógico.

Mas na verdade o que eu queria mesmo era falar do filme O cheiro do ralo, que eu também vi neste mesmo final de semana- este, inédito para mim. Gente, que filme é esse? Bizarro, escatológico e muito bom!!! Começa com a câmera seguindo uma bunda. E conta a história de Lourenço (Selton Mello), que trabalha comprando objetos antigos das pessoas. E tem prazeres, fantasias e pensamentos muito peculiares. Como disse o diretor no extra do dvd, o filme fala sobre o "lado B" que todos nós temos, mas poucos acabam verbalizando... E, ligado a isso, fala também sobre a moral de cada um. Tanto que Lourenço pergunta para um dos caras que passam pela sua loja: "Até onde vão teus princípios?"

Anotei algumas outras frases bem interessantes:

"Cheiro estranho. Deve ser do ralo."

"Não se deve alimentar o monstro, senão ele cresce."

"Você fala demais para um leigo."

"O lixo é o troco."

"Deus criou o mundo, mas foi o homem que deixou ele confortável."

"Estive no inferno e lembrei de você."

"Hoje, eu sou mais eu."

"O canário é belga?"
"Pode ser."

"A vida é dura".

Lourenço repete a frase acima muitas vezes durante o filme. Quando não queria comprar algum objeto, simplesmente dizia para a pessoa que estava querendo vender: "Isso não me interessa. É, a vida é dura. E agora sai que vou chamar o próximo". Belo ensinamento o do Lourenço. Toda vez que penso no que aconteceu e nas coisas que li e vivenciei pós-rompimento, eu lembro que a vida é dura mesmo. E nem por isso a gente vai parar a história. Pelo contrário, quer mais é seguir em frente. E que venham novos amores e novas experiências. Cada dia que passa só reafirmo a certeza que a atitude foi a mais correta, a mais sensata, a melhor coisa a fazer. Só tenho a dizer que "Hoje, eu sou mais eu". E ainda: "Estive no inferno e lembrei de você". Pois é, o filme é bom mesmo, os diálogos também... hehehe

Voltando... Filme incrivelmente irônico, inteligente e bem feito. Os tipos que passam para vender seus objetos, um melhor e mais bizarro que o outro. E ainda tem o Selton Mello, que continua uma graça mesmo fazendo um personagem tão "exótico"... rs

terça-feira, 13 de novembro de 2007

tudo tem um lado bom...

... até a televisão. Se você gosta de MPB e tem TV a cabo em casa, a próxima semana será de puro deleite. Só coisa maravilhosa em 2 canais que gosto muito: GNT e Canal Brasil.

A seguir, alguns programas que selecionei e pretendo assistir:

Marília Gabriela entrevistará Roberta Sá e Fabiana Cozza, duas das maiores revelações musicais da nova música tupiniquim. As duas cantam samba, mandam super bem.
Dias: 18/11, às 22h10 e 20/11, às 22h30. No GNT.

GNT.DOC: Vinícius
O documentário presta uma homenagem a Vinicius de Moraes a partir de um pocket-show apresentado pelos atores Camila Morgado e Ricardo Blat. Através de raras imagens de arquivo, o longa registra a vida do poeta, marcada por muitas paixões, nove casamentos e amizades duradouras.
Dia 21/11, às 23h30. No GNT.

Os próximos programas, só no Canal Brasil:

Curta na Tela: Clássicos
Vinícius de Moraes - Música, Poesia e Amor (1974)
Curta com Vinícius e Toquinho. O poetinha recorda grandes sucessos e outras parcerias importantes em sua carreira: Tom Jobim, Baden Powell e Edu Lobo.
Dias: 26/11, às 19h e 27/11, às 14h.

Faixa Musical
Chico e As Cidades (1999) - IMPERDÍVEL!-
No especial, Chico encanta mais uma vez ao interpretar seus grandes sucessos, como "Construção", "Cotidiano" e "Olhos nos Olhos". O documentário traz momentos íntimos e de rara beleza, em que Chico faz declarações apaixonadas e bem humoradas sobre futebol, Tom Jobim e o ofício de escrever e compor.
Dias 22/11, às 22h.

Mais informações e horários, consulte os sites dos canais. Quero ver tudo. Não perco por nada. Se você for legal, estiver em SP e não tiver tv a cabo, avisa. Quem sabe eu abra a casa e cobre uns ingressos. hehehe

domingo, 11 de novembro de 2007

mudando o disco

Se tem uma coisa que eu não suporto é gente que se torna repetitiva, fala sempre as mesmas coisas, e não percebe o quanto isso é chato para as pessoas que convivem com ela.

E, de repente, pelo momento de turbulência atual (que já estou vivendo há um bom tempo, é verdade) eu posso estar fazendo igualzinho, repetindo sempre a história de amor + apego + carência + deu + no + que + deu + lamentos + lamentos. Por isso, ainda que eu queira colocar mais coisas pra fora, porque ainda há muito que passei e que senti que pode ser verbalizado, vou tentar me conter e sair da rota do sentimentalismo barato. Afinal, a idéia deste blog nunca foi ser um mural de recados, muito menos o muro das lamentações de um amor imenso e não-correspondido.

Portanto, ficamos combinados, o tópico relacionamentos vai dar uma trégua aos parcos leitores. Sim, há muitos outros temas que povoam esta cabecinha, e que podem e devem parar aqui. Em breve, estrearemos uma nova -e espero- atraente programação.

sábado, 10 de novembro de 2007

no stress, yes good vibes.

Uma coisa que sempre me intrigou desde que mudei pra Sampa, alguns anos atrás, foi a quantidade de gente chorando que se vê nas ruas. É muito, mas muito comum mesmo, deparar-se com um ser de nariz vermelho e olhos inchados. 99,9% dos casos, mulher, claro. E aí eu fico me questionando o que pode ter acontecido, qual a história de vida daquela pessoa, e quase sempre acabo montando um curta-metragem imaginário na minha cabeça.

E hoje eu vi uma cena bem triste no metrô. Várias pessoas discutindo com uma mulher que, pelo que pude perceber, pois peguei a história já no final, estava brigando com um senhor porque ele estava atravancando a passagem dela. Foi deprimente ver a mulher sair chorando, com os gritos de "Vai, sua estressada" ecoando pela estação.

Eu tenho vários momentos de stress total e absoluto. Seja por questões pessoais ou profissionais. Muitas vezes a mente trabalha tanto -e pra piorar, pode até ser contra você- que a sensação é de que a cabeça pode explodir a qualquer momento. Dizem que dor-de-cabeça acontece também porque você fica brigando com seus próprios pensamentos. O racional e o emocional, o sim e o não, o ficar e o partir, armam um verdadeiro campo de batalha lá dentro.

Não, eu não quero acabar como a mulher do metrô. E por isso, eu tenho tentado me controlar, ser mais calminha, menos ansiosa, menos sangria, como diz a Sil. E cuidar dos meus pensamentos e da minha saúde. Isso sim é fundamental. O resto, infelizmente, é resto.

O que é a angústia?

"Um rapaz fez-me essa pergunta difícil de ser respondida. Pois depende do angustiado. Para alguns incautos, inclusive, é palavra de que se orgulham de pronunciar como se com ela subissem de categoria - o que também é uma forma de angústia. Angústia pode ser não ter esperança na esperança. Ou conformar-se sem se resignar.

Ou não se confessar nem a si próprio, ou não ser o que realmente se é, e nunca se é. Angústia pode ser o desamparo de estar vivo. Pode ser também não ter coragem de ter angústia - e a fuga é outra angústia. Mas angústia faz parte: o que é vivo, por ser vivo, se contrai.

Esse mesmo rapaz perguntou-me: você não acha que há um vazio sinistro em tudo? Há sim. Enquanto se espera que o coração entenda".

Clarice Lispector in A descoberta do mundo

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

ele, again.

Fala Caio, fala:

"... Não compreendo como querer o outro possa tornar-se mais forte do que querer a si próprio. Não compreendo como querer o outro possa pintar como saída de nossa solidão fatal. Mentira: compreendo, sim. Mesmo consciente de que nasci sozinho do útero de minha mãe, berrando de pavor para o mundo insano, e que embarcarei sozinho num caixão rumo a sei lá o quê, além do pó. O que ou quem cruzo esses dois portos gelados da solidão é mera viagem: véu de maya, ilusão, passatempo. E exigimos o eterno do perecível, loucos".

Caio Fernando Abreu

Isso é lindamente cruel e verdadeiro, ou eu que estou sensível?

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

acabou. boa sorte.

Corazón Espinado. Já ouviu falar? E expectativas desleais? Junte tudo, acrescente doses salutares de amor, paixão, carência, afinidades várias e sintonia perfeita. Não, a mistura não deu certo. Faltou uma coisinha bem importante: os destinos não se cruzam. As vidas não se mesclam. Cada um na sua, mas com alguma coisa em comum? Isso só funciona na publicidade. Na vida real é um pouco diferente. Como diz a música, "bom encontro é de 2."

Dica de uma mocinha um pouco mais experiente do que antes, depois de tudo: Não tente trazer a pessoa para sua vida. Não force a barra. A pessoa tem que vir sozinha, porque quer, não porque você a trouxe, seja por joguinhos ou manipulações várias. Isto porque trazer a pessoa desta forma só causa angústia, ansiedade e medo de perder. Porque ao mesmo tempo que você tem o pouco que ela lhe dá, você não tem nada.

Não queira amá-la mais do que você deve amar a si mesmo. Cure as suas carências primeiro, para depois ir buscar o outro. Resolva antes os seus problemas - ninguém resolverá eles por você. Não adianta procrastinar projetos e atitudes que só cabem à você, ou então entregar esta responsabilidade à outra pessoa. Não há salvadores, somos todos carentes e em busca de algo que preencha o vazio. Como diz uma frase que gosto muito: "Ninguém liberta ninguém. As pessoas se libertam em comunhão".

A pessoa que veio e deixou esse coraçãozinho dilacerado veio porque eu quis assim - em nenhum momento eu a culpo por coisa alguma. Acá, os ganhos foram imensos, porque a partir do momento que descobri alguém tão parecido comigo, pude olhar de fora e perceber minhas próprias fragilidades, medos e necessidades. E agora há toda uma reorganização interna necessária para o bom andamento das coisas daqui pra frente. Ainda bem que as quartas-feiras estão aí, há amigos por perto e uma esperança incansável, ineroxável mesmo.

Se você ler isso, pessoa nefasta, obrigada, sempre. O sofrimento foi grande, mas o aprendizado também. Não guardo mágoas - apenas o gosto acre de fracasso na boca e a saudade de tudo, inclusive e principalmente do que poderíamos ter vivido. Como diz a Clarice, "Sentia sua falta como se lhe faltasse um dente da frente: excrucitante." É quase isso. Dizem que passa, que um dia a ferida fecha e você segue sua vida. Prefiro não fazer planos nem criar expectativas sobre nada. O tempo se encarregará e mandará as respostas. E aquilo que chamamos destino mostrará os caminhos.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

porque a vida segue.

E tem gente que não gosta de Martha Medeiros. Eu aprecio muitas coisas que ela escreve, assumo que gosto e me identifico um monte:

Gostar de alguém é função do coração, mas esquecer, não. É tarefa da nossa cabecinha, que aliás é nossa em termos: tem alguma coisa lá dentro que age por conta própria, sem dar satisfação. Quem dera um esforço de conscientização resolvesse o assunto (...).

***
Despedir-se de um amor é despedir-se de si mesmo. É o arremate de uma história que terminou, externamente, sem nossa concordância, mas que precisa também sair de dentro da gente.

***
Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.

Martha Medeiros

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

bora brincar?

1. Pegue um livro próximo (PRÓXIMO, não procure);

2. Abra-o na página 161;

3. Procure a 5ª frase completa;

4. Poste essa frase em seu blog;

5. Não escolha a melhor frase nem o melhor livro;

6. Repasse para outros 5 blogs.

Maitê, guria que conheci no mundinho dos blogs e fica aqui, colocou essa meme no seu blog… Como eu gosto muito de inventar umas regrinhas e brincar com as formas de postar e pensar, aí vai a minha contribuição:

"Durante esse tempo, milhões de coisas aconteceram no mundo e eu, coitadinha, esperando cartas".

Livro Correspondências - Clarice Lispector. Carta de Bluma Wainer endereçada à Clarice.

sob a areia, faça chuva ou faça sol.

Algumas pérolas praianas:

- Traz o caju amigo, por favor?
- Ele vai emprestar o guarda-chuva "pá nóis"? Pessoa levemente atordoada; de um lado uma louca tempestade e do outro.... afe.
- Homem Beterraba é o que há. Definitivamente o melhor da praia.
- Após várias demonstrações bizarras, decidimos contatar as marcas de moda praia e pedir que a sunga branca seja abolida do vestuário masculino. Sim, há exceções, mas a maioria diz o contrário, portanto é melhor tirar do mercado. E pronto.
- Sangria: muito mais comum que se imagina. Cuidado: quando menos se espera, ela se instala. E haja floral para acalmar o ser humano.
- Síndrome de Stendhal: a inquietação diante da beleza. Doença psicossomática que causa aceleração cardíaca, tonturas, confusão e até mesmo alucinações quando o indivíduo é exposto a artes, especialmente quando a arte é particularmente bela ou se existe uma grande quantidade de obras de arte em um único local. Sim, as praias do litoral norte são um local propício para um ataque da síndrome. Dica: não olhe muito para os lados. Tem casais belos e felizes aos montes por lá, tem gente que abusa da capacidade de ser bonito. Afe 2.

Participações especiais de Fred Mercury, Jean Reno e seu barco (ele, Jean, em ótima forma, diga-se de passagem), o fofo do Edgar Piccoli e Fred Flinstone e seu amiguinho gay. E, claro, em homenagem ao Dia dos Mortos, os respectivos falecidos não foram esquecidos. Mas falamos só um pouquinho deles.

Teve muito mais, algumas coisas impublicáveis, outras eu não lembro mais. Mas foi bom, viu!? São Pedro foi 50% legal com a gente. Mas as cias eram 100% e por isso valeu muito muito. Amei.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

chama o intervalo, por favor. rápido.

Acabou a Mostra de Cinema de SP. Eu não vi nada. Há uns anos que vejo pelo menos um ou dois, justamente nesse, que fiz o maior estardalhaço que ia e tal, a coisa não acontece. Afe.

Será falta de tempo e acúmulo de trabalho dois argumentos justificáveis? Não sei. Mas são os únicos que tenho. Não houve nada assim magnífico durante este mês que se fue, apenas essas duas coisinhas. Uma em excesso, outra em falta.

Enfim, c´est la vie, agora é esperar os filmes mais legais chegarem por aqui e torcer para que seja rápido. E nós voltamos à nossa programação normal com títulos de posts também normais, alguns bem banais, é verdade.

Mas antes, faremos apenas uma breve pausa para o feriado. Diz a previsão do tempo que eu estarei numa praia com o sol brilhando. Mesmo que ele apareça pouco, estarei em ótima companhia e precisando mais do que nunca pensar na vida, nas coisas, nos meus projetos. Nunca 3 dias de ócio criativo foram tão aguardados como esses.

***

“Acordo com um ferro no coração. Qualquer movimento pode reabrir a ferida. O melhor é ficar quieto, aproveitar estes minutos, sentado na varanda, com vidros que me isolam do mundo a olhar o areal imenso e o mar branco lá ao fundo. Nada mexe e eu não me mexo. Se houvesse um sentido era este.”

(Pedro Paixão - Em teus braços morreríamos)