sábado, 29 de agosto de 2009

don´t kiss me goodbye

Não, não é recado. É apenas uma música linda que eu já tinha nos meus vídeos do orkut há uns meses, mas hj ouvi de novo e aff... apaixonei. E também porque as cenas do vídeo remetem ao dia de hoje, escandalosamente claro e azul, como que chamando para um passeio ao ar livre.



Esta também é uma das músicas que deixam o filme "O Escafandro e a Borboleta" ainda mais belo. Sensível, triste, poético. Lindo demais.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

batidas desordenadas do coração

Bonito isso aqui:

"Estava alegre nesse dia, bonita também. um pouco de febre
também. por que esse romantismo: um pouco de febre? mas
a verdade é que tenho mesmo: olhos brilhantes, essa força
e essa fraqueza, batidas desordenadas do coração.
quando a brisa de verão batia no seu corpo, todo ele estremecia
de frio e calor. e então ela pensava muito rapidamente, sem
poder parar de inventar. é porque estou muita nova ainda
e sempre que me tocam ou não me tocam, sinto - refletia.
pensar agora, por exemplo, em regatos louros. exatamente
porque não existem regatos louros, compreende? assim se foge.
Ah, piedade é o que sinto então. piedade é minha forma de amor,
de ódio, de comunicação. é o que me sustenta contra o mundo,
assim como alguém vive pelo desejo, outro pelo medo.
piedade das coisas que acontecem sem que eu saiba.
mas estou cansada, apesar da minha alegria de hoje,
alegria que não se sabe de onde vem, como a da manhãzinha
de verão. estou cansada, agora agudamente.
vamos chorar juntos, baixinho. por ter sofrido e continuar
tão docemente. a dor cansada numa lágrima simplificada.
mas agora já é desejo de poesia, isso eu confesso, deus.
durmamos de mãos dadas. o mundo rola e em alguma parte
há coisas [...] flutuando sobre o mar, eis o sono.
por que ela estava tão ardente e leve, como o ar que vem
do fogão que se destampa?"

Clarice Lispector

sábado, 15 de agosto de 2009

esperança.

Conheci através de um link de alguém que não lembro mais no Facebook, apaixonei, baixei todos os discos. Eis aqui um pedacinho de Lura Criola, caboverdiana sensacional, com esta música que resume bem o sentimento que me cabe hoje. Apesar de tudo, fica a esperança, o amor, a poesia, a natureza. Tudo aí. Vale desfrutar cada momento, cada instante. Cada bela coisa simples que surgir. :)



Bom final de semana ensolarado a todos! :))

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

pelo dia 10 de agosto de 2009


Imagem tirada daqui: http://grifatexto.blogspot.com/

Julio Cesar foi um dos caras mais geniais que eu já conheci. Um pai que incentivava a leitura nos filhos de uma forma muito lúdica, que dava gosto de ver. Um cidadão íntegro que fazia questão de ser honesto e fazer o bem. Um marido que continuou amando - e desejando - a mulher mesmo com câncer. Um leitor voraz de muita coisa, de Clarice a Baudelaire. Um homem intenso que não aguentou as dores da alma e do coração.

O tempo de convívio com JC foi pequeno (1 hora e meia de viagem SP - Santos, 2 visitas à entidade assistencial Casa Vida I, 2 ou 3 conversas no msn e 1 telefonema) mas o suficiente para ganhar a admiração eterna da amiguinha aqui.

Fica em paz, meu brother. Teu único defeito (?) foi amar demais.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

a memória é como o ventre da alma

Encerro também na memória os afectos da minha alma, não da maneira como os sente a própria alma, quando os experimenta, mas de outra muito diferente, segundo o exige a força da memória.
Não é isto para admirar, tratando-se do corpo: porque o espírito é uma coisa e o corpo é outra. Por isso, se recordo, cheio de gozo, as dores passadas do corpo, não é de admirar. Aqui, porém, o espírito é a memória. Efectivamente, quando confiamos a alguém qualquer negócio, para que se lhe grave na memóra, dizemos-lhe: «vê lá, grava-o bem no teu espírito». E quando nos esquecemos, exclamamos: «não o conservei no espírito», ou então: «escapou-se-me do espírito»; portanto, chamamos espírito à própria memória.
Sendo assim, porque será que, ao evocar com alegria as minhas tristezas passadas, a alma contém a alegria e a memória a tristeza, de modo que a minha alma se regozija com a alegria que em si tem e a memória se não entristece com a tristeza que em si possui? Será porque não faz parte da alma? Quem se atreverá a afirmá-lo?

Não há dúvida que a memória é como o ventre da alma. A alegria, porém, e a tristeza são o seu alimento, doce ou amargo. Quando tais emoções se confiam à memória, podem ali encerrar-se depois de terem passado, por assim dizer, para esse estômago; mas não podem ter sabor. É ridículo considerar estas coisas como semelhantes. Contudo, também não são inteiramente dissemelhantes.
Reparai que me apoio na memória, quando afirmo que são quatro as perturbações da alma: o desejo, a alegria, o medo e a tristeza. Qualquer que seja o raciocínio que possa fazer, dividindo cada uma delas pelas espécies dos seus géneros e definindo-as, aí encontro que dizer e declaro-o depois. Mas não me altero com nenhuma daquelas perturbações, quando as relembro com a memória. Ainda antes de eu as recordar e revolver, já lá estavam. Por isso consegui, mediante a lembrança, arrancá-las dali.
Assim como a comida, graças à digestão, sai do estômago, assim também elas saem do fundo da memória, devido à lembrança. Então, porque é que o que discute, ou aquele que delas se vai recordando, não sente, na boca do pensamento, a doçura da alegria, nem a amargura da tristeza? Porventura nisto é dissemelhante o que não é semelhante em todos os seus aspectos?
Quem em nós falaria voluntariamente da tristeza e do temor, se fôssemos obrigados a entristecer-nos e a temer, sempre que falamos de tristeza ou temor? Contudo, não os traríamos à conversa se não encontrássemos na nossa memória, não só os sons destas palavras, conforme às imagens gravadas em nós pelos sentimentos corporais, mas também a noção desses mesmos sentimentos. As noções não as alcançamos por nenhuma porta da carne, mas foi o espírito que, pela experiência das próprias emoções, as sentiu e confiou à memória; ou então foi a própria memória que as reteve sem que ninguém lhas entregasse.

Santo Agostinho, in 'Confissões'


Interessante este texto. Nunca havia pensado sobre este ponto de vista de Santo Agostinho: conforme o tempo passa, situações, momentos, sentimentos e pessoas do passado vão cada vez mais pertencendo a um espaço da sua vida que não lhe pertence mais. É como se sabidamente guardássemos em uma caixinha os momentos de ontem, principalmente aqueles insuportavelmente felizes e os terrivelmente doloridos. Muita coisa acaba ficando para trás, lá no limbo dos instantes esquecidos, mas as coisas mais fortes vão para este reservatório de lembranças, e jamais serão esquecidas. Mas o mais importante - foi a leitura que fiz do texto - é que eles deixam de doer quando são mencionados. É quando a ferida cicatriza e a gente se percebe bem e curado para tentar de novo. É isso. Gostei. Boa semana pra todo mundo.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

o tempo baralhou as pistas que nos guiavam

Neste momento de distâncias impensáveis e retornos confusos, cabe-me dizer, pelas belas palavras de Rui:

Back to the old house

Boy meets girl na biblioteca. Os teus olhos eram
tão cúmplices, dir-se-ia que tínhamos escrito juntos
todos esses livros. Uma única tarde podia levar-nos
longe demais para os barcos, era fácil esquecer
que lá fora havia apenas uma cidade pequena
com o inverno nos vidros.

Os livros permanecem onde os abandonámos
mas o tempo baralhou as pistas que nos guiavam
nesse labirinto. Lembrar-me de ti significa
medir uma distância dentro de mim próprio.
serve isto para dizer o quanto nos afastámos da casa velha
onde era costume estar perto de ti dias inteiros.

(Rui Pires Cabral)

domingo, 2 de agosto de 2009

E que nada se perca infinitesimalmente.

Lindo, sensível e perfeito para um final de semana vivido com uma carga extra de surrealismo, amigos queridos e poesia:

"Vive o instante que passa. Vive-o intensamente até à última gota de sangue. É um instante banal, nada há nele que o distinga de mil outros instantes vividos. E no entanto ele é o único por ser irrepetível e isso o distingue de qualquer outro. Porque nunca mais ele será o mesmo nem tu que o estás vivendo. Absorve-o todo em ti, impregna-te dele e que ele não seja pois em vão no dar-se-te todo a ti. Olha o sol difícil entre as nuvens, respira à profundidade de ti, ouve o vento. Escuta as vozes longínquas de crianças, o ruído de um motor que passa na estrada, o silêncio que isso envolve e que fica. E pensa-te a ti que disso te apercebes, sê vivo aí, pensa-te vivo aí, sente-te aí. E que nada se perca infinitesimalmente no mundo que vives e na pessoa que és. Assim o dom estúpido e miraculoso da vida não será a estupidez maior de o não teres cumprido integralmente, de o teres desperdiçado numa vida que terá fim."

Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente IV'