sexta-feira, 31 de outubro de 2008

sob a marca do tempo

"Você não entende porque a gente chora diante da beleza? A resposta é simples. Ao contemplar a beleza, a alma faz uma súplica de eternidade. Tudo o que a gente ama a gente deseja que permaneça para sempre. Mas tudo o que a gente ama existe sob a marca do tempo. Tudo é efêmero. Efêmero é o por do sol, efêmera é a canção, efêmero é o abraço, efêmera é a casa construída para o resto da vida. A gente chora diante da beleza porque a beleza é uma metáfora da própria vida."

[Rubem Alves]

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

vontade de ser gerânio... rs

Tudo muito complicado por aqui. Depois da segunda-feira mais tensa da história, fui convocada às 5 da tarde para uma visita ao Hotel do Frade, em Angra dos Reis, onde realizaremos um evento em março. E foi assim, com a cabeça cheia de dúvidas e o coração apertado, que parti para lá. Foi cansativo, mas extremamente proveitoso. Conheci o hotel, as pessoas com as quais irei trabalhar, passei um pouco bem (o hotel é maravilhoso, claro). Voltei ontem. Pena que não pude jogar as incertezas no mar - elas vieram comigo pra São Paulo. Para completar, hj tenho evento logo mais à noite, e sábado tenho que organizar o retorno do brother para SP. E ainda preciso encontrar 3 pessoas queridas e ligar para outras 2, antes que a amizade se perca de vez. Para uma semana, está bom, não?! Bem, é isso. Chega de exposição da figura por hoje. Tenho muito que falar e outro tanto para ouvir, mas isso é particular, pessoal e intransferível.

"A vida tem caminhos estranhos, tortuosos às vezes difíceis: um simples gesto involuntário pode desencadear todo um processo. Sim, existir é incompreensível e excitante..."

"Fico tão cansada às vezes, e digo para mim mesma que está errado, que não é assim, que não é este o tempo, que não é este o lugar, que não é esta a vida. (...) então eu não sentia nada, podia fazer as coisas mais audaciosas sem sentir nada, bastava estar atenta como estes gerânios, você acha que um gerânio sente alguma coisa? quero dizer, um gerânio está sempre tão ocupado em ser um gerânio e deve ter tanta certeza de ser um gerânio que não lhe sobra tempo para nenhuma outra dúvida..."

Caio Fernando Abreu - não é que ele voltou?

sábado, 25 de outubro de 2008

simples assim. NÃO.

Uma reflexão interessante sobre a triste história da menina Eloá:

Criando um monstro
(Karina dos Santos Cabral)

O que pode criar um monstro? O que leva um rapaz de 22 anos a estragar a própria vida e a vida de outras duas jovens por… Nada?
Será que é índole? Talvez, a mídia? A influência da televisão? A situação social da violência? Traumas? Raiva contida? Deficiência social ou mental? Permissividade da sociedade?
O que faz alguém achar que pode comprar armas de fogo, entrar na casa de uma família, fazer reféns, assustar e desalojar vizinhos, ocupar a polícia por mais de 100 horas e atirar em duas pessoas inocentes?
O rapaz deu a resposta: "ela não quis falar comigo". A garota disse não, não quero mais falar com você. E o garoto, dizendo que ama, não aceitou um não. Seu desejo era mais importante.
Não quero ser mais um desses psicólogos de araque que infestam os programas vespertinos de televisão, que explicam tudo de maneira muito simplista e falam descontextualizadamente sobre a vida dos outros sem serem chamados. Mas ontem, enquanto não conseguia dormir pensando nesse absurdo todo, pensei que o não da menina Eloá foi o único.
Faltaram muitos outros não's nessa história toda.
Faltou um pai e uma mãe dizerem que a filha de 12 anos NÃO podia namorar um rapaz de 19. Faltou uma outra mãe dizer que NÃO iria sucumbir ao medo e ir lá tirar o filho do tal apartamento a puxões de orelha. Faltou outros pais dizerem que NÃO iriam atender ao pedido de um policial maluco de deixar a filha voltar para o cativeiro de onde, com sorte, já tinha escapado com vida. Faltou a polícia dizer NÃO ao próprio planejamento errôneo de mandar a garota de volta pra lá. Faltou o governo dizer NÃO ao sensacionalismo da imprensa em torno do caso, que permitiu que o tal seqüestrador conversasse e chorasse compulsivamente em todos os programas de TV que o procuraram.
Simples assim. N Ã O.
Pelo jeito, a única que disse não nessa história foi punida com uma bala na cabeça. O mundo está carente de não's.
Vejo que cada vez mais os pais e professores morrem de medo de dizer não às crianças. Mulheres ainda têm medo de dizer não aos maridos (e alguns maridos, temem dizer não às esposas). Pessoas têm medo de dizer não aos amigos. Noras que não conseguem dizer não às sogras, chefes que não dizem não aos subordinados, gente que não consegue dizer não aos próprios desejos. E assim são criados alguns monstros.
Talvez alguns não cheguem a seqüestrar pessoas. Mas têm pequenos surtos quando escutam um não, seja do guarda de trânsito, do chefe, do professor, da namorada, do gerente do banco. Essas pessoas acabam crendo que abusar é normal. E é legal.
Os pais dizem, "não posso traumatizar meu filho". E não é raro eu ver alguns tomando tapas de bebês com 1 ou 2 anos. Outros gastam o que não têm em brinquedos todos os dias e festas de aniversário faraônicas para suas crias. Sem falar nos adolescentes.
Hoje em dia, é difícil ouvir alguém dizer não, você não pode bater no seu amiguinho.
Não, você não vai assistir a uma novela feita para adultos.
Não, você não vai fumar maconha enquanto for contra a lei.
Não, você não vai passar a madrugada na rua.
Não, você não vai dirigir sem carteira de habilitação.
Não, você não vai beber uma cervejinha enquanto não fizer 18 anos.
Não, essas pessoas não são companhias pra você.
Não, hoje você não vai ganhar brinquedo ou comer salgadinho e chocolate.
Não, aqui não é lugar para você ficar.
Não, você não vai faltar na escola sem estar doente.
Não, essa conversa não é pra você se meter.
Não, com isto você não vai brincar.
Não, hoje você está de castigo e não vai brincar no parque.
Crianças e adolescentes que crescem sem ouvir bons, justos e firmes NÃOS crescem sem saber que o mundo não é só deles.
E aí, no primeiro não que a vida dá (e a vida dá muitos) surtam. Usam drogas. Compram armas. Transam sem camisinha. Batem em professores. Furam o pneu do carro do chefe. Chutam mendigos e prostitutas na rua. E daí por diante.
Não estou defendendo a volta da educação rígida e sem diálogo, pelo contrário.
Acredito piamente que crianças e adolescentes tratados com um amor real, sem culpa, tranqüilo e livre, conseguem perfeitamente entender uma sanção do pai ou da mãe, um tapa, um castigo, um não. Intuem que o amor dos adultos pelas crianças não é só prazer - é também responsabilidade.
E quem ouve uns não's de vez em quando também aprende a dizê-los quando é preciso. Acaba aprendendo que é importante dizer não a algumas pessoas que tentam abusar de nós de diversas maneiras, com respeito e firmeza, mesmo que sejam pessoas que nos amem.
O não protege, ensina e prepara. Por mais que seja difícil, eu tento dizer não aos seres humanos que cruzam o meu caminho quando acredito que é hora - e tento respeitar também os não's que recebo. Nem sempre consigo, mas tento.
Acredito que é aí que está a verdadeira prova de amor. E é também aí que está a solução para a violência cada vez mais desmedida e absurda dos nossos dias.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

desta tão precária maravilha a que chamamos existência

Para que bolar grandes textos se alguém já fez melhor e com poucas e significativas palavras? Eis abaixo a frase exata para um dia cansado, de uma semana mega tensa, em que os dias e noites passaram mais rápido que de costume (será o horário de verão?):

E eu aqui, "apreciando cada momento - sobretudo os dolorosos, pela lucidez que trazem como bónus - desta tão precária maravilha a que chamamos existência."

Isso é Inês Pedrosa, trechinho de Fazes-me falta

Também dela:

"O amor à poesia não se aprende – nada do que é verdadeiramente fundamental na vida se aprende – mas pode contagiar-se."

Lindo demais!

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

um viva ao mestre

A minha singela homenagem à Vinícius de Moraes, aquele que mostrou o que é preciso para se viver um grande amor, casou-se nove vezes e mais do que ninguém viveu as delícias e amarguras de ser uma pessoa intensa, visceral, apaixonada e apaixonante. Vinícius nasceu no dia 19 de outubro de 1913 e morreu em 9 de julho de 1980. Completaria 95 aninhos ontem, se estivesse vivo.

Diplomata, jornalista, compositor e poeta essencialmente lírico, Vinicius notabilizou-se pelos seus sonetos, forma poética que se tornou quase associada ao seu nome. Sua obra é vasta, passando pela literatura, teatro, cinema e música. No campo musical, Marcus Vinícius da Cruz de Melo Moraes teve como principais parceiros Tom Jobim, Toquinho, Baden Powell e Carlos Lyra.

Dentre os muitos poemas dele que amo, este me tocou especialmente hoje:

Poema de Natal

Vinicius de Moraes

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.

Extraído do livro Antologia Poética, Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1960, pág. 147.

Trechinho do DVD Vinícius, clique aqui para ver.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

sobre o encurtamento das distâncias e a incompletude nossa de cada dia

"A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito.

Não agüento ser apenas um sujeito que abre portas,
que puxa válvulas, que olha o relógio,
que compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.

Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem usando borboletas."

Manoel de Barros

Em entrevista ao programa Starte, da GloboNews, o poeta Manoel mostra sua fazenda no Pantanal e também uma sensibilidade e humildade que poucos seres humanos conhecem, já ouviram falar ou mesmo entendem como funciona. O cara é mestre, veja o vídeo, vale a pena. E as imagens e a música são belíssimas também. Dá vontade de chorar. (Tenho estado muito sensível esses dias, vai entender).

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

a boca, de manhã cedo

Sábado à noite lembra convite irrecusável que lembra teatro que lembra olhares penetrantes e cruéis (OPC para os íntimos) que lembra taça de champagne que lembra a moet que nem foi aberta que lembra flor e chocolate que lembra tudo de mais belo que há que lembra domingo que lembra você na minha cama que lembra sirene da construção ao 12h que lembra segredos compartilhados e a sua boca, de manhã cedo.

"(...)E se realmente gostarem? Se o toque do outro de repente for bom? Bom, a palavra é essa. Se o outro for bom para você. Se te der vontade de viver. Se o cheiro do suor do outro também for bom. Se todos os cheiros do corpo do outro forem bons. O pé, no fim do dia. A boca, de manhã cedo. Bons, normais, comuns. Coisa de gente. Cheiros íntimos, secretos. Ninguém mais saberia deles se não enfiasse o nariz lá dentro, a língua lá dentro, bem dentro, no fundo das carnes, no meio dos cheiros. E se tudo isso que você acha nojento for exatamente o que chamam de amor?(...)"

Caio Fernando Abreu

terça-feira, 7 de outubro de 2008

"As gaivotas vão e vêm. Entram pela pupila. Devagar, também os barcos entram, por fim o mar. Não tardará a fadiga da alma. De tanto olhar, de tanto olhar."
Eugênio de Andrade

Monet - La Promenade Sur La Falaise

"Quando o viajante disse 'não há mais o que ver', sabia que não era assim... é preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na primavera o que se vira no verão... ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar... É preciso recomeçar a viagem. Sempre."
José Saramago

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

somewhere over the rainbow...



Fica aí o agradinho para inspirar o final de semana. Você tem pessoas queridas por perto? Beije, abrace, esteja perto de verdade, com a alma e o coração presentes. Este negócio de amar é contagioso, faz bem e reanima. Eis aqui a prova indelével e incontestável. :-)

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

all you need is love

Vem do amor a Beleza,
Como a luz vem da chama.
É a lei da natureza:
Queres ser bela?-ama.

Formas de encantar,
Na tela o pincel
As pode pintar;
No bronze o buril
As sabe gravar;
E estátua gentil
Fazer o cinzel
Da pedra mais dura...
Mas Beleza é isso? -Não; só formosura.

Sorrindo entre dores
Ao filho que adora
Inda antes de o ver
-Qual sorri a aurora
Chorando nas flores
Que estão por nascer-
A mãe é a mais bela das obras de Deus.
Se ela ama!-O mais puro do fogo dos céus
Lhe ateia essa chama de luz cristalina:

É a luz divina
Que nunca mudou.
É luz... é a Beleza
Em toda a pureza
Que Deus a criou.

Folhas Caídas, Almeida Garrett

Brasil produziu 351 milhões de livros em 2007

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

A Câmara Brasileira do Livro e o Sindicato Nacional de Editores de Livros divulgaram hoje alguns dados animadores sobre o mercado editorial brasileiro – segundo as informações, o Brasil produziu no ano passado 351 milhões de livros, número que representa um crescimento de 9,5% em relação a 2006. Destes todos, 18.356 foram obras inéditas.

As editoras também venderam mais – foram 200.257.845 exemplares, 8,2% a mais que no ano anterior. A produção que mais cresceu foi a de livros religiosos, que editou 5.570 títulos este ano; já a produção que teve maior queda foi a de livros Científicos, Técnicos e Profissionais, que passou dos 12.081 de 2006 para 9.780 em 2007, uma queda de 19%.

Infantis

A maior produção, no entanto, foi de livros infantis - 14.753.213 exemplares de 3.491 títulos. Em 2006, haviam sido 12.808.625 exemplares de 3.031 obras. A diferença de um ano para outro é de 15,1%. Um alento para quem pensa no futuro. Se as crianças de hoje estão lendo tanto, imagina-se que nosso País está formando os leitores adultos do futuro. E talvez, daqui a 20 anos, a produção de livros adultos e infantis se equipare.

No topo da produção, no pé da leitura

A mesma pesquisa coloca o Brasil entre os oito maiores produtores de livros do mundo. E aí eu pergunto para onde estão indo estes livros ou o que estão fazendo com eles. Estão guardando nas estandes? Porque o Brasil está longe de ter as maiores médias de leitura por pessoa por ano.

De acordo com dados do Ministério da Cultura, cada brasileiro lê, em média, 4,7 livros por ano. No entanto, este número é inflacionado pela leitura de livros indicados nas escolas – a leitura indicada, que inclui didáticos, pára-didáticos e não-didáticos, atinge média de 3,4 livros por pessoa. Mas a leitura feita por quem não está mais na escola fica no pífio 1,3 livros por ano.

Fonte: Blog Tribuna