Muito bem formulado este pensamento de Valdomiro Neto, jornalista dos bons e filósofo nas horas vagas: "Suspeito que a coisa que mais fazemos na vida é passar, olhar e não ver gente desconhecida. No metrô, nos bares e, pasmem, até mesmo no trabalho esbarramos em gente desconhecida. Quem são elas? O que desejam? Quais suas taras e desilusões? Quantas linhas têm as suas mãos? Quantos amores já tiveram? Essa multidão que a todo instante raspa na gente não é simplesmente uma turba de corpos a se deslocar. São caçambas de afetos mal resolvidos, esperanças nutridas e desejos. Sim, fundamentalmente são desejos que andam para lá e para cá. De fato, elas caminham sempre mirando o desejo. O desejo de realizar um trabalho melhor ou de mandar o chefe à merda. O desejo de comprar o pão que alivia sua fome ou a carne que amolda seus dentes. O desejo de conhecer algum mulher ou homem que desestabilize seus batimentos. O desejo de perder peso ou ganhar músculos. O desejo de fazer uma viagem ao Marrocos ou às Ilhas Galápagos. Desejos, desejos, desejos. Passamos a vida trombando com desconhecidos. Passamos a vida trombando com pilhas de desejo."
"Não pense que eu ando atrás só de belas coisas simples. Eu quero qualquer coisa, desconexa, contraditória, insegura, não tem importância, desde que seja sua. As definições redondas e grandiloqüentes, as coisas categóricas e acabadas não me satisfazem, porque eu não sou assim", escreveu Maury Gurgel Valente para Clarice Lispector. Este blog traz excertos do cotidiano, poesias, devaneios sobre relacionamentos, cinema, literatura, música... Belas coisas simples, como eu, você e a vida.
sábado, 25 de fevereiro de 2012
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
e não é que é verdade? ;)
O primeiro beijo.
Sabe a café, a vinho, a pasta de dentes ou a tabaco.
Tudo deveria estar nele. Tudo está nele.
Sabe-se tudo já no primeiro beijo. Se o amarás. Se te amará.
Como fará e não fará amor.
Tudo está na linguagem dos primeiros lábios.
Se te tratará mal, como será o fim.
Todo o abismo entre as almas está aí, a infinita distância entre duas línguas, o precipício entre as bocas.
Se poderá ser ou não será.
A história está escrita nos nossos lábios.
Emociona-nos tanto que nos esquecemos de a ler.
(RICO, Eugénia, "A idade secreta", Casa das Letras, Lisboa, 2006, p.30)
é só saber enxergar
(...) "Eu nunca vou ser perfeita. E sei disso. Mas quer saber? Sou tranquila. Só quero estar em paz comigo mesma. Só quero estar em paz com minhas imperfeições, pois elas também têm seu charme. E seduzem. Mas a primeira pessoa que você tem que seduzir é você mesma. Por isso é tão importante a gente se respeitar e saber exatamente o que quer. E o que não quer. O que espera do outro. O que espera da gente mesmo. Qual o nosso limite. O que a gente aceita e o que não tolera de forma alguma. E saber que ninguém tem tudo. Mas se a gente quer mesmo uma coisa, precisa arregaçar as mangas e batalhar por ela. Sem fechar os olhos para as belezas da vida. Porque tem muita coisa bonita por aí. É só saber enxergar."
Clarissa Correa, em crônica escrita para a Revista TPM
Link original aqui.
Clarissa Correa, em crônica escrita para a Revista TPM
Link original aqui.
domingo, 12 de fevereiro de 2012
"Entrámos nisto sem querer e saímos disto sem querer e não ficámos a saber por onde passámos, não é assim, meu querido, a vida? Completa ignorância também não é. Isso seria outra coisa. Não. É uma situação intermédia em que se sabe sem se entender, em que se reconhece sem se conhecer. (...) Sim, a vida é uma coisa muito estranha. Tão fácil de reconhecer, impossível de saber. Se é assim, é porque é bom que assim seja. O que nos traz até aqui, um lugar que nós nem sabemos onde fica, e que depois nos leva daqui, com saudade e alívio, tão simplesmente como leva o fruto e a estrela, isso devemos louvar."
Pedro Paixão in Muito, Meu Amor
Pedro Paixão in Muito, Meu Amor
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