terça-feira, 21 de agosto de 2012

um céu líquido por detrás dos seus ombros


Uma mulher

Graça Pires

Um resto de Agosto. 

Uma mulher conhece
o caminho da fonte
porque o seu corpo
é um desvio do mar.

Talvez ela nos mostre
um céu líquido
por detrás dos seus ombros.

Não só as mãos morrem
fatigadas de desejo.

Há cascatas de pedra
nos olhos da memória.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

....


[…]"É impossível ver o próprio reflexo em águas movimentadas,
isso só é possível em águas paradas."[…]

Comecei a pensar em quanto tempo da minha vida eu gasto me debatendo de um lado para o outro como um peixão procurando o ar ou desvencilhando-me de alguma preocupação desconfortável, ou então saltitando alegremente em direção de mais prazer ainda.

E me perguntei se poderia ser útil para mim (e para aqueles que carregam o fardo de me amar) se eu conseguisse aprender a ficar parada e suportar um pouco mais, sem me deixar sempre arrastar pela estrada esburacada das circunstâncias.

[Elizabeth Gilbert In: Comer, Rezar e Amar] 


quinta-feira, 9 de agosto de 2012

AMOR DA PALAVRA, AMOR DO CORPO

António Ramos Rosa


A nudez da palavra que te despe,
Que treme, esquiva.
Com os olhos dela te quero ver,
que não te vejo.
Boca na boca através de que boca
posso eu abrir-te e ver-te?
É meu receio que escreve e não o gosto
do sol de ver-te?
Todo o espaço dou ao espelho vivo
e do vazio te escuto.
Silêncio de vertigem, pausa, côncavo
de onde nasces, morres, brilhas, branca?
És palavra ou és corpo unido em nada?
É de mim que nasces ou do mundo solta?
Amorosa confusão, te perco e te acho,
à beira de nasceres tua boca toco
e o beijo é já perder-te.