segunda-feira, 15 de abril de 2013

c'est fini :(

"Capitu não teve como falar. Se um olhar a condenou imagina o que não faria com as palavras. E quase ninguém entende amor cruzado, um no no meio do outro convivendo, como irmãos. Nunca houve camaradagem na paixão. E tapinha nas costas sempre foi coisa da práxis de negócio. 
Capitu obviamente jamais vai falar, mas se falasse."

Ana Peluso citando Dom Casmurro, via facebook

***
Li certa vez que um dos grandes luxos nessa vida é saber parar. Foi assim com as grandes divas do cinema, e também será com o Belas Coisas Simples. Sem nenhum motivo aparente, cansei mesmo. Talvez eu volte um dia - com outro blog, com novas ideias e novos motivos. 
Por ora, digo apenas OBRIGADA a todos que, de uma forma ou de outra, por acaso ou por vontade própria, ainda passam por aqui. 
Afeto e gratidão a todos. 

Beijos meus, 
Camila 




segunda-feira, 8 de abril de 2013

pelo dia de hoje. por tudo que virá.



Eu nasci
para sentir. 

Habito nas emoções. 

Que a palavra 
nunca me abandone 
é só o que peço. 

Eu dou conta do resto.

(Marla de Queiroz) 

terça-feira, 2 de abril de 2013

evolution, babe.

"Caso inacabado atrapalha a evolução da vida. Com uma pendência dessas, a gente não avança. Você encontra gente legal, mas não se vincula porque sua cabeça está presa lá atrás. Ou você se envolve, mas esconde do novo amor uma área secreta na qual só cabem você e o caso inacabado. A coisa vira uma traição subjetiva. Não tem sexo, não tem aperto de mãos no escuro, mas tem uma intimidade tão densa que exclui o outro – e emocionalmente pode ser mais séria que uma trepada. Ainda que seja mera fantasia."

[Ivan Martins]

sábado, 23 de março de 2013

Quem disse...?

Quem disse
que esta ausência te devia?

Quem pensou
que esta denúncia se enganava?

Que um dia era pior
que outro dia
Que à noite era melhor
porque sonhava?

Quem disse
que esta dor te pertencia?

Quem pensou que este amor
me perturbava?

Que o longe era mais perto
se fugias
Que o dentro era mais longe
porque estavas?

Quem disse
que este ardor te evidencia?

Quem pensou que esta pena
me cansava?

Que calar era pior
se te despia
Que gritar era pior
se te largava?

Quem disse
que esta paixão me curaria?

Quem pensou
que esta loucura me passava?

Que deixar-te era paz
porque corria
Que querer-te era mau
porque te amava?

Quem disse
que esta paixão te espantaria?

Quem pensou
que esta saudade me rasgava?

Que tudo era diferente
se te via
Que o pior era saber
que aqui não estavas?

Quem disse
que esta ternura te devia?

Quem pensou que este saber
se enganava?

Neste langor crescente
que crescia
Neste entender de nós
que cintilava?

[Maria Teresa Horta]

quarta-feira, 6 de março de 2013

DESEJO INFINITESIMAL

{que horas eram quando o tempo acabou?}
         {que horas eram quando deixaste de
poder reproduzir clandestinamente a explicação
         da conclusão do desejo infinitesimal?}
{que horas eram quando a razão de espírito
     substituiu a de ciência na ocupação do abraço?}
{que horas eram quando te adiantaste à felicidade
                       no dia que dilui
         na percepção multiforme da multidão?} 
{que horas eram quando a boca simulou
           o silêncio com princípios aleatórios?}
{que horas eram quando deixaste que a alma
         somasse corpos e subtraísse outros?}
{que horas eram quando viver era deixar morrer
              e a solidão incomunicável?}
{que horas eram quando o tempo acabou?
                              que horas eram?}

Sylvia Beirute
inédito

(Londres, 22 de Novembro de 2009)



happiness

"Há o desejo, que não tem limite, e há o que se alcança, que o tem. A felicidade consiste em fazer coincidir os dois."

Vergílio Ferreira

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

III

Isso de mim que anseia despedida
(Para perpetuar o que está sendo)
Não tem nome de amor. Nem é celeste
Ou terreno. Isso de mim é marulhoso 
E tenro. Dançarino também. Isso de mim
É novo: Como quem come o que nada contém.
A impossível oquidão de um ovo.
Como se um tigre
Reversivo,
Veemente de seu avesso
Cantasse mansamente.

Não tem nome de amor. Nem se parece a mim.
Como pode ser isto? Ser tenro, marulhoso
Dançarino e novo, ter nome de ninguém
E preferir ausência e desconforto
Para guardar no eterno o coração do outro.

(Hilda Hilst, in Cantares do Sem-Nome e de Partidas). 

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

my best wishes

Desejo que desejes alguma mudança,

uma mudança que seja necessária 
e que ela não te pese na alma,
mudanças são temidas, mas não há 
outro combustível para essa travessia.
Desejo que desejes um ano inteiro 
de muitos meses bem fechados,
que nada fique por fazer,
e desejo, principalmente,
que desejes desejar, 
que te permitas desejar,
pois o desejo é vigoroso 
e gratuito, o desejo é inocente,
não reprima teus pedidos ocultos, 
desejo que desejes vitórias,
romances, diagnósticos favoráveis, 
mais dinheiro e sentimentos vários,
mas desejo, antes de tudo,
que desejes, simplesmente.

Martha Medeiros


domingo, 3 de fevereiro de 2013

bem isso:

O amor não quer saber das idéias que tenhamos sobre a nossa identidade ou sobre as nossas preferências sexuais. O sexo é um caso irrelevante diante dos obstinados desígnios da paixão. 

Inês Pedrosa

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Conceito

Teu corpo:

um porto 
que eterniza 
meus navios

um parto
que traduz 
o meu avesso

a parte
que arremata
meu desejo. 

De Dos Haveres do Corpo (1984)

Maria Esther Maciel

Amor

Na véspera de ti
eu era pouca
                e sem
sintaxe
eu era um quase
           uma parte
sem outra
               um hiato
de mim.

No agora de ti
        aconteço
tecida em ponto
            cheio
um texto
com entrelinhas
         e recheio:

um precioso corpo
um bastante sim.

     De Triz (1998)

Maria Esther Maciel 

just a little tired.

ee cummings 
Fonte: Pinterest


quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

shadows

Um dia comprido, cumprido. Nem tudo precisa ser o tempo todo bom ou bonito. Nem a gente. Às vezes as virtudes também tiram folga... Mas não é para a sombra nos engolir, é só para conhecermos o nosso lado obscuro e tentar entender o do Outro. A crise é preciosa, nos tira do mesmo lugar, nos inquieta, convida à reformulação interna. Aprecia a luz quem transitou no escuro e se assustou com ele. Mas não há o que temer. É inútil. Então, medo para quê? É noite, mas um agora vigora. A vida não mobiliza as auroras. Que tenhamos tranquilidade e confiança para amanhecer.

Desejo boas notícias.

Marla de Queiroz

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Bela e Exigente, a Vida...

Viver é uma peripécia. Um dever, um afazer, um prazer, um susto, uma cambalhota. Entre o ânimo e o desânimo, um entusiasmo ora doce, ora dinâmico e agressivo.

Viver não é cumprir nenhum destino, não é ser empurrado ou rasteirado pela sorte. Ou pelo azar. Ou por Deus, que também tem a sua vida. Viver é ter fome. Fome de tudo. De aventura e de amor, de sucesso e de comemoração de cada um dos dias que se podem partilhar com os outros. Viver é não estar quieto, nem conformado, nem ficar ansiosamente à espera.

Viver é romper, rasgar, repetir com criatividade. A vida não é fácil, nem justa, e não dá para a comparar a nossa com a de ninguém. De um dia para o outro ela muda, muda-nos, faz-nos ver e sentir o que não víamos nem sentíamos antes e, possivelmente, o que não veremos nem sentiremos mais tarde.

Viver é observar, fixar, transformar. Experimentar mudanças. E ensinar, acompanhar, aprendendo sempre. A vida é uma sala de aula onde todos somos professores, onde todos somos alunos. Viver é sempre uma ocasião especial. Uma dádiva de nós para nós mesmos. Os milagres que nos acontecem têm sempre uma impressão digital. A vida é um espaço e um tempo maravilhosos mas não se contenta com a contemplação. Ela exige reflexão. E exige soluções.

A vida é exigente porque é generosa. É dura porque é terna. É amarga porque é doce. É ela que nos coloca as perguntas, cabendo-nos a nós encontrar as respostas. Mas nada disso é um jogo. A vida é a mais séria das coisas divertidas. 

Joaquim Pessoa

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

e você, o que causa no outro?

"‎Tem gente que faz oceanos em nós. Tem gente que faz sol e amanhece. Tem gente que faz naufrágios, tormentas e outros fazem ilhas. Tem gente que nos despedaça e parte sem volta. Tem gente que nos borda. Gente que cura e gente que arde. Ou ambos. Tem gente que é abrigo e outras são abismo. Tem gente que faz escuridões em nós. Tem gente que faz frio. Outras, fazem destino. Fazem vento e ventando nos fazem voo. Toda gente existe. Toda gente. Tudo o que fazem, se faz em nós."
Van Luchiari

Filme Amor à Flor da Pele (In the Mood for Love), 2000, Diretor Wong Kar-Wai

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

entre vazios e plenitudes

Deve ser a TPM, a saudade, a tristeza que vezenquando bate. 
Mas confesso que chorei ao ler isso: 

Dia 281.

Conta comigo sempre. Desde a sílaba inicial até à última gota
de sangue. Venho do silêncio incerto do poema e sou, umas ve-
zes constelação e outras vezes árvore, tantas vezes equilíbrio,
outras tantas tempestade. A nossa memória é um mistério, re-
cordo-me de uma música maravilhosa que nunca ouvi, na qual
consigo distinguir com clareza as flautas, os violinos, o oboé.
O sonho é, e será sempre e apenas, dos vivos, dos que masti-
gam o pão amadurecido da dúvida e a carne deslumbrada das
pupilas. Estou entre vazios e plenitudes, encho as mãos com
uma fragilidade que é um pássaro sábio e distraído que se a-
ninha no coração e se alimenta de amor, esse amor acima do
desejo, bem acima do sofrimento.
Conta comigo sempre. Piso as mesmas pedras que tu pisas,
ergo-me da face da mesma moeda em que te reconheço, con-
tigo quero festejar dias antigos e os dias que hão-de vir, con-
tigo repartirei também a minha fome mas, e sobretudo, repar-
tirei até o que é indivisível.
Tu sabes onde estou. Sabes como me chamo. Estarei presente
quando já mais ninguém estiver contigo, quando chegar a ho-
ra decisiva e não encontrares mais esperança, quando a tua
antiga coragem vacilar. Caminharei a teu lado. Haverá decerto
algumas flores derrubadas, mas haverá igualmente um sol lim-
po que interrogará as tuas mãos e que te ajudará a encontrar,
entre as respostas possíveis, as mais humildes, quero eu dizer,
as mais sábias e as mais livres.
Conta comigo. Sempre.

JOAQUIM PESSOA, in ANO COMUM (Litexa, 2011)

das possibilidades

"a gente não ama quem quer.

a gente ama quem pode, quando dá, da maneira que é possível, apesar de nossas melhores intenções e mais elaboradas teorias.

e ainda lambe os beiços."

(Alex Castro)  

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Comparações líquidas e certas

Achei bem apropriado, diante dos tempos úmidos e inconstantes: 

Volúvel como as marés.
Desinteressante como uma piscina vazia.
Certeiro como uma goteira.
Impessoal como uma pedra de gelo.
Versátil como bacia de pobre.
Traiçoeira como uma poça d´água.
Medroso como idoso em banheira.
Objetivo como esguicho de mangueira.
Sedento como um ralo.
Autêntico como um penico de ágata.
Prolixo como uma cachoeira.
Egoísta como um reservatório no verão.
Desprezada como uma bóia murcha.
Incapaz como um bueiro da periferia.
Animado como banho de criança.
Generoso como um hidrante rebentado.
Separatista como um coador.
Inoportuno como um temporal às 18h.
Absurdo como uma taxa d´água.
Exibicionista como um chafariz.
Despersonalizado como balde sem alça.
Avarento como um conta-gotas.
Convidativa como fonte à beira da estrada.
Trágico como entupimento de vaso sanitário.
Inexpugnável como o Muro da Mauá.
Sereno como orvalho na folha.
Endiabrado como um redemoinho.
Exótico como um par de galochas.
Devastador como conserto de pia.
Taciturno como um poço.
Irrecuperável como um guarda-chuva.
Esbaforido como vapor de chaleira.
Insistente como uma torneira vazando.
Íntimo como uma lágrima.

Ademir Antônio Bacca



quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

O regresso


Como quem, vindo de países distantes fora de
si, chega finalmente aonde sempre esteve
e encontra tudo no seu lugar,
o passado no passado, o presente no presente,
assim chega o viajante à tardia idade
em que se confundem ele e o caminho.

Entra então pela primeira vez na sua casa
e deita-se pela primeira vez na sua cama.
Para trás ficaram portos, ilhas, lembranças,
cidades, estações do ano.
E come agora por fim um pão primeiro
sem o sabor de palavras estrangeiras na boca.

Manuel António Pina