terça-feira, 30 de dezembro de 2008

agora, só em 2009.

Surrupiado do blog Penetra surdamente no reino das palavras (delícia de blog, visitem, vale a pena), fica aí a minha despedida de mais um ano mega tenso e intenso, sem dúvida inesquecível e repleto de belos momentos:


O último dia do ano
não é o último dia do tempo.
Outros dias virão
e novas coxas e ventres te comunicarão o
[ calor da vida.
Beijarás bocas, rasgarás papéis,
farás viagens e tantas celebrações
de aniversário, formatura, promoção, glória,
[ doce morte com sinfonia e coral,
que o tempo ficará repleto e não ouvirás o
[ clamor,
os irreparáveis uivos
do lobo, na solidão.

O último dia do tempo
não é o último dia de tudo.
Fica sempre uma franja de vida
onde se sentam dois homens.
Um homem e seu contrário,
uma mulher e seu pé,
um corpo e sua memória,
um olho e seu brilho,
uma voz e seu eco,
e quem sabe até se Deus...

Recebe com simplicidade este presente do
[ acaso.
Mereceste viver mais um ano.
Desejarias viver sempre e esgotar a borra dos
[ séculos.
Teu pai morreu, teu avô também.
Em ti mesmo muita coisa já expirou, outras
[ espreitam a morte,
mas estás vivo. Ainda uma vez estás vivo,
e de copo na mão
esperas amanhecer.

O recurso de se embriagar.
O recurso da dança e do grito,
o recurso da bola colorida,
o recurso de Kant e da poesia,
todos eles... e nenhum resolve.

Surge a manhã de um novo ano.

As coisas estão limpas, ordenadas.
O corpo gasto renova-se em espuma.
Todos os sentidos alerta funcionam.
A boca está comendo vida.
A boca está entupida de vida.
A vida escorre da boca,
lambuza as mãos, a calçada.
A vida é gorda, oleosa, mortal, sub-reptícia.

(Carlos Drummond de Andrade, in: A Rosa do Povo)

Um beijo enorme pra todo mundo... até 2009...

domingo, 28 de dezembro de 2008

meras tentativas, nós. mas doces.*



"Bem sei que há um desencontro leve entre as coisas, elas quase se chocam. Há desencontros entre os seres que se perdem uns dos outros, entre palavras que quase não dizem mais nada. Mas quase nos entendemos nesse leve desencontro, nesse quase que é a única forma de suportar a vida em cheio, pois um encontro brusco face a face com ela nos assustaria."

Clarice Lispector

* Isso é Caio Fernando Abreu. É, ele de novo. Que culpa tenho eu se o cara é bom e verbalizou tudo que eu quero e preciso dizer?!

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

céu claro e belas manhãs

Para ti, para mim e para todos que passarem por aqui, fica o meu desejo para o ano que se inicia:

Previsão do tempo para 1967

Bom, se o ajudarmos
a ser bom. Céu claro
se nossos pensamentos forem claros.
A luz começa
na boa vontade da alma - e dos olhos.
Somos responsáveis
pelo bom tempo:
compreensão simpatia impulso de ajudar
tornam belas as manhãs
e embalam as noites
em casa e no mundo.

Carlos Drummond de Andrade

Para começar o ano com as esperanças renovadas, recomendo o vídeo abaixo, conhecido mas sempre bem-vindo. E tente estar ao lado das pessoas que ama, fazendo dos momentos vividos pequenos instantes de felicidade. Que os sorrisos sejam largos e sinceros, haja saúde, paz e harmonia e os corações estejam abertos para receber o amor. É o que eu espero e desejo. :)

sábado, 20 de dezembro de 2008

quelque chose d’absent

EXISTE SEMPRE ALGUMA COISA AUSENTE

Paris — Toda vez que chego a Paris tenho um ritual particular. Depois de dormir algumas horas, dou uma espanada no rodenirterceiromundista e vou até Notre-Dame. Acendo vela, rezo, fico olhando a catedral imensa no coração do Ocidente. Sempre penso em Joana d’Arc, heroína dos meus remotos 12 anos; no caminho de Santiago de Compostela, do qual Notre-Dame é o ponto de partida — e em minha mãe, professora de História que, entre tantas coisas mais, me ensinou essa paixão pelo mundo e pelo tempo.
Sempre acontecem coisas quando vou a Notre-Dame. Certa vez, encontrei um conhecido de Porto Alegre que não via pelo menos há 20 anos. Outra, chegando de uma temporada penosa numa Londres congelada e aterrorizada por bombas do IRA, na época da Guerra do Golfo, tropecei numa greve de fome de curdos no jardim em frente. Na mais bonita dessas vezes, eu estava tristíssimo. Há meses não havia sol, ninguém mandava notícias de lugar algum, o dinheiro estava no fim, pessoas que eu considerava amigas tinham sido cruéis e desonestas. Pior que tudo, rondava um sentimento de desorientação. Aquela liberdade e falta de laços tão totais que tornam-se horríveis, e você pode então ir tanto para Botucatu quanto para Java, Budapeste ou Maputo — nada interessa. Viajante sofre muito: é o preço que se paga por querer ver “como um danado”, feito Pessoa. Eu sentia profunda falta de alguma coisa que não sabia o que era. Sabia só que doía, doía. Sem remédio.
Enrolado num capotão da Segunda Guerra, naquela tarde em Notre-Dame rezei, acendi vela, pensei coisas do passado, da fantasia e memória, depois saí a caminhar. Parei numa vitrina cheia de obras do conde Saint-Germain, me perdi pelos bulevares da le dela Cité. Então sentei num banco do Quai de Bourbon, de costas para o Sena, acendi um cigarro e olhei para a casa em frente, no outro lado da rua. Na fachada estragada pelo tempo lia-se numa placa: “II y a toujours quelque chose d’absent qui me tourmente” (Existe sempre alguma coisa ausente que me atormenta) — frase de uma carta escrita por Camilie Claudel a Rodín, em 1886. Daquela casa, dizia aplaca, Camille saíra direto para o hospício, onde permaneceu até a morte. Perdida de amor, de talento e de loucura.
Fazia frio, garoava fino sobre o Sena, daquelas garoas tão finas que mal chegam a molhar um cigarro. Copiei a frase numa agenda. E seja lá o que possa significar “ficar bem” dentro desse desconforto inseparável da condição, naquele momento justo e breve — fiquei bem. Tomei um Calvados, entrei numa galeria para ver os desenhos de Egon Schiele enquanto a frase de Camille assentava aos poucos na cabeça. Que algo sempre nos falta — o que chamamos de Deus, o que chamamos de amor, saúde, dinheiro, esperança ou paz. Sentir sede, faz parte. E atormenta.
Como a vida é tecelã imprevisível, e ponto dado aqui vezenquando só vai ser arrematado lá na frente. Três anos depois fui parar em Saint-Nazaire, cidadezinha no estuário do rio Loire, fronteira sul da Bretanha. Lá, escrevi uma novela chamada Bem longe de Marienbad , homenagem mais à canção de Barbara que ao filme de Resnais. Uma tarde saí a caminhar procurando na mente uma epígrafe para o texto. Por “acaso”, fui dar na frente de um centro cultural chamado (oh!) Camille Claudel. Lembrei da agenda antiga, fui remexer papéis. E lá estava aquela frase que eu nem lembrava mais e era, sim, a epígrafe e síntese (quem sabe epitáfio, um dia) não só daquele texto, mas de todos os outros que escrevi até hoje. E do que não escrevi, mas vivi e vivo e viverei.
Pego o metrô, vou conferir. Continua lá, a placa na fachada da casa número 1 do Quai de Bourbon, no mesmo lugar. Quando um dia você vier a Paris, procure. E se não vier, para seu próprio bem guarde este recado: alguma coisa sempre faz falta. Guarde sem dor, embora doa, e em segredo.

Caio Fernando Abreu
O Estado de S. Paulo, 3/4/1994

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

amar, desamar, amar

Considerações sobre o amor

“Amar é a verdadeira sacanagem.”
(Tom Jobim)

Tenho algumas perguntas sobre o verbo intransitivo AMAR. Cabe a você escolher a forma de amar, de ser amada, ou isso ocorre alheio à sua vontade?

Amor idealizado, amor sufocado, amor romântico, amor fraterno, amor possessivo, amor ardente, amor renitente, amor fatigado, amor como remédio para algum “buraco” existencial, amor “alma gêmea”, amor fugaz, amor sagaz, amor cego, “amor em pó, amor em barra, amor com farra, amor transbordado” (Paulinho Moska).

Amor eletromagnético, amor de dopamina e norepinefrina, amor simétrico, amor à primeira vista, amor de borboletas no estômago, amor de receita, amor clichê, amor com agravantes, amor mito de Psique e Eros.

Amor de consumo, amor às pressas, amor que não se mede, amor em estado de graça, amor semeado, amor capaz de extremos, amor capturado, amor domesticado, amor jurado, amor sacramentado, amor proibido, amor despudorado, amor de contrato, amor celebrado, amor vivido, amor esquecido. Amor de rega, amor de poda, amor de flores de estufa.

Que caprichos o amor não requer... Um trabalho gostoso, mas com método, disciplina, investimento. Como é difícil o desejo de amar!

Onde se apura o amor? Entre taças e cálices, entre gestos, entre dizer e não-dizer é que se apura o amor? Mas o amor também se apura nos intervalos amorosos... Afinal, o amor não vive apenas numa atmosfera da lareira com vinho.

Há que se fazer ajustes entre o desejo e o fado. E a tudo o amor reclama, para não ser desamor não suprido.

O amor pede orvalho, suspira transparência, quer o rufar dos tambores, um festival de asas ensaiando vôo. O amor quer celebração, alumbramento, dança, música, e dedilha no ardor das cordas seu delito de “amar, desamar, amar”. Então o amor não é um só? O nosso amor a gente tece, a gente veste, “o nosso amor a gente inventa” (Cazuza)?

Texto escrito por Luciana Pessanha Pires (má dear friend!)
www.proseverso.blogspot.com

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

todas as sombras da alma.

POEMA

Podemos falar dos sentimentos, descrever
as impressões que nos ameaçam, e revelar o vazio
que se descobre na ausência um do outro: nada,
porém, é tão inquietante como a dúvida,
o não saber de ti, ouvir o desânimo na tua voz,
agora que a tarde começa a descer e, com ela,
todas as sombras da alma. É verdade que o amor não é
apenas um registro de memórias. É no presente
que temos de o encontrar: aí, onde a tua imagem
se tornou mais real do que tu própria,
mesmo que nada te substitua. Então, é
porque as palavras são supérfluas; mas como viver
sem elas? Como encontrar outra forma de te dizer
que o amor é esta coisa tão estranha, dar o que nunca
se poderá ter, e ter o que está condenado
a perder-se? A não ser que guardemos dentro de nós,
num canto de um e outro a que só nós chegamos,
sabendo que esse pouco que nos pertence é
tudo o que cabe neste sentimento.

Nuno Júdice
in Cartografia de Emoções

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

de vez em quando...

Breve guia passo-a-passo para escarafunchar a ferida:

Selecione uma listinha de músicas que lembre momentos recentes. Pode ser aquela do grande encontro que foi como tudo começou, a do fogo, aquela outra da Marisa, Bethânia. Até cabe um Chico, Marvin Gaye, Zeca Baleiro ou mesmo Legião. Tudo depende do momento e da lembrança que vem na hora e, pronto: acende todas as luzes, dispara os gatilhos todos e está quase completo o cenário para lembrar-sofrer-ficar mal-chorar-lembrar de novo-rir dos momentos engraçados-chorar mais um pouco. O som está bacana? Pegue Caio Fernando, ele é especialista em abrir a ferida e jogar soda cáustica por cima, salpicada com pimenta que o momento exige emoções beem fortes. Cansou do Caio, passe pra Clarice e suas definições sobre amor, perda, esperança e expectativas (ou a falta delas). Funciona que é uma coisa. E, claro, pra não perder o costume termine a cena com a poesia de Vinícius, por que, um dia, “eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces”.

Só pra dar o gostinho:

"Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você fosse o meu encontro. Quis tanto dar, tanto receber. Quis precisar, sem exigências. E sem solicitações, aceitar o que me era dado. Sem ir além, compreende? Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria mais do que dispunha, por limitação humana. Mas o que tinha, era seu."

"(...) dentro daquela saudade que não ia embora por mais que o tempo passasse e dentro dele, mesmo sem lembrar, apenas agindo, todos os dias eu acordava e tomava banho, escovava os dentes e fazia todas essas coisas rotineiras, igual a alguém que aos trancos, mecanicamente, continua a viver mesmo depois de ter perdido uma perna ou um braço que, embora ausentes, ainda doem - sem poder evitar, inesperadamente, sem querer evitar, outra vez lembrei de Pedro."

“(...) meu deus como você me dói de vez em quando, eu vou ficar esperando você numa tarde cinzenta de inverno bem no meio duma praça, então os meus braços não vão ser suficientes para abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta, mas tanta coisa que eu vou ficar calada um tempo enorme só olhando você sem dizer nada, só olhando e pensando, meu deus mas como você me dói de vez em quando.”


Caio Fernando Abreu

Doeu aí também??? Aff. :-/

e de noite a gente se escuta muito mais

Letra perfeitinha que resume um pouco do que sou, sinto e penso:

Mais Perguntas Que Respostas
Leoni

A noite entreabre a porta
Pro sol que já vai entrar
E eu tenho mais perguntas que respostas
A vida me surpreende
E o dia vem me lembrar
Que todo dia é tudo diferente
Do sudoeste vem chuva
E um sentimento de paz
De noite a gente se escuta muito mais
O céu invade a varanda
E eu deixo a alma no escuro
E ainda me espanto
Com o quanto eu deixo de notar

O sol escala as encostas
Enquanto eu tomo o café
E eu tenho mais perguntas que respostas
Tem tanta gente no mundo
Vivendo vidas seguras
Será que só eu me sinto tão confuso
Eu encho a alma de sustos
De vaga-lumes e estrelas
E fico feliz por nada ou quase tudo
Me sinto meio antiquado
Pensando tanto em família
Vivendo cercado de poucos bons amigos
Eu acredito em bondade,
Amor e honestidade
E o que me importa
São mais perguntas que respostas
A noite encosta a porta
O sol desperta a cidade
E eu planto mais perguntas que respostas

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

a vida não é filme, vc não entendeu?!*

Quando faltam palavras, aqui a gente recorre à música ou à poesia, e quase sempre funciona... A vidinha segue intensa e complicada, like always. Rotina atribulada de eventos, expectativas e busca por respostas. E encontros amigos. E mimos natalinos. :)

Atenção
Essa vida contém cenas explícitas de tédio
Nos intervalos da emoção

Atenção
Quem não gostar que conte outra,
encontre, corra atrás,
enfrente, tente, invente
sua própria versão

Aqui não tem segunda sessão
Aqui não tem segunda sessão

Alice Ruiz

*Você já escutou este versinho na música Ska, do Herbert Vianna/ Paralamas.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

esta é a música...

Escutei diversas vezes esta música hoje. Tia Ivete ajudando a acalmar as dores de um coração apertado, quem diria.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

um dia eu chego lá

O amor maduro não é menor em intensidade.
Ele é apenas silencioso.
Não é menor em extensão.
É mais definido, colorido e poetizado...
O amor maduro tem e quer problemas, sim, como tudo
Mas vive dos problemas da felicidade.
Ele não pede, tem.
Não reivindica, consegue.
Não percebe, recebe.
Não exige, dá.
Não pergunta, adivinha.
Existe para fazer feliz.
É feito de compreensão, música e mistério.
É a forma sublime de ser adulto
e a forma adulta de ser sublime e criança.
É o sol de outono...

(Artur da Távola)
Não, eu não sei na verdade quem sou. E, talvez por isso, pelo vazio existente e pela alma um tanto inquieta, eu leio poesia, ouço música, amo e trabalho. Vivo. Intensamente. Com felicidade, amor, sorrisos e pessoas queridas - elas estão sempre por perto e se mostram cada dia mais fundamentais. Sim, falta ordem, serenidade, metas e certezas. Mas um dia, quem sabe, eu me encontro. Por enquanto, a sede prossegue. E tudo arde.

[by myself - 22:04]

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

efeito principal e secundário de tudo o que chega a nós

Quando conheci a poesia do escritor português José Luis Peixoto, algum tempo atrás, imaginei um sujeito de meia idade, ligeiramente acima do peso, barba rala e cabelos alvoroçados. Qual não foi a minha surpresa ao descobrir que o gajo é todo moderninho, bem apessoado, tem apenas 34 anos e ainda ostenta piercings e uma tatoo no braço? rs

Recentemente, ele começou a escrever em um blog dentro do site da Revista Bravo!, o qual fiz o favor de ler, de cabo a rabo, e selecionar algumas coisas muito, muito boas.

A primeira delas, que eu achei insuportavelmente bela:

Efeito secundário (lado B)

O acto simples de estender a mão na luz e tocar-te
irá coincidir com os meus dedos a transformarem-se
em cores, nuvens de pó lançadas no ar. Esse será o
primeiro efeito da magia. Chamar-lhe-emos magia
por causa das crianças, mas saberemos que, em rigor,
será apenas uma ilusão. Talvez seja nesse instante
que os lábios começarão a fazer o playback de todo
o silêncio, como um beijo antigo, gravado noutro
disco. O efeito secundário dessa fotografia, desse
postal, desse pôr-do-sol, será um bombardeamento
de planos para o futuro, filhos em projecto, iremos
escolher mil nomes para menino, mil nomes para
menina, iremos perder tempo a pensar nos nomes
que daríamos se fôssemos ingleses, americanos, e
falássemos em inglês, americano, como as pessoas
felizes e garridas dos filmes de domingo à tarde
no primeiro canal, ou franceses e chatos, como as
pessoas tristes dos filmes de segunda-feira à noite
no segundo canal. O primeiro efeito desse instante
será um ardor à volta dos lábios ou a repetição da
guerra do Vietname, da mesma maneira que um
ciclone na China faz uma borboleta bater as asas
e pousar-me involuntária entre os olhos, asas como
óculos de cor, nuvens de pó lançadas no ar, ou
como esperança apregoada nas ruas por multidões
indecisas, confusas, incertas, frágeis, feitas de
homens humanos, mulheres humanas e crianças-
-crianças, futuros homens e futuras mulheres,
prontos a repetirem todas as nossas dúvidas e todas
as vezes que olhámos o horizonte. E talvez o seu
melhor momento seja um espelho estragado, um
penteado definitivo ou a constatação humilde
de não serem mágicos, mas ilusionistas, donos
de um espectáculo honesto, como nós agora
a sermos o efeito principal e secundário de tudo
o que chega a nós, de tudo o que parte de nós,
de tudo o que nos ignora, nos transcende e nos
lança pela eternidade a partir do instante simples
em que estendo a mão na luz e, simples, te toco.

Postado por: José Luís Peixoto | 20/11/2008 - 15:10

Breve biografia do moço aqui.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

caminhos...

Faz tempo estou pra escrever aqui, mas as últimas semanas foram repletas de acontecimentos - começou com a minha carteira -com todos os cartões e documentos- que foi parar em mãos erradas no metrô, continuou com as atribulações de um grande evento na quinta (que foi um sucesso, vamos combinar) e culminou com dias mega tensos e intensos, em todos os sentidos que se pode imaginar, do mais sublime e onírico ao mais pesado e difícil. Cansei de tentar achar explicação e espero que o tempo traga -senão todas, pelo menos algumas- respostas.

Por ora, trago apenas belas palavras e o desejo de que as coisas se acertem e os sorrisos retornem em breve. E que eu possa ter certeza dos caminhos que percorro e das pessoas que levo comigo nesta trajetória.

Três caminhos

Percorri tantos caminhos,
tantos caminhos andei.
O primeiro era de nácar,
de rosa pura o segundo.
O terceiro era de nuvem,
no terceiro te encontrei.
O primeiro já trazia
teu nome brilhando no ar.
Não era nome de terra:
cantava coisas do mar.
Logo senti que o segundo
já era estrada de encantar.
Mas o terceiro, o terceiro
quantas voltas não foi dar!
Deixou meu corpo na terra,
meu coração no alto-mar.
Virou vento, virou bruma,
perdeu-se, rápido, no ar.

Emílio Moura
In:"Itinerário poético"

Como já sentenciou o mestre Guimarães Rosa: "Riobaldo, a colheita é comum, mas o capinar é sozinho..."