quarta-feira, 22 de julho de 2009

o substituto do amor

Achei interessante uma matéria da Revista Vida Simples que fala sobre generosidade. Ok, o assunto não é novo, mas como tem gente por aí que simplesmente não aprende, não aceita ou não faz a menor questão de colocar em prática a máxima "faça o bem sem olhar a quem". Eu faço isso por você, mas e você, o que faz por mim? Como se a vida fosse um eterno jogo de interesses.

Esses 2 parágrafos resumem bem a idéia da reportagem e também o que eu penso sobre o assunto:

(...)“Em uma sociedade que pede apenas que você receba, nunca doe, a generosidade é um treino”, diz a terapeuta existencial e professora da PUC-SP Dulce Critelli. Para ela, o primeiro passo para a generosidade é sacar se somos, individualmente, capazes de oferecer. “O desafio é estar atento às necessidades da vida em comum, não só às nossas”. Para poder ajudar o outro, o primeiro passo é enxergá-lo, ouvi-lo, perceber suas necessidades.

Uma vez que percebemos, é hora de partir a ação. Porque ser generoso é, antes de tudo, uma escolha. É diferente, por exemplo, do amor. Quando amamos, seja um filho, seja um companheiro ou um amigo, somos capazes de grandes sacrifícios. Sem nem pensar duas vezes, uma mãe passa a noite na cabeceira do filho doente. Mas, se a criança em questão não for nosso filho, não somos capazes do mesmo gesto. Comte-Sponville pergunta: se o mendigo na rua fosse alguém que amamos, recusaríamos a ajuda que ele pede? A generosidade existe, então, como substituto do amor, para os casos em que não sentimos amor – afinal, não escolhemos senti-lo. Precisamos aprender a compartilhar com desconhecidos como fazemos com as pessoas que amamos.(...)

Reportagem completa no site da Revista Vida Simples.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

fogo que arde sem se ver

Pelo Dia do Amigo e por todos os outros dias do ano, minha singela homenagem a todos os seres especiais que eu tanto amo e com os quais partilho momentos escandalosamente bons e insuportavelmente ruins, sempre:

Vejo os amigos intensos que passaram
da paixão ao amor e com ternura os vejo.
Não pertencem ao grupo dos que nos fazem
sentir ignorantes, sempre com citação
ou referência a propósito, por exemplo,
de um fogo na serra, de um cão que atravessou
a estrada. Nem ao grupo dos que colam
voz transformadora a cada partícula de real.
Os amigos intensos se fazem vénias
é por brincadeira, eu com eles concluo
do péssimo estado do mundo. Era bom, era,
que fosse apenas Portugal. Os amigos
intensos não têm uma receita para me dar,
sabem que não há duas passagens iguais
da paixão ao amor, mas que é preciso
passar. Quando estão juntos os amigos intensos
são terra e ar, e água e fogo, palha e prata,
luz e oiro, murmúrio de folhas, eterna
canção, jura infantil, pêndulo forte, morna
parede, jardim selvagem, desdém que pensa,
ritmo que vem lá de muito longe, paixão
que soube passar ao amor, encontro e calor.

Helder Moura Pereira, IN
A Tua Cara Não Me É Estranha

Conto nos dedos aqueles que não têm a intensidade como uma de suas características principais. É, dizem que a gente só atrai aquilo que é. Deve ser. ;)

domingo, 19 de julho de 2009

happy ending*

Tão bom sair de casa, no inverno glacial que se abateu sobre SP este final de semana, e perceber que não foi à toa. Pois foi essa a sensação após o término do show de Vanessa Bumagny, que fez um espetáculo lindo e diferente com a participação do poeta Frederico Barbosa. O evento, na Biblioteca Alceu de Amoroso Lima (especializada em poesia, sim, gostaria muito de morar lá dentro), começou com um bate-papo entre os 2 sobre música e poesia e teve a mediação do também poeta Ademir Assunção. Mas a parte boa começou mesmo quando Vanessa cantou alguns poemas de Fred, musicados por ela, e depois prosseguiu mostrando ao público presente algumas de suas canções. Ela é linda, tem presença de palco, uma voz sensacional, tem canções em parceria com Zeca Baleiro e Chico César, AMA POESIA e faz questão de musicar poemas e colocá-los em seus discos e a pergunta que fica é: cadê essa guria nas rádios, nas aberturas das novelas, nas trilhas de cinema? Ela não soube responder a pergunta, eu tb não. Mas faço a minha parte e deixo aqui um vídeo muito bacana com uma música dela, com imagens do centrão de São Paulo, por coincidência ela anda em uma rua pertíssima do meu trabalho e por onde eu passo quase que diariamente. Aprecie! ;)



E depois ainda teve momentos agradáveis em um restaurante de comida mexicana, fazia tempo que não apreciava uns taquitos e estava tudo delicioso! :))

* Título de uma outra música linda dela, mas que não está no youtube.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

só uma palavra me devora...

O fluxo de acontecimentos que chamamos vida segue muito bem, obrigada. Agitadinho, como sempre, feliz, na maior parte do tempo. Há muito a dizer mas falta tempo, vontade e otras coisitas más. Encerro o período de silêncio com um poeminha lindo e denso e espero voltar em breve, com mais frequência e algumas novidades.

Uma Voz na Pedra

Não sei se respondo ou se pergunto.
Sou uma voz que nasceu na penumbra do vazio.

Estou um pouco ébria e estou crescendo numa pedra.
Não tenho a sabedoria do mel ou a do vinho.
De súbito, ergo-me como uma torre de sombra fulgurante.
A minha tristeza é a da sede e a da chama.
Com esta pequena centelha quero incendiar o silêncio.
O que eu amo não sei. Amo. Amo em total abandono.
Sinto a minha boca dentro das árvores e de uma oculta nascente.
Indecisa e ardente, algo ainda não é flor em mim.
Não estou perdida, estou entre o vento e o olvido.
Quero conhecer a minha nudez e ser o azul da presença.
Não sou a destruição cega nem a esperança impossível.
Sou alguém que espera ser aberto por uma palavra.

(António Ramos Rosa)

segunda-feira, 6 de julho de 2009

sobre os laços libidinais e algo mais...

Queria muito ter pensado e escrito isso aqui, achei sensacional:

(...)
"A rigor, a vida não faz sentido e nossa passagem por aqui não tem nenhuma importância. A rigor, o eu que nos sustenta é uma construção fictícia, depende da memória e também do olhar do outro para se reconhecer como uma unidade estável ao longo do tempo. A rigor, ninguém se importa tanto com nossas eventuais desgraças a ponto de conseguir nos salvar delas. Contra este pano de fundo de nonsense, solidão e desamparo, o psiquismo se constitui em um trabalho permanente de estabelecimento de laços - "destinos pulsionais", como se diz em psicanálise - que sustentam o sujeito perante o outro e diante de si mesmo.

Freudianamente falando, a subjetividade é um canteiro de ilusões. Amamos: a vida, os outros, e sobretudo a nós mesmos. Estamos condenados a amar, pois com esta multiplicidade de laços libidinais tecemos uma rede de sentido para a existência. As diversas modalidades de ilusões amorosas, edipianas ou não, são responsáveis pela confiança imaginária que depositamos no destino, na importância que temos para os outros, no significado de nossos atos corriqueiros. Não precisamos pensar nisso o tempo todo; é preciso estar inconsciente de uma ilusão para que ela nos sustente."
(...)

Maria Rita Kehl, psicanalista
http://www.mariaritakehl.psc.br/

quarta-feira, 1 de julho de 2009

meus melhores desejos

Que a vida te seja suportável.
Que a culpa não afogue a esperança.
Que não te rendas nunca.
Que o caminho que segues seja sempre escolhido
entre dois pelo menos.
Que te importe a vida tanto como tu a ela.
Que não te agarre o vício
de prolongar as despedidas.
Que o peso da terra seja leve
sobre os teus pobres ossos.
Que a tua recordação traga lágrimas aos olhos
de quem nunca te disse que te amava.

Amalia Bautista