quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

um pouco mais, percebe?

Taí um bom desejo para o ano que chega:   
De agora em diante eu quero mais do que entender: eu quero superentender, eu humildemente imploro que esse dom me seja dado. Eu quero entender o próprio entendimento. Eu quero atingir o mais íntimo segredo daquilo que existe.
Clarice Lispector, Um Sopro de Vida

coisas que se comem por dentro


O meu nome por dentro do teu nome. O teu nome a pedir perdão por tudo. O meu nome, o teu nome, agarrados por cordas, a cair num precipício. Os nossos nomes são coisas que se comem por dentro. As coisas pelos nossos nomes são aves sagradas. Nome a nome, coisa a coisa. O sol morre dentro do meu nome, na minha boca. O teu nome abriga numa mão fechada o que resta do meu nome. Nomes muito belos. Um nome sem nome. Um nome inefável, inomável. Um nome que ninguém conhece. Só o teu nome sabe o meu nome de cor. O meu nome a subir pelo teu. O teu nome repete o meu nome, nome a nome, sílaba a sílaba. As coisas pelos seus nomes. Os nomes pelas suas coisas. Cada coisa com seu nome, o nome sem fim. Cada nome com sua coisa. O nome do nome no umbigo do mundo.

Pedro Paixão

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

e a vida o que é, diga lá meu irmão...


Uma coisa eu acho que há:
tem gente que gosta de vida,
tem gente que não.
Mas uma pessoa que não gosta
uma hora pode pegar de gostar,
e o contrário também.
O mais comum é que o gostar
ou não gostar predomine ao largo
e se contrarie em pequenas horas.
Eu sou uma que gosta.
Que gasta mais tempo gostando.
Essa é que é minha sorte.

Raiça Bomfim


P.S.: Obrigada, Jennifer, por me mostrar Raiça e tantos outros poetas e seus escritos apaixonantes. :)

domingo, 12 de dezembro de 2010

recomeçar

"Como ele sempre dissera:


o rio e o coração, o que os une?

O rio nunca está feito, como não

está o coração. Ambos são sempre

nascentes, sempre nascendo.

Ou como eu hoje escrevo:

milagre é o rio não findar mais.

Milagre é o coração começar sempre

no peito de outra vida."

(Mia Couto)

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

É o que me interessa

Lenine

Daqui desse momento
Do meu olhar pra fora
O mundo é só miragem
A sombra do futuro
A sobra do passado
Assombram a paisagem.

Quem vai virar o jogo
E transformar a perda
Em nossa recompensa
Quando eu olhar pro lado
Eu quero estar cercado
Só de quem me interessa.

Às vezes é um instante
A tarde faz silêncio
O vento sopra a meu favor
Às vezes eu pressinto e é como uma saudade
De um tempo que ainda não passou
Me traz o seu sossego
Atrasa o meu relógio
Acalma a minha pressa
Me dá sua palavra
Sussurra em meu ouvido
Só o que me interessa.

A lógica do vento
O caos do pensamento
A paz na solidão
A órbita do tempo
A pausa do retrato
A voz da intuição
A curva do universo
A fórmula do acaso
O alcance da promessa
O salto do desejo
O agora e o infinito
Só o que me interessa.
ESCREVI UM TEXTO RUIM

onde justificava meus maus passos > minhas fraquezas são fortes e pesam na hora da decisão > o que esperar? > quantas vezes sorri para você? uma infinidade > e nada mais posso fazer a não ser prometer que não falo mais de mim > ninguém gosta do que é feio, tampouco eu > mas ele está aí na feira livre e a bacia custa apenas um real > caminharei pelas ruas, meu amor, pensando em ti e nas bobagens que falo sem parar > sei que agora é tarde > mas muitas coisas são feitas tarde demais > e ainda assim, dão certo > veja.

Tirei do blog da Fernanda D'Umbra - que é uma garota bacana, que canta rock, escreve bem e bebe muita cerveja - que eu gostaria de ter sido se não fosse a Camila Micheletti - que ama poesia, acha a vida com um pouco de drama e melancolia muito mais interessante e descobriu há algum tempo que também é uma garota muito bacana. ;)

sensação

Foi surpreendida no último sábado, dia 04/12, com a voz, beleza e carisma de Bruna Caram. Um trechinho do show aqui:



... E tem mais aqui

Delícia! Meus parabéns à Bruna e agradecimentos à Cynthia e Stella, que fizeram questão da minha cia no show. :-)

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

nowadays

Elas são tão importantes e me fazem tão feliz todos os dias que a vontade é abraçar cada um por longos e incansáveis minutos e agradecer, por tudo. É, deu vontade de nomear as pessoinhas mais importantes HOJE* na vida desta que vos fala:

Bethânia. Chico Buarque. Lenice e Marcos - juntos e separados. Klaus. Gabriel. Sharon. Manuela. Conrado. Nando e Felipe - juntos e separados. Jorge. Gustavo. Juliana. Sílvia Renata. Cynthia. Stella. Luciana. Cris. Thaís. Deia. Dani. Mila. Clau. Lofiego. Yara. Isis. Priscila. Cíntia Renata. Cideval. Cibelita. Lúcia. Elaine. Lilian. DOM. Daisy e Cyber (im) - juntos e separados. Juliana D. Maria. Carol. Jennifer. Nice. Carol C. Thaísa. Carol V. Clarice. Caio F.

*A lista foi feita aleatoriamente. Algumas não são mais tão presentes como antes, mas ainda assim não consigo deixar de fora. ;)

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

o que se foi

O que se foi se foi.
Se algo ainda perdura
é só a amarga marca
na paisagem escura.

Se o que se foi regressa,
traz um erro fatal:
falta-lhe simplesmente
ser real.

Portanto, o que se foi,
se volta, é feito morte.

Então por que me faz
o coração bater tão forte?

Ferreira Gullar

Tirei do Blog da Dri

ausência

É fato: constância nunca foi o meu ponto forte. Muitas vezes eu quis pular fora dessa montanha-russa que é o meu coração e a minha cabecinha, mas hoje sei que não preciso ser a calmaria eterna da moça apática que nada deseja ou que ama o mesmo homem há 50 anos, 10 meses, 8 dias e 47 segundos, mas também não preciso chegar ao extremo de querer muito às 10h e mudar de ideia e voltar atrás às 14h. A vida é movimento e isso implica em humores instáveis, trabalhos insanos, TPM, desafetos. Essa é a parte ruim, que faz com que alguns dias sejam muito mais desagradáveis do que outros. Assim como há manhãs que começam leves e risonhas, as horas passam e nem o email mais cretino do chefe afeta seu humor. Momentos bons e outros nem tanto se alternam e fazem a vida seguir, com as suas belezas, afetos, descobertas e dissonâncias. Essa sou eu, muitas em uma, tentando encontrar meu lugar nesse mundo. Tudo isso para dizer-te uma coisa simples:

"A tua ausência dói-me. Refiro-me a essa dor que não magoa, que se limita à alma, mas que não deixa, por isso, de deixar alguns sinais - um peso nos olhos, no lugar da tua imagem, e um vazio nas mãos, como se tuas mãos lhes tivessem roubado o tacto. São estas as formas do amor, podia dizer-te; e acrescentar que as coisas simples também podem ser complicadas, quando nos damos conta da diferença entre o sonho e a realidade."
Nuno Júdice, IN Ausência

É, má friend, preciso confessar: O tempo passa e você aqui, super presente, ocupando um espaço bem maior que a fazenda que vc tanto ama. Como diz o Renato, "Queria até que pudesses me ver. És parte ainda do que me faz forte. Pra ser honesto, só um pouquinho infeliz". Tanta carência, tanto afeto finalmente declarado, será culpa da cervejinha da festa da firma? Acho que ela ajuda a verbalizar coisas guardadas. Tudo, até ela, me lembra você. Afinal, qual o único ser que fazia questão de ligar chapado de madrugada para dizer que me amava? Aiai... q saudade desse tempo... :-/

Obs: Este texto não pretende ser belo ou mesmo fazer algum sentido para quem o ler. Peço perdão aos parcos leitores que não entenderem ou mesmo não gostarem dessa mensagem.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

tãão simples...

"Felicidade depende basicamente de duas coisas: sorte e escolhas bem feitas.
Tem que ter a sorte de nascer numa família bacana, sorte de ter pais que incentivem a leitura e o esporte, sorte de eles poderem pagar os estudos pra você, sorte por ter saúde. Até aí, conta-se com a providência divina. O resto não é mais da conta do destino: depende das suas escolhas.
Os amigos que você faz, se optou por ser honesto ou ser malandro, se valoriza mais a grana do que a sua paz de espírito, se costuma correr atrás ou desistir dos seus projetos, se nas suas relações afetivas você prioriza a beleza ou as afinidades, se reconhece os momentos de dividir e de silenciar, se sabe a hora de trocar de emprego, se sai do país ou fica, se perdoa seu pai ou preserva a mágoa pro resto da vida, esse tipo de coisa.
A gente é a soma das nossas decisões, todo mundo sabe. Tem gente que é infeliz porque tem um câncer. E outros são infelizes porque cultivam uma preguiça existencial. Os que têm câncer não têm sorte. Mas os outros, sim, têm a sorte de optar. E estes só continuam infelizes se assim escolherem."

Martha Medeiros

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

quem sabe, um dia...

Um domingo, duas gatinhas - fábula do amor e seu duplo
Xico Sá

minhas duas gatinhas voltaram no mesmo dia; a que não era gente ficou, juízo não tinha. As duas, porém, me fizeram felizes do mesmo jeito; cada uma me fez bater de um lado do peito. Uma me deixou nervoso; a outra me fez mais calmo. Quando a primeira saiu, não enxerguei a outra a um palmo. Precavido, porém, tranquei uma delas em casa; perder tem limite, corto-lhe as asas. Mas a história foi bem bonita: quando descobri uma das meninas, amor à primeira vista, ela me trouxe a felina, que no futuro ajudaria a diminuir a sua própria falta.

Depois de tudo, uma coisa é certa: preciso mesmo de um bicho. Francisco, Bethânia, Dolores, Teresa ou Dionísio? Pensando ainda... rs

terça-feira, 19 de outubro de 2010

sobre as minas internas

Esse problema todo com os mineiros chilenos fez grande parte do mundo sofrer, todos assistiram de camarote o sofrimento dos coitados e, depois, felizmente, o resgate de todos, vivos e aparentemente saudáveis.

Trazendo para minha realidade, que talvez seja semelhante à sua, fiquei pensando: Caraca, os caras ficaram presos no interior de uma mina a 700 metros de profundidade, em pleno deserto do Atacama, mas graças à tecnologia e esforço da equipe de resgate e esforço e trabalho em equipe deles também, conseguiram sair praticamente ilesos após 70 dias de confinamento.

Claro que o nível dos problemas não se compara, mas vale aqui uma breve analogia sobre o caso. E eu, que tenho uma vidinha pra lá de boa, levei muuuito mais tempo para sair de algumas "minas internas" em que me menti. Talvez uma ou duas tivessem mais de 700 metros, é fato, mas precisava sofrer tanto? Como diz aquela música do Jorge Ben: "Será que vale a pena tanto sacrifício/ será que vale a pena tanto compromisso?"

A resposta é: Não, não precisava. Por isso, já prometi a mim mesma e aos anjos e santos que me guiam que serei um pouquinho mais racional daqui pra frente. O coração ainda pulsa -e como- mas vamos deixar para sofrer quando houver um motivo real e digno, né?! E aproveitar cada minuto - intensamente. Assim como esses caras, que após darem palestras, aparecerem em programas de TV e tal, certamente darão um outro sentido à vida.

Obs: A minha equipe de resgate pessoal, que inclui amigas + que queridas (Ju, Sil, Lu), as amigas do blog (Jennifer, em especial), a Nice e Silvia (chefes da equipe rs), e a todos aqueles que me ajudaram a sair do buraco, o meu muito obrigada, sempre. :-)

dialética

"Amor é isto: a dialética entre a alegria do encontro e a dor da separação. De alguma forma a gota de chuva aparecerá de novo, o vento permitirá que velejemos de novo, mar afora. Morte e ressurreição. Na dialética do amor, a própria dialética do divino. Quem não pode suportar a dor da separação não está preparado para o amor. Porque o amor é algo que não se tem nunca. É evento de graça. Aparece quando quer, e só nos resta ficar à espera. E quando ele volta, a alegria volta com ele. E sentimos então que valeu a pena suportar a dor da ausência, pela alegria do reencontro".

Rubem Alves

Concordo plenamente e sinto que a ferida aberta lá atrás está a um passo de virar cicatriz. E, sim, a gota de chuva (aquela tão aguardada) está mais perto do que se imagina. :-)

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Só Para Mulheres

Clarice Lispector

“Sejam vocês mesmas! Estudem cuidadosamente o que há de positivo ou negativo na sua pessoa e tirem partido disso. A mulher inteligente tira partido até dos pontos negativos. Uma boca demasiadamente rasgada, uns olhos pequenos, um nariz não muito correto podem servir para marcar o seu tipo e torná-lo mais atraente.
Desde que seja seu mesmo.”
(Helen Palmer)

Com o pseudônimo Helen Palmer

Separada do diplomata Maury Gurgel Valente e acompanhada de seus dois filhos pequenos, Pedro e Paulo, Clarice Lispector retorna ao Brasil para viver no bairro do Leme, no Rio de Janeiro. Nesta época, ela inicia nova colaboração com os periódicos cariocas. De agosto de 1959 a fevereiro de 1961, ela assume o pseudônimo de Helen Palmer para assinar a coluna “Correio feminino – Feira de utilidades”, no jornal Correio da Manhã. O espaço tinha o patrocínio da indústria de comésticos Pond’s, e deveria dar dicas de beleza a partir dos produtos da empresa, sem citar explicitamente sua marca.

Clarice Lispector fez de Helen Palmer uma conselheira de moda, beleza e, principalmente, de sedução. Em colunas como “Cursinho de emergência”, “Cursinho sobre cabelos” e “Cursinho sobre perfume”, as receitas visavam a conquista do bem-amado. A mulher deveria ter a pele bem cuidada, os olhos brilhantes, os cabelos sedosos e, principalmente, uma personalidade cativante – delicada, alegre, com gestos contidos e muita feminilidade. Nada de vestidos muito justos, saltos muito altos, excesso de jóias ou de pintura que, segundo a colunista, os homens detestam. Helen Palmer orientava sua leitora a ser discreta, pois “chamar a atenção não é a finalidade de uma mulher elegante e inteligente” , como pode ser conferido na coluna publicada em 04 de maio 1960:


Discrição:

Você naturalmente sabe que chamar a atenção não é de bom-tom e dá sempre uma impressão muito má da mulher. Seja pela roupa escandalosa, pelo penteado exótico, pelo andar, pelos modos, pela risada grosseira, seja, enfim, de que maneira for a mulher que chama a atenção sobre a sua pessoa o único troféu que merece é o da vulgaridade. A mulher elegante é discreta. Sua superioridade está nos detalhes cuidados na harmonia das cores, no bom gosto dos acessórios. Se ela é também bonita, a beleza é por si só um ponto de atração para os olhos, sem precisar ser orientada. Os homens, geralmente muito discretos, detestam as mulheres que se destacam demais, onde quer que apareçam. Não apenas pela sua própria maneira de ser, mas também por uma questão de vaidade masculina, já que não lhes é agradável ficar ofuscados ou relegados a um plano inferior.

(Helen Palmer)

*Só Para Mulheres é um livro de coletâneas dos conselhos de Helen Palmer, lançado em 2008.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

02h37

Numa dessas noites insones, me veio isso aqui:

Dormiu com as palavras.
Acordou molhada de metáforas

Com poemas entre as pernas

E desejos proibidos
sob o lençol.



Para quem nunca cria nada, até que não está de todo mal, não é?! ;-)

domingo, 19 de setembro de 2010

Ensina-me a Viver

Vi hoje a peça "Ensina-me a Viver", com Gloria Menezes e grande elenco. História sensível, ótimos atores, produção de ponta, trilha sonora sensacional. A história é um grande tapa na cara de pessoas como eu, que muitas vezes esquecem que a vida é aqui, agora e não dura para sempre. Bem, até aí tudo ótimo. Agora tocar Beirut em pleno 19 de setembro é sacanagem. Da grossa. Impossível não sair de olhos vermelhos.

Todo dia é de viver, para ser o que for e ser tudo.

Voltei. Mais madura, um pouco mais experiente. Mais saudosa de quem mora longe, aproveitando muito mais quem está por perto. Emprego novo, alguns amigos recentes e já muito queridos também. Nessa caminhada, pessoas ficaram pelo caminho. Algumas com as quais não falo mais, mas que podem voltar um dia, outras que partiram mesmo. Tenho acumulado afetos, experiências e pessoas queridas neste ano que, apesar de algumas perdas irreparáveis, tem sido de muitas alegrias. E crescimento, principalmente.

Acho esta a minha grande sacada dos últimos tempos: "A verdade é que a vida começa quando a gente compreende que ela não dura muito" (Millor Fernandes)