quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

sobre a vida que não se vive.


CANÇÃO

Viver não dói. O que dói 
é a vida que se não vive. 
Tanto mais bela sonhada, 
quanto mais triste perdida. 

Viver não dói. O que dói
é o tempo, essa força onírica
em que se criam os mitos
que o próprio tempo devora. 

Viver não dói. O que dói
é essa estranha lucidez, 
misto de fome e de sede
com que tudo devoramos. 

Viver não dói. O que dói, 
ferindo fundo, ferindo, 
é a distância infinita
entre a vida que se pensa
e o pensamento vivido. 

Que tudo o mais é perdido. 

Emílio Moura IN Itinerário Poético – Poemas Reunidos, Editora UFMG, 2a. ed., Belo Horizonte, 2012

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

just a little silence...

Renuncio às palavras
e às explicações.
Ando pelos contornos,
onde todos os significados
são sutis, são mortais.

[Lya Luft]


quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

O amor, sempre o amor,

Óleo sobre tela Lovers por Kurt van Wagner

O amor, sempre o amor, a palpitar-lhe lá dentro; o amor, sempre o amor, a cobrir, com as suas malhas, 
a dor: são irmãos de um mesmo pai (o coração), irmãos que mesmo dando-se bem (quantas vezes o amor e a dor não se encontram?), acabaram por escolher caminhos de vida bem diversos, ideologias antitéticas – o amor é marcadamente de esquerda dado a liberdades, a anarquias sem explicação); 
dor é conservadora, de direita (com ela não há fugas às obrigações).

Pedro Chagas Freitas in "GOTAS DE DOR"