sábado, 31 de maio de 2008

e a cama só pra você

O melhor e o pior dos mundos de morar sozinha:

É uma delícia porque:
- O silêncio é bom, reconfortante e faz pensar.
- Não presto contas a ninguém sobre nada: aonde vou, com quem vou, quem me visita, o que falta (ou sobra) na minha geladeira, se limpo a casa hoje, amanhã ou depois. Total liberdade de ações, pensamentos e atitudes. É bom, viu!?
- Fazer uma festa ou reunir os amigos sem qq motivo explícito é muito simples e não requer autorizações paternas. Basta agendar, fazer umas compras e esperar o pessoal chegar. Assim, sem complicações. E, claro, vai até a hora que estiver divertido.
- Da mesma forma, trazer alguém para jantar. Ou fazer uma sessão de cinema com pipoca. Ah, tudo o que você quiser, compreende? rs
- Não ter que disputar a televisão, o som, o dvd e o pote de Nutella com ninguém... :)
- 3 horas no telefone, sim. De madrugada, e daí? O problema é meu, unicamente meu. Eu que pago as contas, eu que mando aqui. Hehehe

Nem tudo são flores quando:
- Acaba ou queima a luz.
- Aparece uma maldita barata no banheiro - tenho asco master de baratas e demais bichos peçonhentos.
- Queima a resistência do chuveiro, a televisão insiste em não ligar ou o computador resolve tirar uma da sua cara e pára de funcionar.
- Sempre –eu disse sempre- é a sua vez de lavar a louça, limpar a casa, fazer comida, ir ao supermercado. Se você não fizer, ninguém fará por você. Simples assim.
- Você está doente e precisa, mais do que qualquer remédio de farmácia, de colo, carinho e atenção.
- Você está triste e precisa, mais do que qualquer remédio (de farmácia ou não), de colo, carinho e atenção.
- Você chega morrendo de vontade de contar para alguém as coisas que aconteceram durante o dia (ou durante a noite hehehe). Mas este alguém infelizmente não está lá. E muitas vezes o telefone e o msn não são suficientes.

Um adendo que compreende os 2 lados da questão: É, ao mesmo tempo, bom e ruim porque você corre um sério risco de se acostumar com a solidão. Da mesma forma que é bom gostar da sua cia e ficar numa boa curtindo a sua casa, é complicado pensar que com a auto-estima num nível aceitável, fica ainda mais difícil aceitar os defeitos e manias do outro. Você está bem com você, vive numa boa, só vai trazer para dentro de casa quem vier para somar. Fica mais exigente consigo e com os outros, não aceita qq um, ou seja, os níveis de exigência aumentam consideravelmente.

Tudo isso porque hoje fui ligar o dvd, e o safado não ligava. Fui tentar arrumar, e a televisão resolveu se unir a ele e morreu também. Deve ser problema de mau contato nos fios. E nessas horas eu penso como seria bom ter alguma boa alma em casa com um conhecimento mínimo de fios e elétrica. Ou então que tudo na minha casa fosse wireless, tudo mesmo. Fios não servem pra nada, dão muitos problemas e acumulam pó. E claro, com a tv ligada, seria bacana ter alguém para assistir um filminho. O eleito do final de semana é “Desejo e Reparação”, parece ser muito muito bom, assim como o seu antecessor, “Orgulho e Preconceito”.

Ainda bem que a noite promete, sem tv e sem dvd e com outras coisinhas ainda melhores, rs :)))

sexta-feira, 30 de maio de 2008

em breve, nos cinemões alternativos da cidade

Neste exato momento, metade dos brasileiros se emociona com o final feliz de Dalton e Marjorie na novela das 9... e eu aqui na net. Não gosto de novela, já faz um bom tempo que não acompanho. Acho os personagens "fakes" demais, ou tão bons que ficam chatos, ou maus em excesso... tem de haver um meio termo, afinal ninguém é uma coisa só o tempo inteiro. Fico pensando se a trama é formatada desta forma didática para o povão compreender e torcer pela turma do bem... Enfim, não dá, novela é algo q não desce mais. E não sinto falta. Tanto que só hj vim saber que a 2 caras estava no fim... rs

Bem, enquanto isso na internet e em alguns jornais já começa a se falar do filme "Nome Próprio", dica da querida Ju, vai estrear em julho:

""Nome Próprio" é um filme sobre um corpo que constrói sua narrativa. "Nome Próprio" conta a história de uma jovem mulher que dedica a vida à sua paixão, escrever. Camila é intensa, complexa e corajosa. Para ela o que interessa é construir uma trajetória como ato de afirmação da sua singularidade. Sua vida é sua narrativa. Construir uma narrativa digna o suficiente para que escreva sobre ela. "Nome Próprio" é um filme sobre a paixão de Camila. De sua busca por redenção. Quer a literatura como ato de revelação. Para tal, cria vínculos. Carente, os destrói. Por excesso. Por apego. Por paixão. "Nome Próprio" é o olhar sobre uma personagem feminina que encara abismos e, disso, retira os amparos que necessita para existir. Para Camila, a vida floresce das cicatrizes de seu processo de entrega absoluta e vertiginosa."

Mais aqui e no blog do filme.

Qualquer semelhança com nomes, personagens, personalidades e situações... sim, é tudo mera coincidência. rsrs

Para quem não sabe, não lembra ou nunca ouviu falar, o filme é baseado no livro "Máquina de Pinball", escrito por Clarah Averbuck, uma das primeiras escritoras que despontou para o mundo através dos textos de seus blogs. Conheça, a guria manda muitíssimo bem.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

cruéis em nome do amor

Fabricio Carpinejar sempre me afaga com textos perfeitos. Lindos e cruéis, pq na maioria das vezes falam a verdade mais crua do sentimento, e desmascaram o que está por trás das palavras e das ações. Eis aqui mais um belíssimo exemplo de texto dele. Cuidado: é contra-indicado para pessoas sensíveis. Pode causar lágrimas indesejadas, e não é esse o objetivo.

MEU QUERIDO AMOR

Nunca escrevi diretamente para você. Sempre havia uma destinatária em seu lugar. Eu abreviava o caminho, não sei se recebeu alguma notícia minha desde a adolescência ou se as cartas nunca passaram pela poça de seu sopro. Hoje coloquei meu blusão verde bordado 38. O prazer da gola coçando a barba me animou – sou movido ao tato. É dia de inverno, próprio para sentar com uma cadeira dobrável no pátio e expor o rosto à enxaqueca do sol. Não me importa que seja obrigado a tomar uma aspirina depois. Dependo de sua claridade inconsolável.

Desculpa, Amor, você não tem nada a ver com o nosso destino. Nós terminamos antes que você termine. É assim. Desistimos enquanto você prossegue. E apenas você, Amor, que irá até o fim, onde deveríamos acompanhá-lo, você vai até a nossa velhice: as mãos concedidas debaixo dos lençóis. Nós ficaremos na meia-idade, os braços pedindo um táxi. Nós o negaremos secretamente, apesar das pontadas violentas e da saudade dolorida. Negaremos inclusive que o conhecemos, que você é nosso encontro. Seus traços serão coincidências, nunca a soma óbvia dos nossos perfis e lápis de cera.

Nossas dúvidas escondem você. Porque é necessário confiar naquilo que ainda não sabemos. E queremos saber tudo antes mesmo de ter vivido. Nosso nervosismo não tem tranqüilidade para aceitá-lo.

Você tem paciência; nós, tempo. Sei que você não se fez sozinho, não posso escrever em seu lugar, você não é o que confio, é o que confio mais o que confia quem eu amo. E quem eu amo não poderá falar por você igualmente. O amor está entre duas conversas, duas ânsias, dois passados. Não é o desejo da direita, nem o da esquerda. É o que está entre os dois. Flutuando.

O amor é se despertencer. É sentir para passar adiante, não é sentir para ficar com aquilo. É não suportar sentir mais sozinho. Eu me desacostumei com a minha solidão.

Pela pressa de ter o amor só nosso, só nosso, somos capazes de destruí-lo com palavras. Não temos nada para odiar naquela pessoa. Estávamos agradecidos pelo espanto provocado pela sua chegada. Irreconhecíveis pela felicidade que nos fazia imaginar em dobro. Na noite anterior, éramos a vontade desesperada de entender. No dia seguinte, nenhuma vontade de compreensão. Não há persistência, há precipitação.

Mentir para uma pessoa não é tão grave quanto mentir para você, Amor. Mas os casais mentem que você foi um engano, um engodo, uma mentira. Chegam a dizer que você não existiu. Você fica perdido entre as defesas e ataques de ateus, céticos, agnósticos, crentes.

Somos fracos e desabafamos o que não acreditamos. Despejamos tanta violência sobre aquele que amamos para provocar. Para desencadear uma reação. Somos cruéis em nome de amor, para não sujar o nosso nome.

Somos imundos, desolados, irascíveis. Por não agüentar alguma coisa não resolvida em nossa vida. Algo aberto, inacabado. Uma fresta nas venezianas e não mais dormimos. Desconfio que nossa curiosidade está toda no ódio. Não toleramos ter que esperar. Se ele ou ela não vem agora é que não me deseja mesmo. Concluímos logo. Feitos perfeitamente para a fúria, incomodados com a brisa.

Procuramos decidir de vez se aquilo presta ou se não presta, se vale ou se não vale. Ansiamos por um veredicto, uma salvação, uma paz. Penso que desejamos a separação para não sofrer mais. Produzimos a separação, é a resposta mais rápida. A resposta mais rápida é vista como a certa. Um alívio para seguir com o trabalho, e mostrar clareza aos amigos.

E os amigos bem-intencionados não vão nos ajudar. O que disserem a respeito do que aconteceu não será suficiente, o amor é um dialeto restrito aos dois que se amam.

Não reparamos no principal, Amor. Não reparamos que quando amamos o tempo não faz a mínima diferença. Amar será sempre recente: será ontem. Anos juntos e a sensação é que foi ontem. Anos separados e a sensação é que foi ontem. Ontem, ontem. Não há anteontem no amor. As lembranças mais longínquas já são corpo.

É uma pena, Amor, que somos mais decididos do que amorosos. Amar é não decidir. Decidir é terminar sempre.

Fabrício Carpinejar

terça-feira, 27 de maio de 2008

sopa de letrinhas

Alguns dos mais bem cotados escritores e poetas da nova safra. Gente nova, principalmente, que sai nos sites e revistas de literatura, participa de eventos, escreve em seus blogs e lança ótimos livros por aí.

Muitos deles estavam no evento Vocabulário, o primeiro do Espaço Cultural B_arco, realizado no último sábado, dia 24/05. E eu aproveitei cada minuto desta atmosfera cultural e muito, mas muito bacana. O público? Gente bonita, antenada, e claro, inteligente. Sim, é claro que eu me senti em casa. hehehe

Dentre outros, gostei muito desse pessoal aqui: Virna Teixeira - Andréa Del Fuego - Bruna Beber - Daniel Galera - Fernanda D’Umbra - Fernanda Siqueira - Mário Bortolotto - Laura Leiner - Luana Vignon - Luciana Penna - Tainá Muller - Analu Andrigueti - Fabrício Corsaletti - Sergio Mello - Tony Monti

O evento foi idealizado pelos escritores Chacal e Paulo Scott, com a curadoria de Marcelino Freire, Marcelo Montenegro e Gabriel Pinheiro. 6 horas ininterruptas preenchidas com música, poesia e alguns textos em prosa. O que lhe parece? Bom, né?!

Este foi apenas o primeiro. Que venham os próximos! :)

rasgando o coração

Talvez tudo, talvez nada:

"Exceto nas coisas intelectuais, onde cheguei a conclusões que tenho como firmes, mudo de opinião dez vezes por dia; só tenho juízo assentado a respeito de coisas em que não haja possibilidade de emoção."

Fernando Pessoa

Muito sem tempo, muito cansada, muito feliz. Muitas dúvidas também, como de praxe. O feriado foi maravilhoso. E as pessoinhas que entraram recentemente na vida desta que vos fala, espero que permaneçam. A quantidade de gente querida só aumenta por aqui. E a minha capacidade de amar também. Mais e mais. Quem pensou que, depois de tudo, fosse sobrar um resquício de amargura e medo, errou feio. Só aumentou a vontade de ir ainda mais fundo. Afinal, se for pra cair, que seja do alto. ;)

Concluindo...

"E a vida não é existir sem mais nada. A vida não é dia sim dia não. É feita em cada entrega alucinada. Pra receber daquilo que aumenta o coração."

Mafalda Veiga

sexta-feira, 23 de maio de 2008

intensamente. sempre.

Propósito

Viver pouco mas
viver muito
Ser todo o pensamento
Toda a esperança
Toda a alegria
ou angústia - mas ser

Nunca morrer
enquanto viver

Eunice Arruda

poderia dizer-te

Lindo lindo lindo:

"Poderia dizer-te dos tendões e das mãos onde eles percorrem
o seu destino. Poderia dizer-te dos olhos se quisesse ser fácil
este verso, dizer-te do mar e ser evidente, ou das órbitas onde
gravito em cada sorriso teu e construir metáforas. Do fascínio
que as sobrancelhas me impõem nos dedos, dizer-te das nossas
conversas na faculdade, entre as teóricas e a foz, entre os
livros de ecologia dois e a tua ternura enquanto dissecavas,
tão gentilmente, o polvo. Dizer-te da lula, não do polvo, quis
mentir para esbracejar versos como tentáculos, manter viva
a tinta, a inteligência mais reconhecida. Ou dizer-te do choco
– era, isso sim, um choco de carapaça dura com que percorrias
o bisturi e onde mantinha o meu dedo segurando-lhe a pele e
entregando, desde cedo, o meu corpo ao teu cuidado. Poderia
dizer-te do sangue no corte profundo dos meus tendões, mas
quero saber o leitor focado antes nos teus, nas mãos com que
disse o primeiro verso. Vou dizer-te: os lábios. Como quem
diz nariz mas não pode, os poemas em que se dizem faces não
permitem outra pele que não a dos lábios, outro cheiro que não
o teu, outra boca que não a tua, próxima, interrompendo frases
e subindo colinas como só estes versos longos sobem. Poderia
dizer-te tudo mas tudo ficaria inaudito. Não há poema, em cinco
séculos de literatura, que te compare a elegância nos versos.
Nem Camões, nem Florbela, nem a nossa Rosário sussurrando-nos
a voz que conhecemos nos ouvidos quando a lemos, ninguém.
Pretensão enorme a minha, portanto, ultrapassar o feito e
inaugurar linguagem – aquela que te descreva como deve.
Poderia dizer-te se o soubesse como; ou o pudesse, pelo menos,
trazer dos versos do Ruy Belo como empréstimo, elaborar o meu
Elogio de Maria Teresa mudando-lhe o destinatário e em muito
as suas palavras. Poderia dizer-te se essas mesmas palavras
permitissem impor uma mulher no centro de uma vida, uma
menina inglesa, trazida também de Cambridge, quem sabe, uma
elegância alta e vertical e desejada, um cabelo e os óculos escuros,
poderia dizer-te. Mas não. Que a minha memória desafia o
leitor a imaginar os versos que não escrevo, dizer-te poema
final e definitivo, da completude dizer-te amor."

Jorge Reis-Sá - um dos mais novos poetas portugueses, descobri ontem, adorei! :)

quarta-feira, 21 de maio de 2008

my blueberry nights

"Um Beijo Roubado" é um filme maravilhoso. Lindo, com uma fotografia belíssima, ótima trilha sonora e uns diálogos que fazem qualquer um tremer na base. Como canta a Maria Rita*, e "se a lágrima ameaça do olho cair". Ontem ela ameaçou, e caiu. Algumas vezes. Tão bom que entrou fácil para a listinha VIP. Amor à flor da pele, do mesmo diretor Wong Kar Wai, continua imbatível, ok. Mas Jude Law, Norah Jones, Rachel Weisz e Cia Ltda não ficam muito atrás não. É outro estilo, diferente, mas ainda assim uma delícia de ver e ouvir. E eu fiquei com uma vontade imensa de comer uma torta de amora... afe. rs



* Confirmadíssimo, "é nóis" lá no domingo, dia 01/06, cantando junto e curtindo até cansar com a filha da Dona Elis. Yess!!!

enquanto o vento carrega as folhas outonais

Uma das primeiras poesias que me tocou profundamente, lá pelos idos de 2004:

Senhor: é mais que tempo.
O verão foi muito intenso.
Lança a tua sombra sobre os relógios de sol
e por sobre as pradarias desata os teus ventos.

Ordena às últimas frutas que fiquem maduras,
dá-lhes ainda mais uns dois dias de calor,
leva-as à completude e não deixes de pôr
no vinho pesado sua última doçura.

Quem não tem casa não a irá mais construir.
Quem está sozinho vai ficá-lo ainda mais.
Insone, há de ler, escrever cartas torrenciais
e correr as aléias num inquieto ir-e-vir
enquanto o vento carrega as folhas outonais.

(Dia de Outono, Rainer Maria Rilke, tradução de José Paulo Paes)

Para quem fica e para quem vai, um belo feriado e final de semana de outono! Muito sol, alegria e programinhas bacanas! :)

terça-feira, 20 de maio de 2008

sobre os cdfs

Tenho me divertido com as ótimas sacadas, texto afinado e humor sarcástico da Fernanda D´umbra, que tem o blog Sem Gelo - Um blog puro e também aparecia, até outro dia, no seriado Mothern, do canal a cabo GNT, como uma das protagonistas.

E me identifiquei muito com o textinho abaixo, que ela publicou no blog. Pq, além de ser cdf e amar um livro (dos assuntos que me interessam, claro), participo de eventos culturais que nem a sua avó iria - uma declamação de poesias italianas do século XIX, por exemplo... rs E o povo tira sarro mesmo, eu já até me acostumei.

Gosto dos cdfs. Não falo dos nerds bitolados e sem graça. Trata-se de um tipo especial, charmoso e antenado. Veja os rapazes: geralmente têm um ar blasé, levemente desarrumados, amam samba e música brasileira boa (Chico Buarque e afins), usam óculos de grau, curtem um all star e não abrem mão de uma camiseta divertida. Frequentam bares e lugares descolados e pasmem - não têm o menor problema de chegar sozinhos a um bar. Falam com facilidade sobre vários assuntos, do campeonato brasileiro aos conflitos tibetanos, do último filme do Woody Allen àquela piada tosca que rola na internet. Enfim, são divertidos, inteligentes, belos e tudo mais. :-)

Claro, agora, o texto:

CDF
É verdade. Sou quatro olhos, estudiosa, cdf. Sempre fui, foda-se. Adoro um livro. Operei a miopia, então me livrei dos óculos, mas só deles. Os livros estão por toda a parte, para tropeçar. O SESC Santo André me convidou para dar uma palestra. Sobre a minha relação com os livros. Tentarei ser uma pastora a arrebanhar preguiçosos. Que nada, na palestra só haverá cdf´s como eu, imagino. Gentinha louca. Outro dia cheguei no ensaio da Fábrica de Animais e os caras ficaram me alugando: "Porra, Fê, você só sai em revista de cdf, né? Bravo, Cult, caderno de cultura..." "Nunca vão te chamar pra posar de gostosa?" Acho que não, respondi, resignada. Então o aluguel continuou: "Na próxima vez em que a Trip te pedir um texto, diz que você só escreve se sair uma foto tua pelada ao lado da matéria." Aluguel é uma merda. Mas procede, geralmente.
Escrito por fernandadumbra@uol.com.br às 11:21:54

segunda-feira, 19 de maio de 2008

para encontrar, vontade

Lindinha a música que eu descobri da Ana Cañas, menina nova da MPB. Claramente inspirada na canção Diariamente, da Marisa Monte, e ainda mais bacana que a original, na minha opinião:

Para Todas as Coisas
Ana Cañas

Para seduzir, olhar
Para divertir, bobagem
Para o carro, devagar
Mas para enfrentar, coragem

Para creditar, mentira
Para discutir, opinião
Para levantar, sol
Mas para dormir, colchão

Para entender, conflito
Para se ganhar, amigo
Para deletar, mensagem
Para o verão, viagem

Para fofocar, revista
Para distrair, TV
Para uma dieta, açúcar
E para amar, você
Para encontrar, vontade
Para atravessar, a ponte
Para desejar, sorte
E para ouvir, Marisa

Para Capitú, Machado
Para uma mulher, Clarice
Para Guimarães, Brasil
Na terceira margem do rio

Para o secador, molhado
Para o colar, anel
Para o batom, um beijo
Sempre muito apaixonado

Para se pintar, espelho
Para se perder, aposta
Para dividir, segredo
Para namorar, se gosta
Para um biscoito, avó
Para comprar, essencial
Para todas as coisas, nó
E para terminar, final.

domingo, 18 de maio de 2008

só o mel do melhor do samba

"Morreu na contramão atrapalhando o tráfego"

A letra completa de música, obviamente, é importante. Mas há versos que têm força para se destacar do texto, para tirar o fôlego, para se tornar quase slogans.

Demorou. Mas depois de centenas (ou talvez milhares) de e-mails pedindo o ranking de Eu Quero um Samba sobre os melhores versos da música brasileira de todos os tempos, a lista finalmente está pronta.

Vamos a ela:

1º - “Morreu na contramão atrapalhando o tráfego”, de Construção (Chico Buarque)

2 ª – “Tire seu sorriso do caminho que quero passar com a minha dor”, de A Flor e o Espinho (Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito)

3º - “Não confio na polícia, raça do caralho”, de Homem na Estrada (Racionais MCs)

4º “Relógio em vez de retrato na cabeceira”, de Cara Limpa (Paulo Vanzolini)

5º “Tudo aquilo que o malandro pronuncia com voz macia é brasileiro, já passou de português”, de Não tem Tradução (Noel Rosa)

6º “Ali onde eu chorei, qualquer um chorava, dar a volta por cima que eu dei quero ver quem dava”, de Volta por Cima (Paulo Vanzolini)

7º “Vinte e cinto, francamente, foi de graça”, de Praça Clóvis (Paulo Vanzolini)

8º “Tudo penso e nada falo, tenho medo de chorar”, de Último Desejo (Noel Rosa)

9º “Teus seios inda estão nas minhas mãos”, de Eu te Amo (Chico Buarque)

10º “Feliz daquele que sabe sofrer”, de Rugas (Nelson Cavaquinho, Augusto Garcez e Ary Monteiro)

11º “Te perdôo por te trair”, de Mil Perdões (Chico Buarque)

12º “Eu não sei bem com certeza porque foi que um belo dia quem brincava de princesa acostumou na fantasia”, Quem te viu, Quem te vê (Chico Buarque)

13º “Quem trouxe você fui eu, não faça papel de louca”, de Sem Compromisso (Geraldo Pereira e Nelson Trigueiro)

14º “E me beija com a boca de hortelã”, de Cotidiano (Chico Buarque)

15º “Impulsos de amor, de amor, três”, de Identificação (Tom Zé)

16º “E dei pra maldizer o nosso lar”, de Atrás da Porta (Francis Hime e Chico Buarque

17º “Deixe em paz meu coração, que ele é um pote até aqui de mágoa”, Gota D’água (Chico Buarque)

18º “É samba que eles querem, nada mais”, de A Ordem é Samba (Jackson do Pandeiro)

19º “A tempo de poder a gente se desvencilhar da gente”, de Todo o Sentimento (Cristóvão Bastos e Chico Buarque)

20º “Quando me roça a nuca e quase me machuca com a barba malfeita”, de O meu Amor (Chico Buarque)

21º “Te recolher pra sempre à escuridão do ventre, curuminha” de Uma Canção Desnaturada (Chico Buarque)

22º “Eu só sei que quando eu a vejo me dá um desejo de morte ou de dor”, de Nervos de Aço (Lupicínio Rodrigues)

23º “Que este já não bate nem apanha", de Socorro (Arnaldo Antunes)

24º “Meu samba vai, diz a ela que o coração não tem cor”, de Preconceito (Wilson Batista)

25º “Que aos poucos descreve um arco e evita atracar no cais”, de Pedaço de Mim (Chico Buarque)

26º “Que se dane o Evangelho e todos os orixás”, de Dueto (Chico Buarque)

27º “É desconcertante rever o grande amor”, de Anos Dourados (Tom Jobim e Chico Buarque)

28º “Sabe lá se está vestida ou se dorme transparente”, de A Noiva da Cidade (Chico Buarque)

29º “Não arranque minha cabeça da sua cortiça”, de Leve (Chico Buarque e Carlinhos Vergueiro)

30º “Por amor, por favor é pra ela voltar, sim” (Vinícius de Moraes e Chico Buarque)

31º “Mas depois de um ano eu não vindo ponha a roupa de domingo e pode me esquecer”, de Acorda Amor (Chico Buarque)

32º “Ser mãe é desdobrar fibra por fibra os corações dos filhos”, de Mamãe, Coragem (Torquato Neto)

33º “Com quantos quilos de medo se faz uma tradição?”, de Senhor Cidadão (Tom Zé)

34º “Deus me ensinou praticar o bem, Deus me deu essa bondade”, de Cuidado com a Outra (Nelson Cavaquinho)

35º “Sei que ela pode ser mil, mas não existe outra igual”, de Ela faz Cinema (Chico Buarque)

36º “Não posso mais, eu quero é viver na orgia”, de Oh! Seu Oscar (Wilson Batista)

37º “Batuque é um privilégio, ninguém aprende samba no colégio”, de Feitio de Oração (Noel Rosa e Vadico)

38° “O meu luto é saudade e saudade não tem cor”, de Silêncio de um Minuto (Noel Rosa)

39º “Ser estrela é bem fácil, sair do Estácio é que é o X do problema”, de O X do Problema (Noel Rosa)

40º “Dispensa essa vadia, eu vou voltar”, de Palavra de Mulher (Chico Buarque)

41° “Mas não vai dizer depois que você não tem vestido, que o jantar não dá pra dois”, de Você Vai se quiser (Noel Rosa)

42º “Minha alma segue aflita e eu me esqueço até do futebol”, de Falando de Amor (Tom Jobim)

43° “Solidão apavora, tudo demorando em ser tão ruim”, de Desde que o Samba é Samba (Caetano Veloso)

44° “Meu Deus do céu, que palpite infeliz”, de Palpite Infeliz (Noel Rosa)

45° “E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto e nenhum no marginal ”, de Haiti(Caetano Veloso)

46º “Certezas e esperanças pra trocar por dores e tristezas que bem sei um dia ainda vão findar”, de Porta Estandarte (Geraldo Vandré)

47º “Isso não acontece”, de Acontece (Cartola)

48º “Deixando espinhos que dilaceram meu coração”, de Não quero mais Amar a ninguém (Cartola)

49° “Meu coração tem mania de amor”, de Foi um Rio que Passou na minha Vida (Paulinho da Viola)

50º “Piririm, piririm, piririm, alguém ligou pra mim”, de Atoladinha (Bola de Fogo – em homenagem a Luiz Cotrim)

Lista sujeita a alteração sem aviso prévio. Ter muito “Chico Buarque” é culpa dele, não minha.

Fonte: Blog do Bruno - http://euqueroumsamba.blogspot.com/

sábado, 17 de maio de 2008

só eu sei...

... como a tua solidão me dói. Talvez porque seja muito semelhante à minha. Muito mais do que imaginas.

VI

Nada de mergulhos. É na superfície
que o real, minúsculo plâncton, se trai.
Sentidos, sentimentos e outros moluscos

não passam pela finíssima peneira
do funcional. E o sofrimento, ai,
nefando pingüim de louça

sobre o que deveria ser, na quiti-
nete do eu, uma austera geladeira...

Que ninguém nos ouça: guarda esse escafandro,
meu filho. Só o raso é cool. A dor é Kitsch.

Paulo Henriques Britto

o que pode um simples coração

QUEREIS MUITO

quereis a palavra certa
na hora certa.
não apenas o metro correto,
a frase bem feita.
quereis o sangue,
a alma do poeta,
a vida curta a galopar
gargantas

— como se não custasse esforço
fingir que fingimos—

quereis a vida,
a árvore da vida.
não apenas o trajeto reto,
geometria exata.
quereis elipses, parábolas,
o sabor mais íntimo
a perpassar vocábulos.

— como se cada letra
não fosse gota derramada —

quereis o que não sei
se posso dar.
o segredo do olhar,
o frio que me corta a pele
antes que a palavra
se esfacele e arda
na fina folha
de cada momento.

— como se cada volta da caneta
não fosse hesitação —

quereis muito, senhores,
muito.
mais do que pode
a mão que escreve o poema.
mais do que pode
um simples coração.

Silvia Chueire
In Por Favor, um Blues
Ed. Cosmorama, Porto, Portugal, 2005.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

a semana do abraço

Não importa se você conheceu outro dia ou se passou a infância toda ao lado da pessoa. Quando se tem afinidade, quando o sate bate, como se diz, a cumplicidade é imediata e a necessidade de rir junto e dividir as coisas também. E eu pude ter essa sensação danada de boa esta semana, em 2 momentos pra lá de especiais, repletos de muito afeto, energia boa, conversas ótimas e intermináveis. Só confirmando: estou virando PhD na arte de escolher os amigos, as pessoas que quero ao meu lado. Adorei, estou mega feliz. E só posso dizer obrigada, sempre.

AFINIDADE*
Arthur da Távola

Não é o mais brilhante,
mas é o mais sutil,
delicado e penetrante dos sentimentos.
Não importa o tempo, a ausência,
os adiantamentos, a distância,
as impossibilidades.

Quando há AFINIDADE,
qualquer reencontro retoma a relação,
o diálogo, a conversa, o afeto,
no exato ponto de onde foi interrompido.

AFINIDADE
é não haver tempo
mediante a vida.
É a vitória do adivinhado sobre o real,
do subjetivo sobre o objetivo,
do permanente sobre o passageiro,
do básico sobre o superficial.

Ter AFINIDADE é muito raro,
mas quando ela existe,
não precisa de códigos
verbais para se manifestar.
Ela existia antes do conhecimento,
irradia durante e permanece depois que as
pessoas deixam de estar juntas.

* Texto retirado do blog http://www.macabeamacabea.blogger.com.br/ - cuja dona é uma das pessoas especiais do texto lá de cima. :-)

quinta-feira, 15 de maio de 2008

a verdade das coisas

É, eu acho que há mesmo um mistério em cada fato. Um mistério que confere a cada fato urgência e delicadeza, ainda que cada fato por si mesmo não seja mais do que um fiapo de nuvem, um fiapo de nuvem que se junta a outro fiapo de nuvem e mais outro e vai traçando no ar um desenho que, de um momento para outro, de ovelha pode tornar-se a cara do seu avô ou um coro de anjos dançando no céu. Essa plasticidade da vida é o fundamento positivíssimo dessa desimportância de todos os fatos: tudo sempre pode ser de outro modo. É ela que oferece o solo fértil para a vontade, do ato mais simples ao milagre. Para que amanhã você acorde e diga: "Não mais!".

Cada fato se abre para uma infinidade de outros fatos possíveis como um fruto carrega dentro de si uma infinidade de sementes e cada uma delas uma árvore capaz de produzir uma infinidade de outros frutos e assim infindavelmente. Por isso, exatamente por isso, haverá sempre sentido em tudo. Um sentido que, quanto mais atenção dermos ao fato, mais profundo e singular ele nos parecerá.

É como esses mapas que a gente encontra na internet: você começa focando o planeta, depois o continente, o país, o estado, a cidade, o bairro, o prédio e finalmente uma janela em particular que em ninguém mais haverá de provocar sorrisos e suspiros senão em mim. Repare: minha imaginação nada acrescenta ao sentido dessa janela, tão igual a todas as outras do prédio. É meu amor que alcança o sentido singular dela que, na verdade, nada tem de subjetivo. Pois, mesmo que outros duvidem das qualidades que atribuo a sua moradora, quem poderá dizer tê-la conhecido tão de perto? Quem pode então me desmentir?

Portanto, não é a imaginação que cria o sentido; é o amor que o descobre. Não criamos sentido, apenas nos dedicamos a encontrá-lo. O sentido das coisas está nas coisas e nenhum outro aparato - intelectual ou mecânico - é necessário para encontrá-lo além dessa "atenção dedicada" que bem podemos chamar de amor. Isso não significa que não possamos nos enganar. Muito mais vezes do que gostaríamos, o desejo nos cega e então deixamos de ver o que é e passamos a ver o que desejamos que fosse. Sim, não são os fatos que nos enganam. Somos nós mesmos que nos deixamos enganar - por arrogância, comodidade, fraqueza... Sim, só os erros são genuinamente nossos. A verdade pertence às coisas e nelas repousa mansamente à espera de nosso olhar mais amoroso.

Belo texto, de autoria do cronista carioca Antonio Caetano e encontrado aqui: http://www.cafeimpresso.com.br/ - Muito bom, vale uma visita!

quarta-feira, 14 de maio de 2008

notícias do mundo de cá

E a vida continua repleta de muitos trabalhos, afetos e alegrias. Mesmo tendo perdido um casaco lindo que eu amava, mesmo o apartamento que eu queria comprar tendo sido vendido, mesmo não sendo chamada para a entrevista na Folha, mesmo estando atolada de trabalho até o pescoço... mesmo assim tem uma pontinha aguda de felicidade aqui, o que eu posso fazer?

Sem motivo especial, e eu acho que é assim mesmo que tem de ser. No meio de tudo isso, os eventos culturais continuam pipocando na cidade, e eu, diferente de outros meses que simplesmente esqueci da vida social e fiquei trancada em casa, desta vez fiz a "caça" logo no começo do mês, e assim me programei para algumas das coisas bacanas que acontecem na Capital.

Na sexta passada teve um sarau lindo na Casa das Rosas, organizado pela querida Fernanda de Almeida Prado, com poesia e música da melhor qualidade. Adorei e pretendo ir nos próximos. Ontem, dia 13, teve gravação ao vivo na Livraria Cultura do programa do psicoterapeuta Flavio Gikovate, veiculado na Rádio CBN. Muito bom ouvir as histórias nada simples de relacionamentos das pessoas - e perceber que as minhas acabam beirando a sessão da tarde de tão singelas. Ok, não é tanto assim. Quase isso. rs

Eu gosto de ficar em casa, curtir meus livros, filmes e músicas. Curtir minha casa e meus pensamentos. Mas reconheço que o mundinho lá fora, mesmo com o ar gelado que anda fazendo em SP, é beem mais divertido.

Para quem se anima com a idéia dos eventos culturais gratuitos em Sampa, fica a dica: percorra os sites das livrarias. A Cultura, Martins Fontes e Fnac sempre têm programinhas interessantes na grade. A Casa do Saber, Casa das Rosas e a Rato de Livraria também são ótimas pedidas. Fora os blogs que trazem novidades (leio sempre o do Marcelino Freire).

E este final de semana tem Virada Cultural em Santos. Estarei lá. E em julho tem a FLIP, em Parati, com escritores badalados, debates e muita gente bacana reunida, para ouvir e falar sobre cinema e literatura. Quero tanto tanto ir! Vou pensar no assunto. Se alguém quiser embarcar junto, vamoembora. ;-)

segunda-feira, 12 de maio de 2008

seria cômico se não fosse trágico

Se o post anterior foi viagem ou não de minha doida cabecinha eu não sei. As dúvidas persistem. Mas uma coisa é certa: parei de julgar as pessoas. Quem sou eu para julgar este ou aquele comportamento? Tenho lá minhas recaídas e desvios de rota, e não são poucos. rs

Mas esse aqui é real, muito real, está no zap.com.br/empregos, empresa dos jornais Estadão e O Globo:

JORNALISTA e Enfermeira. Mãe pede oportunidade de trabalho, para filhas maravilhosas recém-formadas. Tratar Tel.: 7838-XXXX.

Achei engraçado... Será que alguém vai se sensibilizar e dar um emprego às filhas da mãe (rs)? Agora falando sério, é triste ver uma mãe -desesperada, suponho- fazer um anúncio desses, não!? Afe. Tinha que ter uma jornalista no meio. Eita povo que não sabe se promover, nem ganhar dinheiro. Falo por mim também, claro, que a coisa tá feia por aqui, financeiramente falando. rs

sábado, 10 de maio de 2008

mais uma vez, eu sei

E não é que do lado de lá, num reino tão tão distante, local agradável cercado por bosques e parques, tem início mais uma história de amor? O público assiste e pede novos personagens e poemas - com versos inéditos, por favor. Algumas gírias, palavras, poetas e músicas já foram utilizados exaustivamente na última temporada. Busquemos novos ares, novas fontes e novos meios de exprimir os sentimentos.

Vamos que vamos, que a fila anda, a vida grita e a luta continua. Aqui tb tem coisa nova nascendo - eu só preciso deixar que isso aconteça. Preciso querer e permitir. Parece fácil, diante de proposta tão tentadora. Não é.

Concluo com ele, "o cara":

"Sou a favor de qualquer coisa que soe a: uma tentativa."

"Que seja doce, que seja doce, que seja doce. Sete vezes que é pra dar sorte."

"Quando um desses rapazes e uma dessas moças ou qualquer outro tipo de pessoa, e são tantos quantas pessoas existem no mundo, encontram-se de repente e por alguma razão, sexual ou não, pouco importa se por alguns minutos ou para sempre, tanto faz, por alguma razão essas pessoas não querem se separar."

Tudo dele: Caio Fernando Abreu

quinta-feira, 8 de maio de 2008

sob a pele macia a carne dura

Diretamente da blogesfera, um poeminha dos bons:

estar às cegas sobre as setas do caminho
buscar a certeza de não saber distingüir
o indistingüível

flutuar
não submergir
deixar voar
o que nunca pertenceu à terra

não reter a alma

deixá-la escapar
para o mar revolto das incertezas
e das vontades

não dançar sob o céu à espera de deuses
não dizer uma só palavra que os reconheça

se ater aos papéis e aos seus conteúdos
ao verde das notas e investimentos

superar quantias insuspeitáveis
devorar o pão miserável que os banqueiros
entornam
nas cestas de lixos
dos vieses dos navios

atrelar ao bem querer alguma usura
buscar sob a pele macia
a carne dura

esfolar
trocar de pele

aventar possibilidade de retorno
ao estado ameríndio do self

e plantar plantar plantar esperanças
depois vendê-las empacotadas
pelo preço mais alto do mercado

nunca seguir o rio em sua trajetória até o mar
mas apagar a possibilidade das trajetórias
em nome da estática mão à palmatória sem linhas
à espera da grafia da sabedoria

Posted by Ana Peluso - tirado daqui: http://poesfera.wordpress.com/

quarta-feira, 7 de maio de 2008

bossa nueva, 50 anos

Eu, você e todo mundo que gosta de bossa nova tem muitos motivos para dar pulinhos de felicidade. Em 2008 se comemora 50 anos do estilo - iniciado por um grupo formado por Carlos Lyra, Miucha, Tom Jobim, Vinícius e tantos outros e liderado pelo mestre João Gilberto, que inovou com seu cantar quase falado, meio baixinho, e seu jeito novo de tocar violão.

Por isso é bom ficar atento às coisinhas bacanas que estão pintando por aí - shows, exposições e especiais na internet, rádio e TV.

Amei esses 2:

Bossa 50 - Rádio Eldorado
Bossa nova, 50 anos - jornal O Estado de S. Paulo

A música Chega de Saudade é considerada a primeira do movimento, lançada por João Gilberto em 1958. Mas não vamos falar nessa palavrinha doída e cruel. Deixa a saudade pra lá. Vamos de Samba da Benção, clássico da bossa nova, com uma versão linda e poética de Stacey Kent, americana que canta bossa nova -estilo genuinamente brasileiro- em francês. Isso que é globalização, o resto é conversa. Aprecie, é muito bom:
http://www.youtube.com/watch?v=eHeR50NQctE

as nuvens também conspiram, cuidado!

APCA premia os maiores talentos da arte brasileira em 2007
Camila Molina, de O Estado de S. Paulo

Escritora Lygia Fagundes Telles vence na categoria livro de memórias com 'Conspiração de Nuvens'

Quando a escritora Lygia Fagundes Telles subiu ao palco do Teatro Sérgio Cardoso para receber o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA) de 2007 na categoria livro de memórias pela obra Conspiração de Nuvens, protagonizou um dos momentos mais emocionantes da cerimônia. Aplaudida de pé, 'a grande dama da literatura', aos 85 anos, disse que 'as nuvens também conspiram, cuidado!' assim como 'outros amigos' para ela poder ser 'lembrada pela segunda vez pela associação', que já a havia premiado anteriormente pelo livro As Meninas. A escritora finalizou seu agradecimento na noite de segunda, 5, citando versos de Castro Alves: 'Bendito o que semeia/Livros... livros à mão cheia.../E manda o povo pensar!'

Outra dama aplaudida de pé foi Bibi Ferreira, que recebeu o Grande Prêmio da Crítica de Teatro por sua carreira. 'O Teatro é todo entrelaçado, vejo aqui na platéia muitos com quem trabalhei e muitos outros que vou ainda trabalhar. Este prêmio é mais um incentivo', afirmou Bibi, 'alegre, bem-disposta e sempre grata'. Ela ofereceu seu troféu ao colega Paulo Autran, morto no ano passado.

A cerimônia de entrega dos prêmios da APCA para os melhores de 2007 em nove categorias - Artes Visuais, Cinema, Dança, Literatura, Música Popular, Rádio, Teatro, Teatro Infantil e Televisão (Música Erudita não teve quórum de críticos) - teve como mestres de cerimônia a escritora e apresentadora Fernanda Young e o ator Marcelo Serrado, ambos premiados nessa edição - ela pelo programa Irritando Fernanda Young, exibido no GNT, e ele por seus trabalhos na novela Vidas Opostas, da Record, e na série Mandrake, da HBO. Todos os premiados, já anunciados no fim do ano passado, receberam troféu criado pelo escultor Francisco Brennand. 'Gafes, estamos contando com essa parte', brincou a apresentadora.

'Se a festa ficar muito comprida, isso pode me irritar bastante. Por isso vamos começar logo', continuou Fernanda, fazendo menção ao mote do seu programa televisivo - outra brincadeira sua foi dizer que ainda espera ser premiada em literatura.

A primeira categoria a ser apresentada foi a de artes visuais, que contemplou, as mostras Cinéticos (Instituto Tomie Ohtake); Vieira da Silva (MAM-SP); Kurt Schwitters (Pinacoteca); Marc Ferrez (Instituto Moreira Salles); o artista Guto Lacaz por sua obra gráfica; o fotógrafo Vicente de Mello; e a Fundação Ema Gordon Klabin. Os prêmios de literatura vieram logo em seguida. Além da passagem de Lygia Fagundes Telles, Chacal, premiado por seu livro de poesias Belvedere, disse que 'a carreira de poeta está em extinção' em seu agradecimento rápido, tal como foram os dos outros premiados.

A categoria teatro infantil, 'arte que não é brincadeira', como disse Serrado, comemorou seu reconhecimento em várias premiações na noite. 'É um teatro que não deixa a dever ao adulto hoje. Temos várias conquistas, inclusive, de público ávido', afirmou Joana Albuquerque, da Bendida Trupe, que recebeu o troféu de melhor espetáculo por O Tesouro do Balacobaco. Dança veio depois, com seus premiados e uma canjinha da dupla de bailarinos e coreógrafos Ângelo Madureira e Ana Catarina Vieira, que ganharam o troféu por seu percurso de pesquisa e apresentaram na festa trecho de seu espetáculo O Clandestino.

O teatro adulto é área nobre e contemplou o espetáculo My Fair Lady, o projeto Satyrianas, o ator Guilherme Weber, a atriz Renata Zhaneta, o autor Fauzi Arap por Chorinho (ele não esteve presente) e o diretor Gabriel Villela pela direção de Salmo 91. 'Como diz o Pascoal da Conceição (ator da peça), só a arte é mais excitante que o crime', disse Villela em seu agradecimento. Logo em seguida veio a categoria rádio, com três premiações para a Rádio Eldorado.

Música, cinema, televisão

Para o final ficaram as categorias de Música Popular, Cinema e Televisão. São as que reúnem as celebridades, principalmente, dessa vez, Selton Mello, premiado por sua atuação no filme O Cheiro do Ralo, Wagner Moura por seu vilão Olavo em Paraíso Tropical e Camila Pitanga por sua Bebel na mesma novela.

Em MPB, Fernanda Takai recebeu prêmio pelo disco Onde Brilhem os Olhos Seus. 'Essa obra faz lembrar uma artista importante, inteligente e delicada, a Nara Leão.' A cantora Marina de La Riva, prêmio revelação, agradeceu a APCA 'por entender que mereço' e foi sentida a falta de Paulinho da Viola, o melhor cantor.

Em cinema, Tropa de Elite (premiado em Berlim), recebeu por montagem (Daniel Rezende) e pela direção de José Padilha, que não esteve presente assim como Eduardo Coutinho, premiado agora por Jogo de Cena. Walter Carvalho, que recebeu o troféu pela fotografia de Baixio das Bestas, de Claudio Assis, dedicou seu prêmio ao diretor Beto Brandt (entre os premiados da noite pelo roteiro de Cão Sem Dono). Já a premiação de televisão se tornou uma espécie de manifesto contra a 'aldeia global' nos discursos dos premiados que fazem parte do time da rede Record.

Publicado no jornal de O Estado de S. Paulo em 6 de maio de 2008.

how it works

"Morto de sede, e com a faca da nostalgia do longe cravada fundo no peito. Às vezes dói, mas logo passa também."

Caio Fernando Abreu

segunda-feira, 5 de maio de 2008

se hace camino al andar

Quando se quer algo na vida, é fundamental lutar por isso, ir até o fim. Mas como é possível seguir uma única rota quando ainda tenho tanto a aprender?

"Não era à toa que ela entendia os que buscavam caminho. Como buscava arduamente o seu! E como hoje buscava com sofreguidão e aspereza o seu melhor modo de ser, o seu atalho, já que não ousava mais falar em caminho. Agarrava-se ferozmente à procura de um modo de andar, de um passo certo. Mas o atalho com sombras refrescantes e reflexo de luz entre as árvores, o atalho onde ela fosse finalmente ela, isso só em certo momento indeterminado da prece ela sentira. Mas também sabia de uma coisa: quando estivesse mais pronta, passaria de si para os outros, o seu caminho era os outros. Quando pudesse sentir plenamente o outro estaria a salvo e pensaria: eis o meu porto de chegada. Mas antes precisava tocar em si própria, antes precisava tocar no mundo."

(Clarice Lispector, Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres)

Fotinho tirada por moi, na estrada Santos-SP, em 04/05/2008.

pipoca e guaraná, um programa legal

Fizeram toda a diferença no feriado prolongado:

- Orgulho e Preconceito, Inglaterra/ França/ EUA, 2005
- O Tango de Rashevski, Bélgica/ Luxemburgo/ França, 2003
- O Amor em 5 Tempos, França, 2004

Muito, muito bons. Sem cabeça para falar sobre (veja a hora, bem!) mas se meu conselho vale alguma coisa, alugue, os 3 valem muito a pena. Assisti tb Viagem a Darjeeling, mas não gostei tanto assim. Dormi no meio. Tem umas tiradas ótimas, ok, mas tb é lento demais. E eu achei o mesmo estilão de Os Excêntricos Tenembaus, mas ainda assim menos bacana que este, que é muito legal. Os mesmos atores, o mesmo diretor, o mesmo ritmo... Muito mais do mesmo, saca? Não curti.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

descuidou, já sabe

Tentando entender o quanto de acaso e de sorte existe nesta nossa vidinha banal de cada dia...

Corridinho

O amor quer abraçar e não pode.

A multidão em volta,
com seus olhos cediços,
põe caco de vidro no muro
para o amor desistir.

O amor usa o correio,
o correio trapaceia,
a carta não chega,
o amor fica sem saber se é ou não é.

O amor pega o cavalo,
desembarca do trem,
chega na porta cansado
de tanto caminhar a pé.

Fala a palavra açucena,
pede água, bebe café,
dorme na sua presença,
chupa bala de hortelã.

Tudo manha, truque, engenho:
é descuidar, o amor te pega,
te come, te molha todo.

Mas água o amor não é.

Adélia Prado