sábado, 24 de dezembro de 2011

por hoje, amanhã e depois.

Linda a mensagem de natal do escritor walter hugo mãe (assim mesmo, com minúsculas):

"o natal é um pretexto para a reunião mais efectiva da família e dos amigos. neste sentido, desejo que todos tenham o melhor dos natais, porque nos afectos só há crise se deixarmos de gostar. porque gostar é verdadeiramente a festa. que tenham uma grande festa e se sintam, assim, felizes. bom natal a todos."

Não preciso dizer mais nada. Só sentir forte e desejar as melhores coisas àqueles que amo, os  que estão longe e, principalmente, os de perto.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Poema para gatos

Jorge, o gato que me ensinou a amar os felinos  

Silêncio,
eis a tarefa de todos os gatos.
Poucos sabem perscrutar
(talvez ninguém em plenitude)
o grau de solidão necessária
ao saber auto suficiente
para ser felino e doméstico
em sua tarefa de monge guardião do
inextricável
em quem o homem não percebe
a metafísica natural,
recolhimento saber
sensualidade e aceitação.

(Artur da Távola)

sobram-me coisas dentro mas faltam-me palavras.


Incrivelmente familiar:

"São quase oito e tu à minha espera. O trânsito, a chuva… Mas tu já sabes, sempre o trânsito, sempre a chuva, ou um acidente, ou uma reunião, e tu já sabes, sempre eu, sou sempre eu e tu à minha espera.

Hoje quis que fosse diferente, lembrei-me mais de ti, abri a carteira e olhei para a tua fotografia, a que tirei quando estávamos a ser felizes longe. Onde era? Maldivas, ou Canárias, ou na República Dominicana, já nem sei, éramos tão novos e tu tão linda, tão minha e tão linda eras. Ainda és, sou eu que me atraso porque embruteci, porque me esqueço, sei lá eu porque é.

Dez anos, são só dez anos, já dez anos. Não te sei pesar em tempo. Quantos anos tem um sinal na nossa pele? Ou um dente torto, ou um calo nos dedos que tocamos quando estamos nervosos e nada mais sabemos fazer?

 Não há idade para o que somos, talvez nos tenhamos tornado um lugar, como um jardim, ou um quarto que tem o nosso cheiro, ou o berço onde dorme o que inventámos ou a cama onde nós dormimos e às vezes nem dormimos.

Mudo a estação e troco as notícias por músicas de amor. Dez anos e ainda me fazes isto, mesmo atrasado, mesmo careca e bruto do tempo. Chove muito e o carro parado numa fila.

Talvez abra a janela e vá a nadar até ti, talvez me chames tonto e digas que nem as penso, nadar na chuva numa noite assim… Depois rio-me e dou-te beijos para que me perdoes e te esqueças do atraso, para que te esqueças de muitas coisas.

Tenho uma garrafa guardada para nós, de um ano único, um ano que guardei para nós. É um vinho doce e delicado, de tempo poisado.

Conheço todos os teus sabores, a menina que foste, a rapariga louca e destemida que tu eras como eu não era, a mulher mãe de agora. Não te devia guardar para noites assim, mas sou tonto, tenho medo que vás e não entendo que quanto mais te beba mais há para beber.

Perdoa o atraso, perdoa-me a chuva, a noite, o tempo.

Faltam-me palavras, sobram-me coisas dentro mas faltam-me palavras. O cantor da rádio di-las por mim, fala de amor, de arrependimento, de erros. Queria cantar para ti assim, que me ouvisses sem me olhares, para entenderes melhor, como eu entendo as canções porque não as vejo e só a chuva, os faróis vermelhos e a hora no relógio.

Vou abrir o vinho e vais dizer que é bom. Tu que nem ligas, que nem bebes, vais sorrir. E eu devia abrir-me a mim, dizer que envelheci por ti para que me abrisses e te pudesse falar com as palavras mais finas, as mais maduras, as que faltam.

Agora avanço um pouco, vou chegando a passo de homem. Em que pensas tu? Que nomes me chamas? Que paciência a tua quando eu não estou e tu conversas com a menina? O papá atrasou-se outra vez, o papá esqueceu-se da gente, bebé, porque tem muitas coisas na cabeça, e um dia vai atrasar-se tanto que já ninguém espera por ele, não é, bebé?
Que cabeça a minha, não nadar na chuva numa noite assim.

És chão em que assento, penso e não te digo. Se um dia me faltas caio logo ali, sem lugar para pôr os pés ou a mim. Morreu por falta de chão, dirão os amigos, um homem a cair por todo o lado.

Hoje vou beijar-te mais e melhor, dizer-te estas coisas, contar os trezentos e sessenta e cinco dias multiplicados por dez e por nós. Às horas bissextas escondo-as numa caixinha, para quando formos velhos e nos faltar o tempo. Ato-lhes um laço vermelho e dou-tas de presente. Toma as minhas horas, trata delas porque eu não sei.

Diz à menina que eu estou a chegar. Diz à menina que tens nas mãos e no peito que eu estou mesmo a chegar.

Já não chove, uma música sem palavras agora, apetece-me cantar mas não sei como. Que ouvisses a mesma rádio e a mesma música com as minhas palavras por cima. Não te esqueças de mim, por favor, não te esqueças de mim."

(Nuno Camarneiro, no blog Acordar um Dia)

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

o saldo é positivo.

2011. Ano que começou confuso, sem rumo nem direção. Mas, aos poucos, o céu foi clareando, indicando um caminho bom. E não é que hoje, ao rever o drama meio Fellini meio Almodóvar que foi 2011, percebo que o saldo é muito positivo?  


"Errei amores. Errei certezas. Errei palavras. Errei caminhos. Errei aos montes. Erros diários, míseros, imperceptíveis. Erros inofensivos, que machucaram a mim, mais ninguém. Mas não errei nos sorrisos que dei, em tudo que perdoei, no que fiz por mim e no que doei aos outros. E definitivamente não errei na dose de sonhos e nem nas delicadezas."
Van Luchiari
Teve muita coisa chata e alguns momentos tristes, mas ahh, a quantidade de coisas boas é infinitamente superior... Foi o ano que, de volta às raízes caiçaras, eu mais fiz programinhas culturais inesquecíveis na capital. Deve ser aquele chavão besta de dar valor ao que se tem, aproveitar intensamente e blá blá blá. Sim, foram shows (Maria Bethânia, Teatro Mágico, Chicas, Zélia Duncan, Jeneci, Bruna Caram), alguns museus, peças também, além de encontros amigos, pessoas queridas y más, mucho más.

Dá pra reclamar? Claro que não. Sairei de 2011 feliz e animadinha e levarei flores, muitas flores. Sim, eu estava lá, bem pertinho do palco. :-)

(sem título)

O prêmio literário da Fundação Biblioteca Nacional foi para um ilustre desconhecido: Daniel Lima, de 95 anos, de Pernambuco. Viva! :-)

Abaixo, um poema dele:

(sem título)

Nada será jogado no vazio.
Nem mesmo o vazio da vida, porque é vida.
Nem mesmo o gesto inútil, pois-que é gesto.
Nem mesmo o que não chegou a realizar-se, pois-que é possível.
Nem mesmo ainda o que jamais se realizará, porque é promessa.
E o próprio impossível é vontade absurda de existir. E nisso existe.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Coração Couraça

Porque te tenho e não
porque te penso
porque a noite está de olhos abertos
porque a noite passa e digo amor
porque vieste recolher tua imagem
e és melhor que todas tuas imagens
porque és linda do pé até a alma
porque és boa da alma para mim
porque te escondes doce no orgulho
pequena e doce
coração couraça
porque és minha
porque não és minha
porque te olho e morro
e pior que morro
se não te olho amor
se não te olho
porque tu sempre existes em qualquer parte
mas existes melhor onde te quero
porque tua boca é sangue
e tens frio
tenho que amar-te amor
tenho que amar-te
embora esta ferida doa como duas
embora te busque e não te encontre
e embora
a noite passe e eu te tenha
e não.

(Mario Benedetti)

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

dezembro....

Para trazer muitos dias ensolarados, amigos queridos, viagens, momentos felizes, paz no coração... nada melhor que começar o mês com uma musiquinha.

Essa é das boas: