quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

a procura da felicidade

Existe coisa mais linda que uma criança fofa e bem educada? E quando faz perguntas intrigantes então? Apaixonante.

Dia desses eu vi o filme "À procura da felicidade" e me encantei com o guri que faz o filho do Will Smith, Jaden Smith. O garoto é muito fofo, dá até vontade de ter um... :)

O filme conta a história de um cara que tem um sonho e faz de tudo para ir de encontro aos seus objetivos. Lindo e sensível. Só me preocupou o fato de que o filme liga a conquista de um bom emprego com a tão sonhada felicidade, o que eu acho perigoso. Pode ser que sim, com um ótimo emprego e dinheiro no banco ele seja mais feliz. Mas infelizmente não é só isso. A gente sabe que o conceito é muito mais amplo, né?!

Well, taí uma boa dica para o feriado de Carnaval. A listinha ao lado, de filmes bacanas, amentou um pouco nos últimos dias. Em breve eu falo dos demais (Paris, Texas; Elsa & Fred e Little Miss Sunshine). Todos nota 10.

Este post é em homenagem a mãe mais querida e mais coruja do pedaço, a amiga e poeta Luciana, que hoje deu a luz ao já muito amado Gabriel. Todas as bençãos e alegrias para os 2. :)

perca algo a cada dia

Uma arte

A arte de perder não tarda aprender;
tantas coisas parecem feitas com o molde
da perda que o perdê-las não traz desastre.

Perca algo a cada dia. Aceita o susto
de perder chaves, e a hora passada embalde.
A arte de perder não tarda aprender.

Pratica perder mais rápido mil coisas mais:
lugares, nomes, onde pensaste de férias
ir. Nenhuma perda trará desastre.

Perdi o relógio de minha mãe. A última,
ou a penúltima, de minhas casas queridas
foi-se. Não tarda aprender, a arte de perder.

Perdi duas cidades, eram deliciosas. E,
pior, alguns reinos que tive, dois rios, um continente.
Sinto sua falta, nenhum desastre.

- Mesmo perder-te a ti (a voz que ria, um ente amado),
mentir não posso. É evidente:
a arte de perder muito não tarda aprender,
embora a perda - escreva tudo! - lembre desastre.

Elizabeth Bishop
(tradução Horácio Costa)

Tentando entender o porque de tanto desastre. Se mais do que tudo, a pessoa tinha o molde da perda. Se eu sabia que teria um fim precoce, quase prematuro, pq sofrer tanto? Afe, ninguém aguenta mais isso. Quer saber? Nem eu. :-/

o coração continua. e isso basta.

Drummond, mais uma vez, aparece com um poeminha lindo e necessário:

CONSOLO NA PRAIA

Vamos, não chores...
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.
O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.
Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis casa, navio, terra.
Mas tens um cão.
Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?
A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.

Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho.

Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

sobre destinos cruzados e amores impossíveis

A vida não é uma comédia romântica

Homem e mulher se conhecem numa sala de espera de médico. Ela grávida, ele esperando a mulher, que consulta com o médico. Ele oferece a "Caras" que estava folhando:
— Quer dar uma olhada?
Ela:
— Acho que essa eu já vi. É nova?
Ele, depois de consultar a data da revista:
— Bom, é deste século...
Os dois riem. E se apaixonam. Dessas coisas. Destino, química... Quem explica essas coisas? Se apaixonam, pronto. Mas não caem nos braços um do outro.
Mesmo porque a barriga dela, de sete meses, não permitiria. Ficam apenas se olhando, atônitos com o que aconteceu. Pois junto com o amor súbito vem a certeza da sua impossibilidade. Como uma ferida fazendo casca em segundos. E como nenhum dos dois é um monstro de frivolidade, e como a vida não é uma comédia romântica, é uma coisa muito séria, e como eles não podem largar tudo e fugir, trocam informações rápidas, para pelo menos ter mais o que lembrar quando lembrarem aquele momento sem nenhum futuro, aquela quase loucura. Sim, é o primeiro filho dela. Menino. E a mulher dele? Está consultando o médico porque a gestação complicou, o parto talvez precise ser prematuro.
Também é o primeiro filho deles. Filha. Menina. Que mais? Que mais? Não há tempo para biografias completas. Gostos, endereços, telefones, nada. A mulher dele sai do consultório. Ele tem que ir embora. Dá um jeito de voltar sozinho e perguntar o nome dela. Maria Alice. E o dele? Rogério! Rogério! E sai correndo, para nunca mais se encontrarem. Mas se encontram. Três anos depois, na sala de espera de um pediatra.
Ela chega com uma criança no colo. Ele está lendo uma revista. Talvez a mesma "Caras". Os dois se reconhecem instantaneamente. Ele pega a mãozinha da criança. Pergunta o nome. É João Carlos. Caquinho.
— Ele está com algum...
— Não, não. Consulta normal. Ele é saudável até demais. Hiperativo. E a de vocês? O parto, afinal...
— Foi bem, foi bem. Ela está ótima. Se chama Gabriela. Só veio fazer um checape. Eu não posso ficar lá dentro porque fico nervoso.
E declara que não houve dia em que não pensasse nela, e no que poderia ter sido se tivessem saído juntos daquele consultório, anos atrás, e seguido seus instintos, e feito aquela loucura. E ela confessa que também pensou muito nele e no que poderia ter sido. E ele está prestes a pedir um telefone, um endereço, um sobrenome para procurar no guia, quando a mulher sai do consultório com a filha deles no colo e ele precisa ir atrás, e só o que consegue é um olhar de despedida, um triste olhar de nunca mais.
Mas se encontram outra vez. Dois anos depois, na sala de espera de um pronto-socorro. Ele com a mulher, ela com o marido. Ele leva um susto ao vê-la. O que houve? É o Caquinho. O cretino conseguiu prender a língua numa lata de Coca. Ele se emociona. A mulher dele não entende.
De onde o marido conhece aquele Caquinho? E aquela mulher, que está perguntando se aconteceu alguma coisa com a Gabriela? Não foi nada, Gabriela só bateu com a cabeça na borda da piscina e está levando alguns pontos. E nem a mulher dele nem o marido dela entendem por que, ao chegar a notícia de que o Caquinho só ficará com a língua um pouco inchada, os dois se abraçam daquela maneira, tão comovidos. Depois, em casa, ele se explica:
— Solidariedade humana, pô.
A história não precisa terminar aí. Rogério e Maria Alice podem continuar se encontrando, de tempos em tempos, em salas de espera (dentistas, traumatologistas, psicólogos especializados em problemas de adolescentes etc.) até um dia ela sair do quarto de hospital onde está o Caquinho, que teve um acidente de ultraleve, e avistá-lo na sala de espera da maternidade, e perguntar:
— A Gabriela está tendo bebê?
E ele fazer que sim com a cabeça, com cara de "para onde foram as nossas vidas"?

Luiz Fernando Veríssimo

O texto é grande, mas se resume nisso aqui: "(...) Pois junto com o amor súbito vem a certeza da sua impossibilidade. Como uma ferida fazendo casca em segundos. E como nenhum dos dois é um monstro de frivolidade, e como a vida não é uma comédia romântica, é uma coisa muito séria, e como eles não podem largar tudo e fugir, trocam informações rápidas, para pelo menos ter mais o que lembrar quando lembrarem aquele momento sem nenhum futuro, aquela quase loucura".

uma guerreira notável. ui.

Quem disse que orkut não traz conhecimento? Eu sou a prova viva que sim, e além disso, trouxe amigos e amores também. Mas vamos pular esta parte, interessante o que eu descobri sobre o meu nome, na comunidade Mitologia Grega do orkut:

"Camila faz parte da mitologia romana. Foi oferecida desde cedo por seu pai Métabus a deusa Diana, quando fugia de inimigos e ofertou sua filha as margens do rio Amazenas. Os dois conseguiram escapar e foram viver no meio de pastores e alguns camponeses. Desde cedo, Camila aprendeu a manejar armas, e tornou-se uma guerreira notável, a ponto de tornar-se líder de um grupo de amazonas, que se juntaram a Turno, na guerra entre este e Enéias, o troiano que fugiu e fundou o que mais tarde viria a ser a cidade de Roma. Muitos se espantavam ao ver a destreza de Camila no combate, a ponto de, ao correr sobre as águas não afundar e andar sobre os trigais sem os amassá-los. Até mesmo a grama pisada por Camila continuava intacta após sua passagem. Camila, assim como Pentesiléia, rainha amazona que se aliou aos troianos na Guerra de Tróia e foi morta por Aquiles, Camila achou seu fim na guerra, enquanto perseguia um inimigo, foi atingida por uma flecha lançada por Aruno, um jovem guerreiro que há muito tempo a observava. Aruno, no entanto foi morto logo em seguida, vítima de uma seta lançada por uma das ninfas que se dedicavam ao culto à Diana, que tudo acompanhou."

domingo, 27 de janeiro de 2008

quase isso

"Uma mulher que se deita entre solidão e flores
que se cobre de pássaros e luz
e dorme entre imagens e cegos espelhos."

Maria João Cantinho, escritora e poeta portuguesa

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

25/01: comemore!

Programinhas interessantes (e baratésimos) para comemorar o aniversário da cidade... Em um passado não tão recente (2005), eu fiz roteiro semelhante e tive um dia absurdamente feliz.

Para ficar mais perto do céu:
A 160 m de altura, a torre do edifício Altino Arantes, inaugurado em 1947, está aberta para a visitação. É possível ver a serra do Mar, o pico do Jaraguá e outros pontos turísticos da cidade. Para comemorar o aniversário de São Paulo, também está em cartaz a exposição EveryBares, que faz referência à vida noturna da capital e traz 44 bonecos em tamanho natural, representando personagens de um típico bar paulistano: boêmios, garçons, casais felizes e mesas lotadas.
Edifício Altino Arantes - r. João Brícola, 24, região central, tel. 3249-7466. Até 7/2. Seg. a dom.: 10h às 17h.

Para fazer a Amélie e enfiar a mão num saco de cereal, para ver a diversidade de frutas, especiarias e condimentos que existe por aí, para matar a fome com aquele sanduíche assombroso de mortadela:
O Mercado Municipal funciona de segunda a sábado, das 5h às 16h, na Rua da Cantareira, 306, próximo à Rua 25 de Março e ao Metrô São Bento. tel. 3228-0673

Tá, Clarice e Guimarães eram infinitamente mais interessantes. Ainda assim, vale a pena gastar umas horinhas no Museu da Língua Portuguesa, que está com a exposição sobre a vida e obra do sociólogo Gilberto Freyre. A mostra reúne documentos, fotografias e manuscritos de livros, além do material utilizado na pesquisa de obras como "Casa-Grande e Senzala".
Museu da Língua Portuguesa - Estação da Luz - Bom Retiro, tel. 3326-0775. Ter. a dom.: 10h às 17h. Até 4/5. Ingr.: R$ 4 (grátis p/ menores de dez, maiores de 60 anos e sáb.).

Para ouvir uma orquestra ao vivo e ver a lindeza que é o Teatro Municipal de SP:
Há uma programação gratuita programada para o dia 25/01, com a Orquestra Sinfônica, Quarteto de Cordas, Balé da Cidade... Veja aqui.
O Theatro Municipal fica na Pça. Ramos de Azevedo, s/nº, Centro. Tel: (11) 3222-8698

viver me tira o sono...

E este texto aqui também... belo e cruel, muito cruel:

"E é inútil procurar encurtar caminho e querer começar já sabendo que a voz diz pouco, já começando por ser despessoal. Pois existe a trajetória, e a trajetória não é apenas um modo de ir. A trajetória somos nós mesmos. Em matéria de viver, nunca se pode chegar antes. A via-crucis não é um descaminho, é a passagem única, não se chega senão através dela e com ela. A insistência é o nosso esforço, a desistência é o prêmio. A este só se chega quando se experimentou o poder de construir, e, apesar do gosto de poder, prefere-se a desistência. A desistência tem que ser uma escolha. Desistir é a escolha mais sagrada de uma vida. Desistir é o verdadeiro instante humano. E só esta, é a glória própria de minha condição. A desistência é uma revelação. (...) Desisto, e para a minha pobreza humana abra-se a única alegria que me é dado ter, a alegria humana. Sei disso, e me estremeço - viver me deixa tão impressionada, viver me tira o sono. (...)"

(Clarice Lispector - fragmentos de A paixão segundo G.H.)

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

ainda que mal

Ainda que mal pergunte,

ainda que mal respondas;

ainda que mal te entenda,

ainda que mal repitas;

ainda que mal insista,

ainda que mal desculpes;

ainda que mal me exprima,

ainda que mal me julgues;

ainda que mal me mostre,

ainda que mal me vejas;

ainda que mal te encare,

ainda que mal te furtes;

ainda que mal te siga,

ainda que mal te voltes;

ainda que mal te ame,

ainda que mal o saibas;

ainda que mal te agarre,

ainda que mal te mates;

ainda assim te pergunto

e me queimando em teu seio,

me salvo e me dano: amor.

Carlos Drummond de Andrade


Pode ser um novo amor, trabalho, projeto, viagem... eu tenho que estar constantemente apaixonada - por algo ou alguém. Sou ariana, intensidade é palavra de ordem, não poderia ser diferente. ;-)

reality sucks

E a ameaça de recessão nos States cada vez mais próxima, febre amarela matando gente aqui... afe, reality sucks. Ainda bem que daqui a pouco vem o carnaval e a gente esquece dos problemas para "ver a banda passar, cantando coisas de amor", como bem cantou o amigo Chico.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

a dura poesia concreta de tuas esquinas

Palíndromo é um curta brasileiro, gravado nas ruas da capital paulista pelo diretor Philippe Barcinski em 2001. Ganhou vários prêmios no Festival de Gramado.

Insano, maluco, denso, melancólico e imprevisível. Como São Paulo.

Vale a pena ver (ou rever):
http://www.youtube.com/watch?v=HL4pHJ_AcBE

pide pra salir

Saiu na coluna Gente Boa do jornal O Globo de hoje, 21/01, e depois no Blue Bus:
Andras Balint, ator húngaro, chega esta semana ao Rio para participar da adaptação para o cinema de 'Budapest', de Chico Buarque. Vai interpretar o escritor alemão Kaspar Krabbe, contracenando com Giovanna Antonelli e Paola Oliveira.

***

Saiu na coluna da Márcia Peltier, no Jornal do Comércio de sexta, dia 18/01:
É provável que o filme Tropa de Elite seja lançado no exterior em cópia dublada em espanhol, para evitar a aversão à língua portuguesa.

Quero muito ver o primeiro. Só sinto um pouco de receio em saber que as estrelas do filme serão Giovanna Antonelli e Paola Oliveira. Lindas, ok, mas e o resto? Elas têm o resto? E sinto muito pelos gringos que talvez tenham que escutar o Capitão Nascimento gritando "Pide pra salir, cabrón".

domingo, 20 de janeiro de 2008

uso a garoa para chorar alegria

Surpresa
A felicidade é o cúmulo da criatividade. Uso a garoa para chorar alegria. Faróis: censores da pressa de chegar aos copos, corpos, bocas. Surpresa: vou entrando. Ele em meio a absurdos. Sento, cruzo as pernas, ele sorri. Abro um vinho, ele bebe e fala. Não presto atenção. Lembro da distância, tento me aproximar. Ele vai até a janela, acha que vai chover, me aproximo. Ele se vira, face to face, e diz: talvez na próxima. No dia em que tudo voltar ao normal, os amores vão dar certo. As discussões serão feitas de bons argumentos, os vinhos, de boas uvas.

Este texto é de autoria de Camila Tebet, jornalista, escritora e autora do blog http://essepapo.nafoto.net/

O miniconto acima foi publicado na Revista da Folha (SP) de 13/01/08, na matéria Conte até cem. A revista chamou escritores iniciantes, outros nem tanto, para fazer contos de cem palavras sobre São Paulo. O conto é lindo e com ele iniciamos aqui uma série de coisinhas bacanas que pretendo ler e postar sobre a cidade - que não é maravilhosa, mas eu amo mesmo assim. Dia 25/01 tem festa, bora comemorar, né?!

sábado, 19 de janeiro de 2008

nostalgia de um sábado chuvoso e cinza

Uma amiga tem um amigo. Dos bons, aquele tipo de amigo que a gente quer sempre por perto. Mas a rotina, a vida ou sei-lá-o-que faz com que eles percam o contato. Passam-se anos e o orkut promove o reencontro. A amizade retoma o exato ponto de onde acabou, com umas pitadas a mais de amadurecimento e a revelação de que um sempre achou o outro muito interessante (mas eram comprometidos na época da amizade). A sintonia é mútua desde o primeiro instante. Muitas mensagens de msn, torpedos e telefonemas, longos e formidáveis madrugada adentro depois, acontece o primeiro encontro. Tudo perfeito. De repente, o sumiço. O telefone pára de tocar, a janelinha do msn não sobe mais. Por que, Meu Deus? O que pode ter acontecido depois daquela noite? Não, o finalmente nem chegou a acontecer. A amiga, estupefata, deixa um depoimento pro cara no orkut. Dizendo que, acima de qq coisa, o que ela mais preza e não quer perder é a amizade dele. O resto, é apenas detalhe (incluem-se aí os beijos trocados e a possibilidade de amor ou um relacionamento mais sério). Até o presente momento, nada de resposta - se bem que a própria ausência em si já é uma resposta.

Acontecimento absurdamente real e que me fez pensar nas inúmeras formas que temos hoje em dia para estabelecer contato e mandar recados, a quem quer que seja. No tempo da minha vó havia o telefone e as cartas. Hoje, além dos 2 já citados, temos o e-mail, o msn, o orkut, o blog, o celular (para falar e pra mandar mensagens). Afe, não é meio de comunicação demais não? Acho que isso banaliza um pouco o simples processo de mandar um recado ou dar um simples "Oi, tudo bem?". Você não precisa mais pensar muito no que escrever, fazer a carta à máquina ou mesmo à mão - manda um torpedo e em 5 segundos e já tem a resposta se aquela amiga está bem, se aquele cinema está de pé e se aquele amor acabou mesmo. Tá, facilita um monte a nossa vida, agiliza e barateia o processo. Mas, ao mesmo tempo, deixou tudo tão fácil que perdeu um pouco da graça, né não?

Por tudo isso, às vezes dá vontade de voltar ao tempo das cartas, aquelas imensas e cheias de sentimento. Clarice Lispector já disse, em carta para um amigo: "que horror a gente ter que expressar a alegria por intermédio de uma máquina". Ela falava da máquina de escrever, pq não chegou a conhecer a infinidade de aparatos tecnológicos que temos hoje. Ainda bem, este mundo não tem nada a ver com ela mesmo. Você imagina Clarice atualizando seu perfil no orkut? Mandando uma poesia pelo msn? Não, né?! Ela pertence a um mundo que não existe mais. :-/

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

vento no litoral

Sudoeste
Adriana Calcanhotto/ Jorge Salomão

... Tenho por princípios
Nunca fechar portas
Mas como mantê-las abertas
O tempo todo
Se em certos dias o vento
Quer derrubar tudo?...

E então eu percebi que não tem jeito, algumas portas precisam ser fechadas, para que outras se abram. Não, não tem sido nada fácil.

medos privados em lugares públicos

Após um longo e tenebroso inverno sem ir ao cinema, eis que o ano começa com um filme francês, denso e triste de doer. Deixa eu explicar: amo dramas, principalmente os tristes, sobretudo os franceses. O filme é ótimo e fala sobre a dificuldade que todos nós temos com os relacionamentos - mantê-los, cultivá-los, começá-los - pode ser mais complicado do que parece, ainda mais numa Paris coberta pela neve. Eu e a Ju saímos da sala escura meio atordoadas. rs


Vamos à crítica da Revista Bravo:

A ciranda de Resnais

Em ''Medos Privados em Lugares Públicos'', o diretor francês faz uma comédia melancólica em que os amantes jamais conseguem se conectar por completo
por Ricardo Calil

Para quem associa o nome de Alain Resnais aos inovadores e intrincados experimentos narrativos de Hiroshima, Meu Amor (1959) e O Ano Passado em Marienbad (1961), o novo filme do mestre francês será uma surpresa. À primeira vista, Medos Privados em Lugares Públicos (2006) é um trabalho acessível e até mesmo despretensioso na linha dos mais recentes Smoking/ No Smoking (1993) e Amores Parisienses (1997). Se levarmos em conta apenas a sinopse, estamos no confortável território da comédia romântica. Mas é muito mais que isso.

Medos Privados acompanha seis personagens à procura de um amor no inverno de Paris, com histórias afetivas que se entrelaçam como no poema Quadrilha, de Carlos Drummond de Andrade. Charlotte cuida do pai doente do barman Lionel, que tem como cliente mais assíduo o ex-militar Dan, que vive uma crise em seu relacionamento com a namorada Nicole, que procura um apartamento com o agente imobiliário Thierry, que tem como irmã a solitária Gaëlle e sente-se atraído por sua colega Charlotte. E, assim, está fechada a ciranda amorosa do filme. Nos papéis principais, estão os atores preferidos de Resnais em sua fase mais recente: a sempre encantadora Sabine Azéma, Pierre Arditi, Lambert Wilson, Laura Morante, André Dussollier e Isabelle Carré.

FATALISMO INVERNAL

Como se trata de uma obra de Resnais, o cineasta substitui o otimismo primaveril da comédia romântica por um fatalismo invernal, em que as relações estão fadadas ao desencontro. Até mesmo o humor do filme está impregnado de uma certa melancolia, representada pela neve que cai constantemente sobre Paris e que aparece como uma espécie de vinheta em todas as transições de cena. Além disso, o filme tem uma sofisticação visual e uma qualidade geral de interpretação que o distanciam das comédias descartáveis recentes.

Ao final, descobre-se que a simplicidade de Medos Privados em Lugares Públicos é ilusória e que o filme não está assim tão distante de Hiroshima ou Marienbad. Como naqueles clássicos, os personagens são assombrados por relações do passado e se revelam incapazes de se conectar por completo. Resnais apenas retoma seus temas preferenciais (o tempo, a memória, as relações amorosas) com ousadias formais mais discretas (que podem ser observadas, por exemplo, na linda cena em que parece nevar dentro do apartamento de Lionel). Como os personagens de Medos Privados, os filmes de Resnais também formam uma ciranda. Aos 85 anos, o cineasta continua não apenas lúcido e coerente. Ele ainda é moderno.

Fonte: Revista Bravo - http://bravonline.abril.com.br/

Recomendadíssimo. Mas vá preparado. Ahh, uma frase que não me sai da cabeça: "Se existe inferno, ele queima dentro de nós". Afe.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

canta Chico, canta

De todas as maneiras
Chico Buarque / 1980

(...)
Agora já passa da hora
Tá lindo lá fora
Larga a minha mão
Solta as unhas do meu coração
Que ele está apressado
E desanda a bater desvairado
Quando entra o verão

sob o sol de qualquer lugar

Claramente inspirado no Saia Justa de hoje, dia 16/01, pergunto: O que é o verão pra você?

Pra mim, verão é praia, família, amigos reunidos, chopp Brahma, pele morena, gente com cara de saudável, pouca roupa, entardecer visto do Pier, batida (vodka com frutas vermelhas, please), sorvete da Sorveteria Itanhaém, dormir tarde e acordar bem na hora que a praia já está fervendo, jogar buraco, tranca e o que mais der na telha madrugada adentro, viagem, água-de-côco, crises de riso intermináveis, esquecer o relógio, os problemas e o metrô, vestido, sandália rasteirinha, aquele cheirinho de maresia inconfundível, feira hippie, Havaianas, passar o dia inteiro de biquini, piscina, aqueeela balada inesquecível, aqueles beijos intermináveis. Todo verão que se preze tem seus bons momentos, cenas, cheiros e pessoas. Algumas continuam participando da sua vida nas estações seguintes. Outras... ah, o final vocês já sabem.

E isso é apenas o começo. Uma ótima temporada a todos.

3 filmes lindos com paisagens idem, ambientados no mais sublime verão italiano:
1. Sob o sol de Toscana, de Audrey Wells
2. Pão e Tulipas, de Silvio Soldini
3. Ágata e a Tempestade, de Silvio Soldini

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

incrivelmente belo. e real.

Quantas vezes você assassinou o amor?
por Fabricio Carpinejar

Eu já errei muito com o amor. Todo mundo erra, mas errei sempre pela mesma causa: procurava no amor o meu reconhecimento. Procurava corrigir o que estava torto em mim e alimentar meu narcisismo.

Queria ser louvado, endeusado, salvo da autocrítica. Amar seria uma vingança ao menino tímido, ao menino feio, ao menino ingênuo. Um escudo para as ofensas que recebi e humilhações que passei. Não me interessava que o amor passasse a limpo meus rascunhos. Tinha a obrigação de queimar o que fui.

As relações não poderiam dar certo. Quem aguarda o elogio, afasta a verdade. Esperava contar com a imunidade amorosa. Não buscava um contraponto, e sim uma religião. Não amava uma mulher, eu me amava a partir dela. Ou me amava pelas suas observações e rituais.

Pensava que o amor fosse esquecer o passado. Não, o amor carrega o passado e ainda separa o lixo seco do orgânico. Amadurecer não consistia em mudar de personalidade, mas conviver com todas as personalidades, inacabadas e falhas.

Fui um sedutor no início de relacionamentos: fácil se apaixonar, fácil o encontro, em que tudo é novidade e interação, em que fazemos vista grossa aos defeitos. Havia resistência em prolongar a união. Ao mínimo sinal de casamento, de escova de dente no mesmo copo, escapava. Porque não admitia que alguém me conhecesse. Eu me conhecia e não gostava de mim, e não desejava que ela me acompanhasse no desgosto. Nem permitia sua aproximação. Fingia gostar de mim no começo, fugia de mim no final.

O amor, na maioria das vezes, não acontece pelo medo que cada um tem de se conhecer. O medo é o mais orgulhoso dos sentimentos. Tente obrigar uma pessoa com claustrofobia ficar num elevador? Tente convencer alguém que não nada a pular numa piscina de cinco metros?

O amor é perigoso para quem não resolveu seus problemas. O amor delata, o amor incomoda, o amor ofende, fala as coisas mais extraordinárias e apocalípticas sem recuar. O amor é a boca suja, o beijo na boca suja. O amor não pretende a salvação, o amor nos tortura com as lembranças que não inventamos. O amor repetirá na cozinha o que foi contado em segredo no quarto. O amor vai arejar sua casa, abrir o assoalho, o porão proibido, fazer faxina em sua memória. Colocar fora o que precisava, reintegrar ao armário o que temia rever. O amor depende de nossa capacidade de enfrentar a honestidade.

Añais Nin está certa quando escreveu que o amor nunca morre de morte natural. Morre porque o matamos ou porque o deixamos morrer. Morre enforcado na mesa, morre esfaqueado pelas costas, morre eletrocutado pela sinceridade, morre atropelado pela grosseria. Não morre de velhice, em paz com a cama e com os olhos.

O amor é assassinado. Assassinado porque o outro conviveu com o nosso lado escuro e não admitimos ter sido menos do que uma promessa. Não admitimos tropeçar e voltar atrás. Não admitimos o fracasso de pedir ajuda. Não admitimos que o nosso sofrimento conheça a alegria da compreensão. Assassinado pela arrogância da dor e pelo orgulho do medo.

Assassinado principalmente no ventre, pois para confiarmos a nossa vida para outra pessoa, devemos saber o que fizemos antes com ela.

Fabrício Carpinejar é poeta, jornalista e mestre em Literatura Brasileira pela UFRGS, além de coordenador e professor do curso de Formação de Escritores e Agentes Literários da Unisinos.

domingo, 13 de janeiro de 2008

começamos bem. muito bem.

Post comemorativo às férias de verão, sem dúvida divertidas, animadas, repleta de momentos hilários e dias muito, mas muito felizes:

Ser feliz não é pecado

A felicidade é desprezada por muita gente. A pessoa feliz sofre o preconceito de parecer uma pessoa vazia, sem conteúdo. No entanto, algo ela tem, senão não incomodaria tanto. Será que é porque ela nos confronta com nossa própria miséria existencial? É irritante ver alguém naturalmente linda, rica, simpática, inteligente, culta, talentosa, apaixonada e, ainda por cima, magra! Essa ninfa nunca ouviu falar em insônia, depressão, dívidas, mousse de chocolate?

Os felizes ainda estão associados ao padrão “comercial de margarina”, portanto, costumam ser idealizados - e desacreditados. É como se fossem marcianos, só que não são verdes. Por isso, damos mais crédito aos angustiados, aos irônicos, aos pessimistas. Por não aparentarem possuir vínculo com essa tal felicidade, dão a entender que têm uma vida muito mais profunda. Você é feliz? Não espalhe, já que tanta gente se sente agredida com isso. Mas também não se culpe, porque felicidade é coisa bem diferente do que ser linda, rica, simpática e aquela coisa toda. Felicidade, se eu não estiver muito enganada, é ter noção da precariedade da vida, é estar consciente de que nada é fácil, é tirar algum proveito do sofrimento, é não se exigir de forma desumana e, apesar (ou por causa) disso tudo, conseguir ter um prazer quase indecente em estar vivo.

O psicanalista Contardo Calligaris certa vez disse uma frase que sublinhei: “Ser feliz não é tão importante, mais vale ter uma vida interessante”. Creio que ele estava rejeitando justamente esta busca pelo kit felicidade, composto de meia dúzia de realizações convencionais. Ter uma vida interessante é outra coisa: é cair e levantar, se movimentar, relacionar-se com as pessoas, não ter medo de mudanças, encarar o erro como um caminho para encontrar novas soluções, ter a cara-de-pau de se testar em outros papéis - e humildade para abandoná-los se não der certo. Uma vida interessante é outro tipo de vida feliz: a que passou ao largo dos contos-de-fada. É o que faz você ter uma biografia com mais de 10 páginas.

Se você acredita que ser feliz compromete seu currículo de intelectual engajado, troque por outro termo, mas não cuspa neste prato. Embriague-se de satisfação íntima e justifique-se dizendo que é um louco, apenas isso. Como você sabe, os loucos sempre encontram as portas do céu abertas.

Rita Lee, que já passou por poucas e boas, mas nunca se queixou de não ter uma vida interessante, anos atrás musicou com Arnaldo Batista estes versos: “Se eles são bonitos, sou Alain Delon/ se eles são famosos/ sou Napoleão/se eles têm três carros/ eu posso voar”. Também faço da Balada do Louco meu hino, que assim encerra: “Mais louco é quem me diz que não é feliz”. Seja feliz em 2008!!!

Martha Medeiros, para a Revista de Domingo do jornal O Globo

turning point

Volto das férias mais fortalecida, mais confiante e, acima de tudo, mais consciente de que só euzinha mesmo poderei definir as minhas escolhas e dar um passo a frente. É o tal pensamento positivo que fala o livro "O Segredo". Mas ele sozinho não basta - é preciso agir para que as coisas efetivamente aconteçam. Não gosto de fazer promessas nem criar expectativas desleais para um ano que mal começou, mas algo me diz que 2008 será o momento de concretizar as metas profissionais, de traçar um novo caminho na minha profissão e, por que não, fazer a tão sonhada viagem à Europa, com direito a Espanha, França, Inglaterra e uma passadinha na Itália, assim de leve. Vou batalhar por isso. Agora pra valer.

Para concluir o raciocínio, uma passagem de Vergílio Ferreira que gosto bastante:

"Nós vivemos da nossa vida um fragmento tão breve. Não é da vida geral - é da nossa. É em primeiro lugar a restrita porção do que em cada elemento haveria para viver. Porque em cada um desses elementos há a intensidade com o que poderíamos viver, a profundeza, as ramificações. Nós vivemos à superfície de tudo na parte deslizante, a que é facilidade e fuga. O resto prende-se irremediavelmente ao escuro do esquecimento e distracção. Mas há sobretudo a zona incomensurável dos possíveis que não poderemos viver. Porque em cada instante, a cada opção que fazemos, a cada opção que faz o destino por nós, correspondem as inumeráveis opções que nada para nós poderá fazer. Um golpe de sorte ou de azar, o acaso de um encontro, de um lance, de uma falência ou benefício fazem-nos eliminar toda uma rede de caminhos para se percorrer um só. Em cada momento há inúmeros possíveis, favoráveis ou desfavoráveis, diante de nós. Mas é um só o que se escolheu ou nos calhou.

Assim durante a vida vão-nos ficando para trás mil soluções que se abandonaram e não poderão jamais fazer parte da nossa vida. Regresso à minha infância e entonteço com as milhentas possibilidades que se me puseram de parte. Regresso à juventude, à idade adulta, ao simples dia de ontem e a infinidade de soluções que não adoptei dava para um mundo de vidas. Foi uma só. Nela realizei, num único percurso, aquilo que constituiu o todo de uma vida humana. E todavia, nessa estreiteza de ser está o infinito de mim. Deus é a simplicidade absoluta e tem o máximo de ser. Nós conhecemos em nós esse máximo e é por isso que ao Deus o soubemos inventar."

Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente 4'

A vida, o destino e o acaso nos oferecem muitas possibilidades, muitas rotas. Mas chega um momento que é preciso escolher. Não adianta voltar atrás ou ficar andando em círculos. Pessoas queridas ficam para trás, caminhos que pareciam interessantes também. É o chamado turning point (momento de decisão). Infelizmente, o turning point não chega para todo mundo. Mas o meu chegou e eu não vou deixá-lo passar.

rios torrenciais

"Houve uma época em nossas vidas em que estávamos tão próximos, que nada parecia obstruir nossa amizade e fraternidade e apenas uma pequena ponte nos separava. Quando você ia subir na ponte, eu lhe perguntei: Você quer atravessar a ponte até mim?

Imediatamente você ficou e deixou de querê-lo e, quando repeti a pergunta você ficou silente. Desde então, montanhas, rios torrenciais e o que quer que separe e aliene interpuseram-se entre nós e, mesmo se quiséssemos nos reunir, não conseguiríamos."

Irvin D Yalom in Quando Nietzsche chorou, Ed. Ediouro

domingo, 6 de janeiro de 2008

à flor da pele

Acende o cigarro, rapariga. E olha para a
rua onde passam transeuntes desconhecidos.
A tarde vai avançando e nós morrendo nela
ou morrendo nela as nossas esperanças,
a ilusão de eternidade. A beleza o que é?
Braços nus, o ventre liso nu, os cabelos caídos
nos ombros. A desconhecida concentra em si
a atenção do homem desocupado. Para
distrair-se, ele olha para ela e recorda-se
da história antiga do amor, reconstrói
ficções que sabe serem apenas ficções. Assim
passa o tempo, depois irá para casa. Quem
sabe o segredo mais secreto da existência
de cada um? Todos nós temos uma
história. Uns calam-na, outros murmuram
entre dentes os episódios essenciais, outros
encontram palavras com que construir o
poema hermético. Que diferença é que faz?
De tudo se constrói a existência, se alimenta
o sentido. Camisa branca à flor da pele, a
rapariga levantou-se e foi lá dentro do café
comprar qualquer coisa. Palavras, deixai-me
celebrar o vão movimento dos ponteiros do
relógio, os episódios vãos, a nossa morte.

João Camilo
In revista Inimigo Rumor 13 - 2o. semestre 2002
Editora 7 Letras, Rio de Janeiro/
Livros Cotovia, Lisboa

sábado, 5 de janeiro de 2008

as músicas que não devem morrer

Se existe um passatempo ótimo e dificílimo é fazer listas das coisas que amo. Os melhores filmes, as melhores músicas, os melhores shows, os melhores poetas... Tenho uma séria dificuldade em escolher diante de tantas opções, mas ainda assim amo pensar em quem poderia ocupar os primeiros lugares.

Esta listinha abaixo saiu no blog Mente Aberta, do Luís Antonio Giron, editor de Cultura da Revista Época:

O que ouvem os imortais – ou as músicas que não devem morrer

Parece que até a Academia Brasileira de Letras adora uma lista. Para comemorar seus 110 anos em 2008, eles planejaram uma seleção de músicas a serem lançadas no CD. O nome é que é meio esquisito: “Inquestionáveis”. São 17 as canções que para os membros da ABL merecem, indiscutivelmente, participar da lista. Entre elas, Aquarela do Brasil, com o célebre verso “Esse coqueiro que dá coco”. Já surgiram novas listas, algumas publicadas na net. No Globo, Joaquim Ferreira dos Santos fez o convite e alguns importantes críticos lançaram suas listas, entre eles o editor do nosso blog, Luís Antônio Giron.

Como esse negócio de não questionar não é muito com a gente nem com você, leitor de Mente Aberta, decidimos publicá-la aí justamente para o que vocês já estão imaginando: discordar. Se não lembrar o nome das músicas, basta clicar em cima e ver a letra. E fica a pergunta a ser respondida: para você, caro leitor, quais as letras mais bonitas da música popular brasileira?

As "17 inquestionáveis" da Academia Brasileira de Letras

- Chão de Estrelas (Silvio Caldas/ Orestes Barbosa)
- Casinha pequenina (Domínio público)
- Feitiço da Vila (Noel Rosa/ Vadico)
- Luar do Sertão (Catulo da Paixão/ Cearense/ João Pernambuco)
- Samba da minha terra (Caymmi)
- Odeon (Nazareth/ Ubaldo Sciangula)
- O bêbado e a equilibrista (João Bosco/ Aldir Blanc)
- As rosas não falam (Cartola)
- A flor e o espinho (Nelson Cavaquinho/ Guilherme de Brito)
- Aquarela do Brasil (Ary Barroso)
- A mesma rosa amarela (Capiba)
- Carinhoso (Pixinguinha/ João de Barro)
- Chega de saudade (Tom Jobim/ Vinicius de Moraes)
- Felicidade (Lupicinio Rodrigues)
- Quem te viu, quem te vê (Chico Buarque)
- Amanheceu, peguei a viola (Renato Teixeira)
- Azulão (Jaime Ovalle/ Manuel Bandeira)

(Laila Abou Mahmoud)

Fonte: http://www.menteaberta.globolog.com.br/

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

aqui

Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo
Mal de te amar neste lugar de imperfeição
Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa

Sophia de Mello Breyner Andresen

metáfora

ALVO
Por uma vez conta como o corpo se ajusta à superfície
das tuas palavras. Fala de um depois anterior, desse sono
demente na fissura da luz; do violento vôo ou ferida
cíclica, a ausência excedendo-se na pele quando a desoras
perfumas minhas mãos. Estende-se o calor aos lábios,
o verão simula a duração no verso, circula a água, vigorosa,
no fundo do poço até desaparecer na cama muda.
Nada é o que parece, lembra-se o que se esquece e eu digo
os dedos descalços dissolvem em tua boca o mel à flor dos
destroços. Olha-me: deita o olhar em meu vestido, tira-o
num gesto ébrio e precipitado como a um prisioneiro,
os peixes sobem lentos no lago imoderado e a noite volta,
lenta, adormecida. Dou-te o que não tenho – a história
de um rio exultante a explodir na boca em versão romântica,
poema sem trágicos sulcos ou fala completa. E tu, tu dás-me
o que sou: metáfora doendo-se alto onde acaba o texto.


Ana Marques Gastão
In Nós/Nudos, Gótica, 2004

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

o primeiro dia




















Liberdade


Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.

(Sophia de Mello Breyner Andresen)

Ponta da Praia, Santos/SP. Crédito: Lea Leal (again).

Ahh, FELIZ 2008 pra você. Que tudo de melhor aconteça este ano.


Não foi à toa que entrou no Guinness. Além se ser o maior jardim de praia do mundo, deve ser um dos mais belos também. Vista aérea da praia e do jardim da orla da praia de Santos.

Foto tirada por Lea Leal (não a conheço, mas ainda assim reconheço e dou os créditos) e, segundo ela, a técnica utilizada foi selecionar a parte da máquina que usa o preto e branco e só predomina a cor mais forte.

que seja bom o que vier

Apesar de tudo.......

"Estou te querendo muito bem neste minuto. Tinha vontade que você estivesse aqui e eu pudesse te mostrar muitas coisas, grandes, pequenas, e sem nenhuma importância, algumas. Fique feliz, fique bem feliz, fique bem claro, queira ser feliz. Você é muito lindo e eu tento te enviar a minha melhor vibração de axé. Mesmo que a gente se perca, não importa. Que tenha se transformado em passado antes de virar futuro. Mas que seja bom o que vier, para você, para mim."


Caio Fernando Abreu