terça-feira, 29 de julho de 2008

paris é uma festa

Pelo calorzinho gostooso em pleno inverno, pela cidade luz (sonho de consumo desta que vos escreve) e pela vontade imensa de viajar que estou sentindo neste exato momento, e em muitos outros também:

“Quando a primavera chegava, mesmo que se tratasse de uma falsa primavera, nossos problemas desapareciam, exceto o de saber onde se poderia ser mais feliz. A única coisa capaz de nos estragar um dia eram pessoas, mas se se pudesse evitar encontros, os dias não tinham limites. As pessoas eram sempre limitadoras da felicidade, exceto aquelas poucas que eram tão boas quanto a própria primavera.”

Paris é uma festa, Ernest Hemingway


Tentei achar o(a) dono(a) da foto para dar os créditos, mas não localizei. Sorry. Eu achei a fotinho interessante pq reúne tudo que precisamos - em Paris ou em qq lugar - um bom livro (no caso, vale um guia de viagem tb), doses cavalares de vinho e aquela companhia essencial... ;-)

segunda-feira, 28 de julho de 2008

...mas já não há mais tempo...

Estou tentando abrir um túnel na rocha bruta.
Eu sei, sei que é penoso.
Mas qual é a busca que em si mesma não traga sua pena?

Clarice Lispector

***

E eu continuo sumida, é verdade. Por 2 razões. A primeira é que agora não posso mais postar no horário de trabalho. A segunda é que aquela necessidade absurda de aparecer aqui, aos poucos, vai dando lugar a outras prioridades, outros gostos e formas de dizer. Mais belas e menos agressivas, talvez. Estou tentando entender o que se passa - se o momento do Belas Coisas Simples (que vai fazer um ano agora em Setembro) está acabando ou se é apenas vontade de se resguardar um pouco. Espero que seja a segunda opção, e eu volte a aparecer com mais freqüência. Em breve. Tudo isso porque eu não consigo ir muito além dos meus sentimentos, primncipalmente quando eles são tão intensos que tomam todo o pensamento, a casa e o coração. Monotemática até segunda ordem. Talvez seja ruim para quem ainda passa por aqui, mas pra mim está bom, viu... rs

segunda-feira, 21 de julho de 2008

tempo de ser como quem arde

Canção dos Males Passados e Bem Presente
(In Coisa Amar, Coisas do Mar, Perspectivas e Realidades, 1976)

Eis um tempo de mar. Tempo de azul.
De fogo lento cabras maravilha
tempo de me buscar de te buscar
tempo de navegar para essa ilha
que fica sempre um pouco mais ao Sul.

Eis um tempo de mar (tempo de amar).
Meu país que já foi. Meu país por fazer.
Eis um tempo de ser eterno em cada instante
um corpo para viver um corpo para morrer
meu porto que eras sempre mais adiante.

Eis um tempo de ser como quem arde
como quem se semeia e se despede
porque antes era cedo ou era tarde
mas este tempo é nosso e não se perde.
Eis um tempo de ser como quem arde
em fogo lento lenha verde.

Quem sabe a cor do acaso e suas leis?
Quem sabe ler o tempo e seus sinais?
Eis o tempo a tecer com seus anéis
um tempo para sempre e nunca mais.

Eis um tempo de ser fiel ao tempo.
As cabras estão no fogo e o sacrifício
é este arder assim dentro do tempo.
Meu altar minha festa meu cilício.

Não perguntem por mim: eu estou aqui.
Meu país por fazer. Meu país que já foi.
E não sou de ninguém. E sou de ti.
Eis um tempo de amor num tempo que me dói.
Não perguntem por mim: eu estou aqui.

Não perguntem se volto: eu já voltei.
Estou num corpo de trigo. Estou no vinho.
E nas coisas passadas que passei
como quem fica um pouco no caminho.
Não perguntem se volto: eu já voltei.

Pelos caminhos de me achar e me perder
já meu corpo sofreu os danos e os castigos
tantos foram os laços de me atar e me prender
tantos os riscos tantos os perigos.
Pelos caminhos de me achar e me perder.

Não perguntem por mim.
Dá-me o teu corpo
como se fosse para sempre e nunca mais.
Tu que ficavas mais adiante e és o meu porto
assim me disse o tempo e seus sinais.

Manoel Alegre

Lindo e muito adequado para o momento presente... A vidinha segue intensa, mas sobretudo boa, digna de filme almodovariano, e por tudo isso inexplicável. Um dia, quem sabe, a gente faz um post mais elucidativo. A quatro mãos. :-)

terça-feira, 15 de julho de 2008

samba de mon coeur qui bat

"No estado de graça, via-se a profunda beleza, antes inatingível, de outra pessoa. Tudo, aliás, ganhava uma espécie de nimbo que não era imaginário: vinha do esplendor da irradiação quase matemática das coisas e das pessoas. Passava-se a sentir que tudo o que existe - pessoa ou coisa - respirava e exalava uma espécie de finíssimo resplendor de energia. Esta energia é a maior verdade do mundo e é impalpável."

Clarice Lispector In Uma Aprendizagem ou O livro dos Prazeres

Et alors...

(...) le pourquoi d'un coeur choisit un autre je ne saurai probablement jamais. Il y a de choses pour lesquelles on ne connaît pas de réponse, ou d'explications, ce son les mystéres de la vie.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

os teimosos são os sublimes.

Lindo isso aqui:

"O olho do homem é feito de modo que se lhe vê por ele a virtude. A nossa pupila diz que quantidade de homem há dentro. Afirmamo-nos pela luz que fica debaixo da sobrancelha. As pequenas consciências picam o olho, as grandes lançam raios. Se não há nada que brilhe debaixo da pálpebra, é que nada há que pense no cérebro, é que nada há que ame no coração. Quem ama quer, e aquele que quer relampeja e cintila. A resolução enche os olhos de fogo; admirável fogo que se compõe da combustão dos pensamentos tímidos. Os teimosos são os sublimes. Quem é apenas bravo tem um assomo, quem é apenas valente tem só um temperamento, quem é apenas corajoso tem só uma virtude; o obstinado na verdade tem a grandeza. Quase todo o segredo dos grandes corações está nesta palavra: - Perseverança. A perseverança está para a coragem como a roda para a alavanca; é a renovação perpétua do ponto de apoio. Esteja na terra ou no céu o alvo da vontade, a questão é ir a esse alvo. Insensata é a cruz; vem daí a sua glória. Não deixar discutir a consciência, nem desarmar a vontade, é assim que se obtém o sofrimento e o triunfo. Na ordem dos fatos morais o cair não inclui o parar. Da queda sai a ascenção. Os medíocres deixam-se perder pelo obstáculo especioso; não assim os fortes. Perecer é o talvez dos fortes, conquistar é a certeza deles. O desdém das objeções razoáveis cria a sublime vitória vencida que se chama o martírio."

VICTOR HUGO, in Os Trabalhadores do Mar (1866)

segunda-feira, 7 de julho de 2008

palmas, por favor - junho

Uma amiga muito querida, de longe mas sempre presente, me perguntou quais os eventos e coisas bacanas tinha visto ultimamente por aqui. Ela, que mora em cidade pequena, acaba se abastecendo de novidades culturais pela internet, TV e, claro, pelos amigos. Daí que comecei a pensar em tudo que tinha feito de mais legal nos últimos meses, e percebi que a maioria das coisas acabou não aparecendo aqui. Por isso resolvi criar um tópico fixo, que aparecerá sempre ao final de cada mês e conterá as coisinhas interessantes que espero ter sempre para recomendar. Cinema, teatro, música, literatura, eventos culturais, lançamentos, museus, exposições. O mel do melhor estará aqui, prometo. Não espere críticas profundas, será apenas uma listinha básica, talvez um ou outro comentário, apenas para listar programas e dicas interessantes e mostrar que, apesar da falta de tempo ao blog, sim, ainda há vida aqui, e da melhor qualidade. :-)

Começo com uma retrospectiva com a melhor parte (publicável, claro rs) do que houve no mês passado, junho:

- Show: Maria Rita - Curtíssimo (1 horinha de show cravada no relógio é pouco, né não?!), mas legal. Ela não faz a mínima questão de ser simpática com o público, mas ok, manda bem nos sambas, isso que importa.

- Cinema: Um Beijo Roubado e Sex and the City - o primeiro infinitamente melhor que o segundo. Sensível, fotografia linda, trilha perfeita. Já Carrie e sua turma decepcionam um pouco, mas ainda assim gostei de ver, pq acompanhei algumas fases do seriado, pq o figurino é bacana e extravagante e pq eu sou fã. E ponto. :)

- Teatro: peça Confissões das Mulheres de 30 - Fui esperando uma reflexão profunda sobre a fase que entrarei no ano que vem, saí do teatro decepcionada. Mas depois li umas críticas boas sobre a peça e percebi que estava esperando demais (ainda faço isso às vezes). O grande barato, dizia a crítica e eu tive que concordar, é justamente o ar despretensioso da montagem, como se fosse um papo de bar, ou de blog. As gurias que arrasaram no seriado Mothern fazem rir, falam verdades e mostram que este período talvez nem seja tão difícil assim. A gente é que não sabe aproveitar. Gostei muito da parte que uma delas fala que as crianças têm apenas o futuro, os velhos têm apenas o passado, e as pessoas nesta fase têm os 2. Ainda há muito que viver e aproveitar, mas o passado existe e já rende umas boas horinhas de papo - seja no bar ou na terapeuta. rsrs

- Evento: O que as mulheres esperam do amor - Perguntinha densa e complexa foi o tema do bate-papo muito do interessante que rolou numa segunda-feira gelada de junho, na Martins Fontes da Paulista. Segundo a autora do livro e palestrante, Malvine Zalcberg: "(...) As mulheres, por cultivarem o amor mais do que os homens, são responsáveis pelos encontros possíveis entre os sexos. Para elas o amor é uma paixão; sem ele perdem a si mesmas, pois é o amor que as identifica como mulheres."

Para 30 dias está de bom tamanho, né? Teve ainda momentos ótimos no Páteo da Luz e na Chácara Santa Cecília. 2 lugares lindos, com música e comidinha boa. :)

Um adendo feito após o comentário da Ju: sim, é importante ressaltar que estes e os outros programas que nem entraram aqui não teriam a menor graça se não fossem as pessoas queridas que me acompanharam. AMIGOS, vocês são fundamentais. :-)

talvez seja isso. ou não.

"Não posso escrever enquanto estou ansiosa ou espero soluções porque em tais períodos faço tudo para que as horas passem; e escrever é prolongar o tempo, é dividi-lo em partículas de segundos, dando a cada uma delas uma vida insubstituível."

Clarice Lispector
In: "Água viva"

quarta-feira, 2 de julho de 2008

dia de faxina

Porque há dias que o deserto parece mais seco, o vazio mais fundo e o dia um pouco mais cinzento e pesado, mesmo com o sol lindo de inverno lá fora... Tudo ainda muito corrido por aqui. E sim, precisando arrumar a casa e o coração. :-/

Cuidados Intensivos III

"Só mais um dia,
um dia luminoso e barulhento
por mim a dentro,
um dia bastaria,
em prosa que fosse.

Mas dá-me para a melancolia,
para a limpeza, para a harmonia,
impacientam-me as migalhas
de pão na mesa, as falhas
da pintura do tecto,
as vozes das visitas, despropositadas,
sinto-me sujo como um objecto,
desapegado, desarrumado.

Trocaria bem esse dia
por um pouco de arrumação
- no quarto e no coração."

Manuel António Pina