quinta-feira, 8 de maio de 2008

sob a pele macia a carne dura

Diretamente da blogesfera, um poeminha dos bons:

estar às cegas sobre as setas do caminho
buscar a certeza de não saber distingüir
o indistingüível

flutuar
não submergir
deixar voar
o que nunca pertenceu à terra

não reter a alma

deixá-la escapar
para o mar revolto das incertezas
e das vontades

não dançar sob o céu à espera de deuses
não dizer uma só palavra que os reconheça

se ater aos papéis e aos seus conteúdos
ao verde das notas e investimentos

superar quantias insuspeitáveis
devorar o pão miserável que os banqueiros
entornam
nas cestas de lixos
dos vieses dos navios

atrelar ao bem querer alguma usura
buscar sob a pele macia
a carne dura

esfolar
trocar de pele

aventar possibilidade de retorno
ao estado ameríndio do self

e plantar plantar plantar esperanças
depois vendê-las empacotadas
pelo preço mais alto do mercado

nunca seguir o rio em sua trajetória até o mar
mas apagar a possibilidade das trajetórias
em nome da estática mão à palmatória sem linhas
à espera da grafia da sabedoria

Posted by Ana Peluso - tirado daqui: http://poesfera.wordpress.com/

Um comentário:

Camilinha disse...

"nunca seguir o rio em sua trajetória até o mar..." Essa Ana sabe das coisas...

obrigada pela visita nos pés descalços...

beijos daqui...