sexta-feira, 13 de junho de 2008

o gênio português

"Em 13 de junho, comemora-se os 120 anos do nascimento do poeta Fernando Pessoa, dia de Santo Antônio, que deu nome a Fernando António Nogueira Pessoa, nascido em Lisboa no ano da graça de 1888. Fernando Pessoa era um homem só, mas em pessoas múltiplas. Além dele mesmo, carregava consigo uma pequena multidão: Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Álvaro de Campos, Bernardo Soares e vários outros menos importantes. Personalidades diferentes. Todos escritores. O próprio Pessoa fazia questão de destacar: não eram meros pseudônimos, mas heterônimos. Ou seja, diferentes pessoas dentro do mesmo poeta. Escreveu ele: “Construí dentro de mim várias personagens distintas entre si e de mim, personagens essas a que atribuí poemas vários que não são como eu, nos meus sentimentos e idéias, os escreveria”.

E, como pessoas independentes, os heterônimos tinham biografia, horóscopo e descrição física. Aqui vão alguns traços dos principais deles.

Álvaro de Campos – Engenheiro de educação inglesa. Decadentista, futurista, niilista. É o mais agressivo, revoltado, o que fala alto. Ao contrário dos outros da trupe — especialmente Pessoa e Ricardo Reis, que têm postura pudica, quase assexuada —, Campos é o único a falar de sexo, inclusive de homossexualidade. Consultem-se, por exemplo, as caudalosas “Ode Marítima” e “Saudação a Walt Whitman”. Há poemas de Campos com data de novembro de 1935, poucos dias antes da morte de Pessoa que, como poeta, desaparece antes de Campos. Campos é também o mais dado a revelar, asperamente, as crueldades do mundo: “Mandei, capitão, fuzilar os camponeses trêmulos, / Deixei violar as filhas de todos os pais atados a árvores” (em “Ode Marcial”).

Ricardo Reis – Médico, latinista e monárquico. Mudou-se para o Brasil em protesto à instauração da república em Portugal. O ano de sua morte é desconhecido. Com base nisso, José Saramago criou o romance O Ano da Morte de Ricardo Reis. Para Saramago, Ricardo Reis sobrevive a seu criador. Um dos personagens do romance é Lídia, referência reiterada nas odes de Reis.

Alberto Caeiro – Segundo Pessoa, Caeiro é o mestre de todos os heterônimos. Mestre inclusive do próprio Pessoa. Teria passado quase toda a vida como camponês, com instrução apenas primária.

Bernardo Soares – Ajudante de guarda-livros em Lisboa. Soares, prosador, é autor do Livro do Desassossego, fragmentos e anotações pessoais.

Coelho Pacheco – Na Obra Poética de Pessoa, há uma ode, "Para Além Doutro Oceano", assinada por Coelho Pacheco.

No Posfácio aos “Poemas Completos de Alberto Caeiro”, Álvaro de Campos escreve: “O meu mestre Caeiro não era um pagão: era o paganismo. O Ricardo Reis é um pagão, o Antônio Mora é um pagão, eu sou um pagão; o próprio Fernando Pessoa é um pagão, se não fosse um novelo embrulhado para o lado de dentro”.

Observem: aí é citado outro personagem, Antônio Mora, descrito por Pessoa como um louco que vivia num manicômio de Cascais. Haveria ainda o Barão de Teive e muitos outros, semi-heterônimos ou meros coadjuvantes. Somados, eles são bem mais de uma dezena — essa multidão que habitava a singular pessoa do Pessoa."

Fonte: Poesia.net

Um comentário:

Juliana Ricci disse...

nossa não sabia que cada um deles tinha um perfil específico. muito interessante!!!