sábado, 19 de janeiro de 2008

nostalgia de um sábado chuvoso e cinza

Uma amiga tem um amigo. Dos bons, aquele tipo de amigo que a gente quer sempre por perto. Mas a rotina, a vida ou sei-lá-o-que faz com que eles percam o contato. Passam-se anos e o orkut promove o reencontro. A amizade retoma o exato ponto de onde acabou, com umas pitadas a mais de amadurecimento e a revelação de que um sempre achou o outro muito interessante (mas eram comprometidos na época da amizade). A sintonia é mútua desde o primeiro instante. Muitas mensagens de msn, torpedos e telefonemas, longos e formidáveis madrugada adentro depois, acontece o primeiro encontro. Tudo perfeito. De repente, o sumiço. O telefone pára de tocar, a janelinha do msn não sobe mais. Por que, Meu Deus? O que pode ter acontecido depois daquela noite? Não, o finalmente nem chegou a acontecer. A amiga, estupefata, deixa um depoimento pro cara no orkut. Dizendo que, acima de qq coisa, o que ela mais preza e não quer perder é a amizade dele. O resto, é apenas detalhe (incluem-se aí os beijos trocados e a possibilidade de amor ou um relacionamento mais sério). Até o presente momento, nada de resposta - se bem que a própria ausência em si já é uma resposta.

Acontecimento absurdamente real e que me fez pensar nas inúmeras formas que temos hoje em dia para estabelecer contato e mandar recados, a quem quer que seja. No tempo da minha vó havia o telefone e as cartas. Hoje, além dos 2 já citados, temos o e-mail, o msn, o orkut, o blog, o celular (para falar e pra mandar mensagens). Afe, não é meio de comunicação demais não? Acho que isso banaliza um pouco o simples processo de mandar um recado ou dar um simples "Oi, tudo bem?". Você não precisa mais pensar muito no que escrever, fazer a carta à máquina ou mesmo à mão - manda um torpedo e em 5 segundos e já tem a resposta se aquela amiga está bem, se aquele cinema está de pé e se aquele amor acabou mesmo. Tá, facilita um monte a nossa vida, agiliza e barateia o processo. Mas, ao mesmo tempo, deixou tudo tão fácil que perdeu um pouco da graça, né não?

Por tudo isso, às vezes dá vontade de voltar ao tempo das cartas, aquelas imensas e cheias de sentimento. Clarice Lispector já disse, em carta para um amigo: "que horror a gente ter que expressar a alegria por intermédio de uma máquina". Ela falava da máquina de escrever, pq não chegou a conhecer a infinidade de aparatos tecnológicos que temos hoje. Ainda bem, este mundo não tem nada a ver com ela mesmo. Você imagina Clarice atualizando seu perfil no orkut? Mandando uma poesia pelo msn? Não, né?! Ela pertence a um mundo que não existe mais. :-/

3 comentários:

Maria Lúcia de Almeida disse...

Olá, Camila!
Desejo a você um 2008 repleto de muito amor e carinho.
beijo, minha linda!

Celeste Garcia disse...

Oi, Camila!

Como já havia dito antes, eu também amei seu blog!
E aquele texto de Fabricio Carpinejar... caramba, muito, muito bom!
Eu acho que vou publicar aquele texto d’Os Efêmeos hoje, tudo bem?

Quanto ao seu post, até na internet relacionamentos são confusos.
No MSN pode-se conversar à vontade com pessoas queridas, mas também há o desafio constante de sempre arranjar um assunto pra comentar, do dilema em dar o primeiro ‘oi, tudo bem?’, ou aquela ‘mudez’ agonizante ao perceber que a pessoa não está digitando mensagem alguma - será que ela cansou de conversar comigo? - eu sempre me pergunto isso.
E no Orkut, quando a pessoa que lhe "apetece" não aparece mais marcando presença com um mísero scrap...rs.
E daí eu me pergunto outra vez: até que ponto correr atrás disso vale a pena?!
Aí, eu desencano de vez e retomo minha vida.

É, são pequenos paradoxos do século XXI.

Se Clarice estivesse viva, diria que este mundo está fadado à ruína... :x alksjdlksk

Anônimo disse...

Verdade. Por outro lado imagine o que ela poderia ter feito se tivesse tido acesso a toda essa parafernália. Para tudo dois lados. para todos os lados, seus adeptos. Para todos, tudo! Ou quase nada, verdade!
tô adorando seu blog.
Camilla