quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

perca algo a cada dia

Uma arte

A arte de perder não tarda aprender;
tantas coisas parecem feitas com o molde
da perda que o perdê-las não traz desastre.

Perca algo a cada dia. Aceita o susto
de perder chaves, e a hora passada embalde.
A arte de perder não tarda aprender.

Pratica perder mais rápido mil coisas mais:
lugares, nomes, onde pensaste de férias
ir. Nenhuma perda trará desastre.

Perdi o relógio de minha mãe. A última,
ou a penúltima, de minhas casas queridas
foi-se. Não tarda aprender, a arte de perder.

Perdi duas cidades, eram deliciosas. E,
pior, alguns reinos que tive, dois rios, um continente.
Sinto sua falta, nenhum desastre.

- Mesmo perder-te a ti (a voz que ria, um ente amado),
mentir não posso. É evidente:
a arte de perder muito não tarda aprender,
embora a perda - escreva tudo! - lembre desastre.

Elizabeth Bishop
(tradução Horácio Costa)

Tentando entender o porque de tanto desastre. Se mais do que tudo, a pessoa tinha o molde da perda. Se eu sabia que teria um fim precoce, quase prematuro, pq sofrer tanto? Afe, ninguém aguenta mais isso. Quer saber? Nem eu. :-/

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