terça-feira, 15 de janeiro de 2008

incrivelmente belo. e real.

Quantas vezes você assassinou o amor?
por Fabricio Carpinejar

Eu já errei muito com o amor. Todo mundo erra, mas errei sempre pela mesma causa: procurava no amor o meu reconhecimento. Procurava corrigir o que estava torto em mim e alimentar meu narcisismo.

Queria ser louvado, endeusado, salvo da autocrítica. Amar seria uma vingança ao menino tímido, ao menino feio, ao menino ingênuo. Um escudo para as ofensas que recebi e humilhações que passei. Não me interessava que o amor passasse a limpo meus rascunhos. Tinha a obrigação de queimar o que fui.

As relações não poderiam dar certo. Quem aguarda o elogio, afasta a verdade. Esperava contar com a imunidade amorosa. Não buscava um contraponto, e sim uma religião. Não amava uma mulher, eu me amava a partir dela. Ou me amava pelas suas observações e rituais.

Pensava que o amor fosse esquecer o passado. Não, o amor carrega o passado e ainda separa o lixo seco do orgânico. Amadurecer não consistia em mudar de personalidade, mas conviver com todas as personalidades, inacabadas e falhas.

Fui um sedutor no início de relacionamentos: fácil se apaixonar, fácil o encontro, em que tudo é novidade e interação, em que fazemos vista grossa aos defeitos. Havia resistência em prolongar a união. Ao mínimo sinal de casamento, de escova de dente no mesmo copo, escapava. Porque não admitia que alguém me conhecesse. Eu me conhecia e não gostava de mim, e não desejava que ela me acompanhasse no desgosto. Nem permitia sua aproximação. Fingia gostar de mim no começo, fugia de mim no final.

O amor, na maioria das vezes, não acontece pelo medo que cada um tem de se conhecer. O medo é o mais orgulhoso dos sentimentos. Tente obrigar uma pessoa com claustrofobia ficar num elevador? Tente convencer alguém que não nada a pular numa piscina de cinco metros?

O amor é perigoso para quem não resolveu seus problemas. O amor delata, o amor incomoda, o amor ofende, fala as coisas mais extraordinárias e apocalípticas sem recuar. O amor é a boca suja, o beijo na boca suja. O amor não pretende a salvação, o amor nos tortura com as lembranças que não inventamos. O amor repetirá na cozinha o que foi contado em segredo no quarto. O amor vai arejar sua casa, abrir o assoalho, o porão proibido, fazer faxina em sua memória. Colocar fora o que precisava, reintegrar ao armário o que temia rever. O amor depende de nossa capacidade de enfrentar a honestidade.

Añais Nin está certa quando escreveu que o amor nunca morre de morte natural. Morre porque o matamos ou porque o deixamos morrer. Morre enforcado na mesa, morre esfaqueado pelas costas, morre eletrocutado pela sinceridade, morre atropelado pela grosseria. Não morre de velhice, em paz com a cama e com os olhos.

O amor é assassinado. Assassinado porque o outro conviveu com o nosso lado escuro e não admitimos ter sido menos do que uma promessa. Não admitimos tropeçar e voltar atrás. Não admitimos o fracasso de pedir ajuda. Não admitimos que o nosso sofrimento conheça a alegria da compreensão. Assassinado pela arrogância da dor e pelo orgulho do medo.

Assassinado principalmente no ventre, pois para confiarmos a nossa vida para outra pessoa, devemos saber o que fizemos antes com ela.

Fabrício Carpinejar é poeta, jornalista e mestre em Literatura Brasileira pela UFRGS, além de coordenador e professor do curso de Formação de Escritores e Agentes Literários da Unisinos.

4 comentários:

Anônimo disse...

Olaaa ... adorei esse texto muito bomm..mais o amor faz bem tambem para quem sabe amarr!! As vezes no amor tem coisas ruins sim, como o ciumes que as vezes atormenta , mais isso agente releva , quando a pessoa que agente ama esta sempre do nosso lado .. ... eu sou muito Feliz no amor graças a Deus . pois minha vida inteira procurei uma pessoa ideal , mais nem sempre a pessoa ideal existe ... isso é ilusao ficar procurando seu principe encantado ... Temos que procurarmos ser felizes ... sempre ...
Ahh se der da uma passadinha la no meu .... ficarei grata ..
boa semana
beijinhos ...

Anônimo disse...

Nossa que achado esse seu blog, engraçado que eu procurava informações de Bluma Wainer, aí caí aqui e amei. Depois vi o texto do Fabrício, que já conheço do blog da Cris... Emprestei um texto seu e postei no Macabéa com os devidos créditos.

Adorei mesmo.

um beijo.

Macabéa

Anônimo disse...

meu endereço: www.macabeamacabea.blogger.com.br

Anônimo disse...

Camila,

Obrigada pelo retorno, e sim, temos muitos gostos em comum. Vi que também admira o Chico. Beijos.