segunda-feira, 20 de outubro de 2008

um viva ao mestre

A minha singela homenagem à Vinícius de Moraes, aquele que mostrou o que é preciso para se viver um grande amor, casou-se nove vezes e mais do que ninguém viveu as delícias e amarguras de ser uma pessoa intensa, visceral, apaixonada e apaixonante. Vinícius nasceu no dia 19 de outubro de 1913 e morreu em 9 de julho de 1980. Completaria 95 aninhos ontem, se estivesse vivo.

Diplomata, jornalista, compositor e poeta essencialmente lírico, Vinicius notabilizou-se pelos seus sonetos, forma poética que se tornou quase associada ao seu nome. Sua obra é vasta, passando pela literatura, teatro, cinema e música. No campo musical, Marcus Vinícius da Cruz de Melo Moraes teve como principais parceiros Tom Jobim, Toquinho, Baden Powell e Carlos Lyra.

Dentre os muitos poemas dele que amo, este me tocou especialmente hoje:

Poema de Natal

Vinicius de Moraes

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.

Extraído do livro Antologia Poética, Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1960, pág. 147.

Trechinho do DVD Vinícius, clique aqui para ver.

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