domingo, 21 de setembro de 2008

o que eu adoro em ti

A Revista Língua Portuguesa deste mês (09/2008) faz uma justíssima homenagem ao poeta Manuel Bandeira, em matéria de capa. Após 40 anos de sua morte, Manuel teve um livro de crônicas inéditas lançado em abril deste ano pela Cosac Naif. O site da editora traz um especial sobre a obra, coisa mais linda, veja aqui. E a revista me fez descobrir um poema lindíssimo de Bandeira, conhecido como o poeta da delicadeza e do erotismo velado. Apaixonadinha que estou, não pude deixar de me emocionar e de lembrar de alguém importante ao ler:

Madrigal melancólico

O que eu adoro em ti,
Não é a tua beleza.
A beleza, é em nós que ela existe.
A beleza é um conceito.
E a beleza é triste.
Não é triste em si.
Mas pelo que há nela de fragilidade e de incerteza.

O que eu adoro em ti,
Não é a tua inteligência.
Não é o teu espírito sutil,
Tão ágil, tão luminoso,
- Ave solta no céu matinal da montanha.
Nem é a tua ciência
Do coração dos homens e das coisas.

O que eu adoro em ti,
Não é a tua graça musical,
Sucessiva e renovada a cada momento,
Graça aérea como o teu próprio pensamento,
Graça que perturba e que satisfaz.

O que eu adoro em ti,
Não é a mãe que já perdi,
Não é a irmã que já perdi,
E meu pai.

O que eu adoro em tua natureza,
Não é o profundo instinto maternal
Em teu flanco aberto como uma ferida.
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza.

O que eu adoro em ti – lastima-me e consola-me!
O que eu adoro em ti, é a vida.

Manuel Bandeira

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