quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

sobre a vida que não se vive.


CANÇÃO

Viver não dói. O que dói 
é a vida que se não vive. 
Tanto mais bela sonhada, 
quanto mais triste perdida. 

Viver não dói. O que dói
é o tempo, essa força onírica
em que se criam os mitos
que o próprio tempo devora. 

Viver não dói. O que dói
é essa estranha lucidez, 
misto de fome e de sede
com que tudo devoramos. 

Viver não dói. O que dói, 
ferindo fundo, ferindo, 
é a distância infinita
entre a vida que se pensa
e o pensamento vivido. 

Que tudo o mais é perdido. 

Emílio Moura IN Itinerário Poético – Poemas Reunidos, Editora UFMG, 2a. ed., Belo Horizonte, 2012

Um comentário:

Felicidade Clandestina disse...

adorei as borboletas - e também de ler Emílio por aqui.

beijos, minha querida.