quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

e então que seja leve... quase natural...

"É assim mesmo - eu disse. - O mundo fora da minha cabeça tem janelas, telhados, nuvens, e aqueles bichos brancos lá embaixo. Sobre eles, não te detenhas demasiado, pois correrás o risco de transpassá-los com o olhar ou ver neles o que eles próprios não vêem, e isso seria tão perigoso para ti quanto para mim violar sepulcros seculares, mas, sendo uma borboleta, não será muito difícil evitá-los: bastará esvoaçar sobre as cabeças, nunca pousar nelas, pois correrás o risco de ser novamente envolvida pelos cabelos e reabsorvida pelos cérebros pantanosos e, se isso for inevitável, por descuido ou aventura, não deverás te torturar demasiado, de nada adiantaria, procura acalmar-te e deslizar para dentro dos tais cérebros o mais suavemente possível, para não seres triturada pelas arestas dos pensamentos, e tudo é natural, basta não teres medos excessivos - trata-se apenas de preservar o azul das tuas asas".

Caio Fernando Abreu

2 comentários:

Anônimo disse...

"...Quiçá, no intuito de fugirmos daquilo que quem sabe seria uma tênue profanação, todos nós deveríamos ter asas como as borboletas... e se eu pudesse escolher gostaria das minhas com infinitos matizes..."

Obs: Depois de quase um inverno sem estar aqui...lembrei-me destas palavras ao ler o seu post

Felicidade Clandestina disse...

sem palavras...