terça-feira, 1 de abril de 2008

tempo, jardim ou janela

A lição

Recebeste a lição do abismo: não há anjo
que desabite o corpo para habitar o ar,
o puro esplendor, a idéia perfeita;
aquela parte do céu está erma.
Abandonado o refúgio, a cabeça descoberta,
sumido o braço, caído, como roubado
pelo centro da terra, você sabe quem é o anjo.
O anjo é a janela que te deixa ver sem véus
A luz, as trevas, o enorme gris.
É o jardim que plantaste com impaciência e desvelo:
pedras, flores, ervas daninhas e inquietas esperanças.
O anjo é o tempo, o borrascoso titã,
As mãos cheias de sangue, mais jogador que guerreiro,
mais arrogante que sábio. O anjo é nomear
a vida: tempo, jardim ou janela.
O anjo é o corpo que resiste ao feitiço da alma
sob a perfeição do meio-dia,
o corpo que busca a sombra de outro corpo
para nascer, morrer e amar.

Rafael Argullol, poeta espanhol

4 comentários:

Anônimo disse...

Oi, tanta saudades de ti, cadê a libriana mais que querida? Estás no congresso? Saudades muitas, ouvindo o Chico lembrando de ti, engraçado né... snif snif snif... queria tanto ter ído naquele dia!!! Dá notícias.

Anônimo disse...

ops, é ariana... já é mes do seu niver, não esqueci... dia 08/04 apagar as velinhas!

disse...

Pq a gente não nasce sabendo escrever assim: "O anjo é o corpo que resiste ao feitiço da alma
sob a perfeição do meio-dia,
o corpo que busca a sombra de outro corpo
para nascer, morrer e amar."

Ai, ai...

aluaeasestrelas disse...

Adorei seu blog. Parabéns!!!