E este texto aqui também... belo e cruel, muito cruel:
"E é inútil procurar encurtar caminho e querer começar já sabendo que a voz diz pouco, já começando por ser despessoal. Pois existe a trajetória, e a trajetória não é apenas um modo de ir. A trajetória somos nós mesmos. Em matéria de viver, nunca se pode chegar antes. A via-crucis não é um descaminho, é a passagem única, não se chega senão através dela e com ela. A insistência é o nosso esforço, a desistência é o prêmio. A este só se chega quando se experimentou o poder de construir, e, apesar do gosto de poder, prefere-se a desistência. A desistência tem que ser uma escolha. Desistir é a escolha mais sagrada de uma vida. Desistir é o verdadeiro instante humano. E só esta, é a glória própria de minha condição. A desistência é uma revelação. (...) Desisto, e para a minha pobreza humana abra-se a única alegria que me é dado ter, a alegria humana. Sei disso, e me estremeço - viver me deixa tão impressionada, viver me tira o sono. (...)"
(Clarice Lispector - fragmentos de A paixão segundo G.H.)
"Não pense que eu ando atrás só de belas coisas simples. Eu quero qualquer coisa, desconexa, contraditória, insegura, não tem importância, desde que seja sua. As definições redondas e grandiloqüentes, as coisas categóricas e acabadas não me satisfazem, porque eu não sou assim", escreveu Maury Gurgel Valente para Clarice Lispector. Este blog traz excertos do cotidiano, poesias, devaneios sobre relacionamentos, cinema, literatura, música... Belas coisas simples, como eu, você e a vida.
Um comentário:
" A desistência tem que ser uma escolha".
Posso confessar? Me deu dor no estômago pensar nisto.
Parece simples, mas não é nem um pouco. Isto sim me tira o sono.
Beijos.
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