A minha singela homenagem à Vinícius de Moraes, aquele que mostrou o que é preciso para se viver um grande amor, casou-se nove vezes e mais do que ninguém viveu as delícias e amarguras de ser uma pessoa intensa, visceral, apaixonada e apaixonante. Vinícius nasceu no dia 19 de outubro de 1913 e morreu em 9 de julho de 1980. Completaria 95 aninhos ontem, se estivesse vivo.
Diplomata, jornalista, compositor e poeta essencialmente lírico, Vinicius notabilizou-se pelos seus sonetos, forma poética que se tornou quase associada ao seu nome. Sua obra é vasta, passando pela literatura, teatro, cinema e música. No campo musical, Marcus Vinícius da Cruz de Melo Moraes teve como principais parceiros Tom Jobim, Toquinho, Baden Powell e Carlos Lyra.
Dentre os muitos poemas dele que amo, este me tocou especialmente hoje:
Poema de Natal
Vinicius de Moraes
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.
Extraído do livro Antologia Poética, Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1960, pág. 147.
Trechinho do DVD Vinícius, clique aqui para ver.
"Não pense que eu ando atrás só de belas coisas simples. Eu quero qualquer coisa, desconexa, contraditória, insegura, não tem importância, desde que seja sua. As definições redondas e grandiloqüentes, as coisas categóricas e acabadas não me satisfazem, porque eu não sou assim", escreveu Maury Gurgel Valente para Clarice Lispector. Este blog traz excertos do cotidiano, poesias, devaneios sobre relacionamentos, cinema, literatura, música... Belas coisas simples, como eu, você e a vida.
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