Diretamente da blogesfera, um poeminha dos bons:
estar às cegas sobre as setas do caminho
buscar a certeza de não saber distingüir
o indistingüível
flutuar
não submergir
deixar voar
o que nunca pertenceu à terra
não reter a alma
deixá-la escapar
para o mar revolto das incertezas
e das vontades
não dançar sob o céu à espera de deuses
não dizer uma só palavra que os reconheça
se ater aos papéis e aos seus conteúdos
ao verde das notas e investimentos
superar quantias insuspeitáveis
devorar o pão miserável que os banqueiros
entornam
nas cestas de lixos
dos vieses dos navios
atrelar ao bem querer alguma usura
buscar sob a pele macia
a carne dura
esfolar
trocar de pele
aventar possibilidade de retorno
ao estado ameríndio do self
e plantar plantar plantar esperanças
depois vendê-las empacotadas
pelo preço mais alto do mercado
nunca seguir o rio em sua trajetória até o mar
mas apagar a possibilidade das trajetórias
em nome da estática mão à palmatória sem linhas
à espera da grafia da sabedoria
Posted by Ana Peluso - tirado daqui: http://poesfera.wordpress.com/
"Não pense que eu ando atrás só de belas coisas simples. Eu quero qualquer coisa, desconexa, contraditória, insegura, não tem importância, desde que seja sua. As definições redondas e grandiloqüentes, as coisas categóricas e acabadas não me satisfazem, porque eu não sou assim", escreveu Maury Gurgel Valente para Clarice Lispector. Este blog traz excertos do cotidiano, poesias, devaneios sobre relacionamentos, cinema, literatura, música... Belas coisas simples, como eu, você e a vida.
Um comentário:
"nunca seguir o rio em sua trajetória até o mar..." Essa Ana sabe das coisas...
obrigada pela visita nos pés descalços...
beijos daqui...
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