Há dias Clarice não aparecia aqui. E como ela é algo de fundamental para mim, para a Macabéa e para todos aqueles que sentem o vazio e os mais profundos sentimentos contraditórios e inexplicáveis, reproduzo 2 cartas endereçadas a ela, de Fernando Sabino, que traduzem um pouco disso tudo:
Nova York, 06 de julho de 1946.
Clarice,
Porisso (sic) não te posso mandar nenhuma palavra animadora. Digo apenas que não concordo com você quando você diz que faz arte apenas porque “tem um temperamento infeliz e doidinho”. Tenho uma grande, uma enorme esperança em você e já te disse que você avançou na frente de nós todos, passou pela janela, na frente deles todos. Apenas desejo intensamente que você não avance demais para não cair do outro lado. Você tem de ser equilibrista até o fim da vida. E suando muito, apertando o cabo da sombrinha aberta, com medo de cair, olhando a distância do arame já percorrido e do arame a percorrer — e sempre tendo de exibir para o público um falso sorriso de calma e facilidade. Tem de fazer isso todos os dias, para os outros como se na vida não tivesse feito outra coisa, para você como se fosse sempre a primeira vez, e a mais perigosa. Do contrário seu número será um fracasso.
Fernando.
*****
Rio de Janeiro, 27 de outubro de 1953
Clarice,
Gostei de saber que você está com a alma mais sossegada. O sentimento de grandeza que você acha que está perdendo talvez agora é que você esteja adquirindo. Sua predisposição para ficar calada não é propriamente uma novidade: a novidade é estar aceitando, inclusive, o silêncio. É bom isso, dá mais paciência, mais compreensão, dá mais sentimento às coisas — e dá grandeza.
Fernando.
Fonte: Livro Correspondências, Ed. Rocco, 2002. Algumas cartas estão disponíveis no site da editora dedicado à Clarice. Veja aqui.
"Não pense que eu ando atrás só de belas coisas simples. Eu quero qualquer coisa, desconexa, contraditória, insegura, não tem importância, desde que seja sua. As definições redondas e grandiloqüentes, as coisas categóricas e acabadas não me satisfazem, porque eu não sou assim", escreveu Maury Gurgel Valente para Clarice Lispector. Este blog traz excertos do cotidiano, poesias, devaneios sobre relacionamentos, cinema, literatura, música... Belas coisas simples, como eu, você e a vida.
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Um comentário:
nossa... que belas palavras... as caratas que eles trocavam deviam ser um deleite para quem as lia... e para a gente, que as lê um pouquinho agora é com certeza, uma ótima, excelente maneira de assossegar a alma!!!
beijos!!
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