ESCUDO QUE TEU OLHAR MAIS DOCE DESPEDAÇA
A haste ergue o grito amarelo do cravo
e as coisas recuam de eco na sala.
Ah, se trouxesses a ventarola de tuas ternuras imprecisas,
eu beijaria o luar sonhando como uma criança cega entre teus dedos.
Tira da boca o seio das minhas excitações contraditórias,
joga a cabeça com os cabelos para trás do que sabemos de nós mesmos.
Quero-te eu, mas eu disperso de mim, vulnerável em tua cristã inconsciência.
Pois não é sumir o que eu quero na noite com que envolvi a sala num suspiro.
Não. Talvez se trouxesses a tua boca oferecida numa bandeja de prata,
eu a tomasse como não tomo o cravo vagindo amarelo de dentro das minhas indecisões
e verias que meu olhar diria amo quando não sei se me importo.
Paulo Hecker Filho, falecido em 2005, aos 79 anos, figura singular e múltipla das letras gaúchas: poeta, escritor, tradutor, dramaturgo, jornalista, cronista e crítico literário.
"Não pense que eu ando atrás só de belas coisas simples. Eu quero qualquer coisa, desconexa, contraditória, insegura, não tem importância, desde que seja sua. As definições redondas e grandiloqüentes, as coisas categóricas e acabadas não me satisfazem, porque eu não sou assim", escreveu Maury Gurgel Valente para Clarice Lispector. Este blog traz excertos do cotidiano, poesias, devaneios sobre relacionamentos, cinema, literatura, música... Belas coisas simples, como eu, você e a vida.
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