Muito bem formulado este pensamento de Valdomiro Neto, jornalista dos bons e filósofo nas horas vagas: "Suspeito que a coisa que mais fazemos na vida é passar, olhar e não ver gente desconhecida. No metrô, nos bares e, pasmem, até mesmo no trabalho esbarramos em gente desconhecida. Quem são elas? O que desejam? Quais suas taras e desilusões? Quantas linhas têm as suas mãos? Quantos amores já tiveram? Essa multidão que a todo instante raspa na gente não é simplesmente uma turba de corpos a se deslocar. São caçambas de afetos mal resolvidos, esperanças nutridas e desejos. Sim, fundamentalmente são desejos que andam para lá e para cá. De fato, elas caminham sempre mirando o desejo. O desejo de realizar um trabalho melhor ou de mandar o chefe à merda. O desejo de comprar o pão que alivia sua fome ou a carne que amolda seus dentes. O desejo de conhecer algum mulher ou homem que desestabilize seus batimentos. O desejo de perder peso ou ganhar músculos. O desejo de fazer uma viagem ao Marrocos ou às Ilhas Galápagos. Desejos, desejos, desejos. Passamos a vida trombando com desconhecidos. Passamos a vida trombando com pilhas de desejo."
"Não pense que eu ando atrás só de belas coisas simples. Eu quero qualquer coisa, desconexa, contraditória, insegura, não tem importância, desde que seja sua. As definições redondas e grandiloqüentes, as coisas categóricas e acabadas não me satisfazem, porque eu não sou assim", escreveu Maury Gurgel Valente para Clarice Lispector. Este blog traz excertos do cotidiano, poesias, devaneios sobre relacionamentos, cinema, literatura, música... Belas coisas simples, como eu, você e a vida.
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