domingo, 8 de janeiro de 2012

a pele dos dias, a carne aflita da distância

  DIA 365


Termina o ano comum.

Termina o ano como
 um outro qualquer. Amei
 cada um dos dias que
 gastei. E gostei de os
 gastar. De os gostar.
 E degustei as horas, as
 semanas, os meses. Fui
 sábio umas vezes, outras,
 impaciente. Pedi-te:
 dá-me a tua canção,
 canta-a com os teus olhos,
 os olhos do coração
 irmãos da terra, irmãos
 da sombra, da cal,
 do sisal e do azul. Mal
 me bastam as mil razões
 do mel para sorrir e
 para bater à porta de
 cada página, procurando
 no reverso, os versos da
 ternura. Afago a pele
 dos dias, a carne aflita
 da distância. Quem
 é que quer dar outro nome
 às coisas que sempre
 se chamaram assim,
 e que assim se cantam
 porque, agora, os dias
 serão prova exaustiva
 de coragem?

JOAQUIM PESSOA, in ANO COMUM (2011)

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