Linda a mensagem de natal do escritor walter hugo mãe (assim mesmo, com minúsculas):
"o natal é um pretexto para a reunião mais efectiva da família e dos amigos. neste sentido, desejo que todos tenham o melhor dos natais, porque nos afectos só há crise se deixarmos de gostar. porque gostar é verdadeiramente a festa. que tenham uma grande festa e se sintam, assim, felizes. bom natal a todos."
Não preciso dizer mais nada. Só sentir forte e desejar as melhores coisas àqueles que amo, os que estão longe e, principalmente, os de perto.
"Não pense que eu ando atrás só de belas coisas simples. Eu quero qualquer coisa, desconexa, contraditória, insegura, não tem importância, desde que seja sua. As definições redondas e grandiloqüentes, as coisas categóricas e acabadas não me satisfazem, porque eu não sou assim", escreveu Maury Gurgel Valente para Clarice Lispector. Este blog traz excertos do cotidiano, poesias, devaneios sobre relacionamentos, cinema, literatura, música... Belas coisas simples, como eu, você e a vida.
sábado, 24 de dezembro de 2011
quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
Poema para gatos
Jorge, o gato que me ensinou a amar os felinos |
Silêncio,
eis a tarefa de todos os gatos.
Poucos sabem perscrutar
(talvez ninguém em plenitude)
o grau de solidão necessária
ao saber auto suficiente
para ser felino e doméstico
em sua tarefa de monge guardião do
inextricável
em quem o homem não percebe
a metafísica natural,
recolhimento saber
sensualidade e aceitação.
(Artur da Távola)
sobram-me coisas dentro mas faltam-me palavras.
Incrivelmente familiar:
"São quase oito e tu à minha espera. O trânsito, a chuva… Mas tu já sabes, sempre o trânsito, sempre a chuva, ou um acidente, ou uma reunião, e tu já sabes, sempre eu, sou sempre eu e tu à minha espera.
Hoje quis que fosse diferente, lembrei-me mais de ti, abri a carteira e olhei para a tua fotografia, a que tirei quando estávamos a ser felizes longe. Onde era? Maldivas, ou Canárias, ou na República Dominicana, já nem sei, éramos tão novos e tu tão linda, tão minha e tão linda eras. Ainda és, sou eu que me atraso porque embruteci, porque me esqueço, sei lá eu porque é.
Dez anos, são só dez anos, já dez anos. Não te sei pesar em tempo. Quantos anos tem um sinal na nossa pele? Ou um dente torto, ou um calo nos dedos que tocamos quando estamos nervosos e nada mais sabemos fazer?
Não há idade para o que somos, talvez nos tenhamos tornado um lugar, como um jardim, ou um quarto que tem o nosso cheiro, ou o berço onde dorme o que inventámos ou a cama onde nós dormimos e às vezes nem dormimos.
Mudo a estação e troco as notícias por músicas de amor. Dez anos e ainda me fazes isto, mesmo atrasado, mesmo careca e bruto do tempo. Chove muito e o carro parado numa fila.
Talvez abra a janela e vá a nadar até ti, talvez me chames tonto e digas que nem as penso, nadar na chuva numa noite assim… Depois rio-me e dou-te beijos para que me perdoes e te esqueças do atraso, para que te esqueças de muitas coisas.
Tenho uma garrafa guardada para nós, de um ano único, um ano que guardei para nós. É um vinho doce e delicado, de tempo poisado.
Conheço todos os teus sabores, a menina que foste, a rapariga louca e destemida que tu eras como eu não era, a mulher mãe de agora. Não te devia guardar para noites assim, mas sou tonto, tenho medo que vás e não entendo que quanto mais te beba mais há para beber.
Perdoa o atraso, perdoa-me a chuva, a noite, o tempo.
Faltam-me palavras, sobram-me coisas dentro mas faltam-me palavras. O cantor da rádio di-las por mim, fala de amor, de arrependimento, de erros. Queria cantar para ti assim, que me ouvisses sem me olhares, para entenderes melhor, como eu entendo as canções porque não as vejo e só a chuva, os faróis vermelhos e a hora no relógio.
Vou abrir o vinho e vais dizer que é bom. Tu que nem ligas, que nem bebes, vais sorrir. E eu devia abrir-me a mim, dizer que envelheci por ti para que me abrisses e te pudesse falar com as palavras mais finas, as mais maduras, as que faltam.
Agora avanço um pouco, vou chegando a passo de homem. Em que pensas tu? Que nomes me chamas? Que paciência a tua quando eu não estou e tu conversas com a menina? O papá atrasou-se outra vez, o papá esqueceu-se da gente, bebé, porque tem muitas coisas na cabeça, e um dia vai atrasar-se tanto que já ninguém espera por ele, não é, bebé?
Que cabeça a minha, não nadar na chuva numa noite assim.
És chão em que assento, penso e não te digo. Se um dia me faltas caio logo ali, sem lugar para pôr os pés ou a mim. Morreu por falta de chão, dirão os amigos, um homem a cair por todo o lado.
Hoje vou beijar-te mais e melhor, dizer-te estas coisas, contar os trezentos e sessenta e cinco dias multiplicados por dez e por nós. Às horas bissextas escondo-as numa caixinha, para quando formos velhos e nos faltar o tempo. Ato-lhes um laço vermelho e dou-tas de presente. Toma as minhas horas, trata delas porque eu não sei.
Diz à menina que eu estou a chegar. Diz à menina que tens nas mãos e no peito que eu estou mesmo a chegar.
Já não chove, uma música sem palavras agora, apetece-me cantar mas não sei como. Que ouvisses a mesma rádio e a mesma música com as minhas palavras por cima. Não te esqueças de mim, por favor, não te esqueças de mim."
(Nuno Camarneiro, no blog Acordar um Dia)
terça-feira, 13 de dezembro de 2011
o saldo é positivo.
2011. Ano que começou confuso, sem rumo nem direção. Mas, aos poucos, o céu foi clareando, indicando um caminho bom. E não é que hoje, ao rever o drama meio Fellini meio Almodóvar que foi 2011, percebo que o saldo é muito positivo?
que, de volta às raízes caiçaras, eu mais fiz programinhas culturais inesquecíveis na capital. Deve ser aquele chavão besta de dar valor ao que se tem, aproveitar intensamente e blá blá blá. Sim, foram shows (Maria Bethânia, Teatro Mágico, Chicas, Zélia Duncan, Jeneci, Bruna Caram), alguns museus, peças também, além de encontros amigos, pessoas queridas y más, mucho más.
Dá pra reclamar? Claro que não. Sairei de 2011 feliz e animadinha e levarei flores, muitas flores. Sim, eu estava lá, bem pertinho do palco. :-)
"Errei amores. Errei certezas. Errei palavras. Errei caminhos. Errei aos montes. Erros diários, míseros, imperceptíveis. Erros inofensivos, que machucaram a mim, mais ninguém. Mas não errei nos sorrisos que dei, em tudo que perdoei, no que fiz por mim e no que doei aos outros. E definitivamente não errei na dose de sonhos e nem nas delicadezas."Teve muita coisa chata e alguns momentos tristes, mas ahh, a quantidade de coisas boas é infinitamente superior... Foi o ano
Van Luchiari
Dá pra reclamar? Claro que não. Sairei de 2011 feliz e animadinha e levarei flores, muitas flores. Sim, eu estava lá, bem pertinho do palco. :-)
(sem título)
O prêmio literário da Fundação Biblioteca Nacional foi para um ilustre desconhecido: Daniel Lima, de 95 anos, de Pernambuco. Viva! :-)
Abaixo, um poema dele:
(sem título)
Nada será jogado no vazio.
Nem mesmo o vazio da vida, porque é vida.
Nem mesmo o gesto inútil, pois-que é gesto.
Nem mesmo o que não chegou a realizar-se, pois-que é possível.
Nem mesmo ainda o que jamais se realizará, porque é promessa.
E o próprio impossível é vontade absurda de existir. E nisso existe.
Abaixo, um poema dele:
(sem título)
Nada será jogado no vazio.
Nem mesmo o vazio da vida, porque é vida.
Nem mesmo o gesto inútil, pois-que é gesto.
Nem mesmo o que não chegou a realizar-se, pois-que é possível.
Nem mesmo ainda o que jamais se realizará, porque é promessa.
E o próprio impossível é vontade absurda de existir. E nisso existe.
segunda-feira, 5 de dezembro de 2011
Coração Couraça
Porque te tenho e não
porque te penso
porque a noite está de olhos abertos
porque a noite passa e digo amor
porque vieste recolher tua imagem
e és melhor que todas tuas imagens
porque és linda do pé até a alma
porque és boa da alma para mim
porque te escondes doce no orgulho
pequena e doce
coração couraça
porque és minha
porque não és minha
porque te olho e morro
e pior que morro
se não te olho amor
se não te olho
porque tu sempre existes em qualquer parte
mas existes melhor onde te quero
porque tua boca é sangue
e tens frio
tenho que amar-te amor
tenho que amar-te
embora esta ferida doa como duas
embora te busque e não te encontre
e embora
a noite passe e eu te tenha
e não.
(Mario Benedetti)
porque te penso
porque a noite está de olhos abertos
porque a noite passa e digo amor
porque vieste recolher tua imagem
e és melhor que todas tuas imagens
porque és linda do pé até a alma
porque és boa da alma para mim
porque te escondes doce no orgulho
pequena e doce
coração couraça
porque és minha
porque não és minha
porque te olho e morro
e pior que morro
se não te olho amor
se não te olho
porque tu sempre existes em qualquer parte
mas existes melhor onde te quero
porque tua boca é sangue
e tens frio
tenho que amar-te amor
tenho que amar-te
embora esta ferida doa como duas
embora te busque e não te encontre
e embora
a noite passe e eu te tenha
e não.
(Mario Benedetti)
quinta-feira, 1 de dezembro de 2011
dezembro....
Para trazer muitos dias ensolarados, amigos queridos, viagens, momentos felizes, paz no coração... nada melhor que começar o mês com uma musiquinha.
Essa é das boas:
Essa é das boas:
quarta-feira, 30 de novembro de 2011
sobre tudo que eu não sei.
Eu tenho cada vez mais menos respostas, mas também tenho cada vez mais menos perguntas. Disso eu não duvido: tenho cada vez mais menos certezas. Quanto mais o tempo passa, eu fico menos à vontade para alimentar dores e com muito mais preguiça de sofrer. Quanto mais o tempo passa, menos faço por onde adiantar a morte, mais tento fazer por onde aproximar a vida.
Ana Jácomo
Ana Jácomo
e vc aí achando que seria fácil... rs
"Como qualquer ser humano, sou uma mistura: Do que quero ser; do que penso que sou; do que pensam que eu sou."
(Clarice Lispector)
domingo, 27 de novembro de 2011
qualquer coisa de intermédio
Sou entre flor e nuvem,
estrela e mar. Por que
havemos de ser unicamente
humanos, limitados em chorar?
Não encontro caminhos fáceis
... de andar. Meu rosto vário
desorienta as firmes pedras
que não sabem de água e de ar.
Cecília Meireles
estrela e mar. Por que
havemos de ser unicamente
humanos, limitados em chorar?
Não encontro caminhos fáceis
... de andar. Meu rosto vário
desorienta as firmes pedras
que não sabem de água e de ar.
Cecília Meireles
sábado, 26 de novembro de 2011
debaixo desse céu...
Mais um entardercer de encher os olhos em Santos, SP, 25/11. |
Achei muito boa essa sacada do
Léo Jaime (aquele mesmo, dos
anos 80, via twitter):
"A vida hoje é a soma das coisas que estamos perdendo. Enquanto pensamos nisso o tempo se esvai. Ninguém dá conta de tudo."
Uns chegam, outros vão, alguns outros permanecem. Mas o que fica é cada vez mais essencial e verdadeiro. E a vida segue. Feliz. Apesar de tudo.
Léo Jaime (aquele mesmo, dos
anos 80, via twitter):
"A vida hoje é a soma das coisas que estamos perdendo. Enquanto pensamos nisso o tempo se esvai. Ninguém dá conta de tudo."
Uns chegam, outros vão, alguns outros permanecem. Mas o que fica é cada vez mais essencial e verdadeiro. E a vida segue. Feliz. Apesar de tudo.
quinta-feira, 24 de novembro de 2011
Tão difícil dizer...
...e tão fácil sentir...
“Saudades ficam violentas quando mudamos de endereço. Saudades ficam insuportáveis quando mudamos de sentido. Você confunde sacrifício com covardia. Compreendo. Eu confundo amor com loucura. Cada um tem seus motivos, sua maneira de se convencer que fez o melhor, fez o que podia.”
Fabrício Carpinejar
“Saudades ficam violentas quando mudamos de endereço. Saudades ficam insuportáveis quando mudamos de sentido. Você confunde sacrifício com covardia. Compreendo. Eu confundo amor com loucura. Cada um tem seus motivos, sua maneira de se convencer que fez o melhor, fez o que podia.”
Fabrício Carpinejar
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
gauche na vida? não, obrigada!
"Eu sei que vou. Insisto na caminhada. O que não dá é pra ficar parado. Se amanhã o que eu sonhei não for bem aquilo, eu tiro um arco-íris da cartola. E refaço. Colo. Pinto e bordo. Porque a força de dentro é maior. Maior que todo mal que existe no mundo. Maior que todos os ventos contrários. É maior porque é do bem. E nisso, sim, acredito até o fim. O destino da felicidade, me foi traçado no berço."
Peguei do Facebook da Erika Pretes. Escreve bem a moça. :-)
Peguei do Facebook da Erika Pretes. Escreve bem a moça. :-)
quinta-feira, 17 de novembro de 2011
Não Podemos Ter a Certeza de Nada
Somos todos iguais na fragilidade com que percebemos que temos um corpo e ilusões. As ambições que demorámos anos a acreditar que alcançávamos, a pouco e pouco, a pouco e pouco, não são nada quando vistas de uma perspectiva apenas ligeiramente diferente. Daqui, de onde estou, tudo me parece muito diferente da maneira como esse tudo é visto daí, de onde estás. Depois, há os olhos que estão ainda mais longe dos teus e dos meus. Para esses olhos, esse tudo é nada. Ou esse tudo é ainda mais tudo. Ou esse tudo é mil coisas vezes mil coisas que nos são impossíveis de compreender, apreender, porque só temos uma única vida.
— Porquê, pai?
— Não sei. Mas creio que é assim. Só temos uma única vida. E foi-nos dado um corpo sem respostas. E, para nos defendermos dessa indefinição, transformámos as certezas que construímos na nossa própria biologia. Fomos e somos capazes de acreditar que a nossa existência dependia delas e que não seríamos capazes de continuar sem elas. Aquilo em que queremos acreditar corre no nosso sangue, é o nosso sangue. Mas, em consciência absoluta, não podemos ter a certeza de nada. Nem de nada de nada, nem de nada de nada de nada. Assim, repetido até nos sentirmos ridículos. E sentimo-nos ridículos muitas vezes e, em cada uma delas, a única razão desse ridículo é não conseguirmos expulsar da nossa biologia, do nosso sangue, dos nossos órgãos, essas certezas injustificadas, ou justificadas por palavras sempre incompletas. Mas é bom que seja assim. Porque podemos continuar e, enquanto continuamos, continuamos. Estamos vivos. Ou acreditamos que estamos vivos, o que é, talvez, a mesma coisa.
— Porquê, pai?
— Porque o amor, filho.
José Luís Peixoto, in 'Abraço'
— Porquê, pai?
— Não sei. Mas creio que é assim. Só temos uma única vida. E foi-nos dado um corpo sem respostas. E, para nos defendermos dessa indefinição, transformámos as certezas que construímos na nossa própria biologia. Fomos e somos capazes de acreditar que a nossa existência dependia delas e que não seríamos capazes de continuar sem elas. Aquilo em que queremos acreditar corre no nosso sangue, é o nosso sangue. Mas, em consciência absoluta, não podemos ter a certeza de nada. Nem de nada de nada, nem de nada de nada de nada. Assim, repetido até nos sentirmos ridículos. E sentimo-nos ridículos muitas vezes e, em cada uma delas, a única razão desse ridículo é não conseguirmos expulsar da nossa biologia, do nosso sangue, dos nossos órgãos, essas certezas injustificadas, ou justificadas por palavras sempre incompletas. Mas é bom que seja assim. Porque podemos continuar e, enquanto continuamos, continuamos. Estamos vivos. Ou acreditamos que estamos vivos, o que é, talvez, a mesma coisa.
— Porquê, pai?
— Porque o amor, filho.
José Luís Peixoto, in 'Abraço'
Ganhei! Rá!
"Não sei como descrever
Talvez seja estranha essa forma de querer
Tão perto do coração e tão distante do olhar
Tomo por minhas as palavras do poeta
“O amor é fogo que arde sem se ver”
Não vejo meu fogo, mas o sinto arder
E por não poder te ter
Sigo os cinco dias que me restam
A sonhar com você!"
Gostou? Imagine eu então! :-)
terça-feira, 8 de novembro de 2011
para pensar
"originalmente, pena é o mesmo que punição. quem merecesse pagava uma pena, ou um preço que corresponderia à punição pela falta cometida. as coisas que valem a pena, dessa forma, valem a punição que elas implicaram. se pensarmos bem, portanto, só vale a pena na vida o que não vale pena alguma, pois aquilo que implica em pena não vale nada."
Do blog quando nada está acontecendo.
Do blog quando nada está acontecendo.
segunda-feira, 7 de novembro de 2011
Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios
Queremos o que não podemos ter, diz o professor Schianberg, o mais obscuro dos filósofos do amor. É normal, é saudável. O que diferencia uma pessoa de outra, ele acrescenta, é quanto cada um quer o que não pode ter. Nossa ração de poeira das estrelas.(Marçal Aquino, IN: Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios)
Dos livros que preciso ter nas mãos e devorar canibalisticamente, este com certeza é um dos primeiros da fila.
Agradeço a querida Jenifer, do Penetra Surdamente no Reino das Palavras, por me relembrar que preciso ter este livro. Taí um bom presente de Natal. ;-)
Há um ponto no qual...
(...) não posso concordar contigo, Marty. Tu dizes que agora somos muito sensatos e o quanto tolos fomos no passado a lidar um com o outro. Eu concordo alegremente que agora somos sensatos o suficiente para acreditar no nosso amor sem quaisquer dúvidas, mas não teríamos chegado a este ponto se não fosse por tudo o que aconteceu entre nós antes. Foi a intensidade do meu desgosto, trazido pela muitas horas de sofrimento que tu me causaste há dois anos, que me convenceu do meu amor por ti. Hoje em dia, com todo o meu trabalho, e a luta por dinheiro, posição, e reputação, que tudo junto mal me dá tempo de sobra para te escrever uma carta afectuosa, já seria quase impossível chegar a essa convicção. Não desprezemos os tempos em que para mim um dia só teria sentido se recebesse uma carta de ti, quando uma decisão tua significava uma decisão entre vida e morte. Eu não sei realmente que mais poderia ter feito nessa altura; foi um período de luta muito difícil, e finalmente, de vitória, e só após disso tudo ter terminado consegui encontrar a paz interior para trabalhar em torno do nosso futuro. Nesses dias eu estava a lutar pelo teu amor como estou agora a lutar pela tua pessoa, e tens que admitir que tive que trabalhar tanto para atingir esse objectivo como estou a trabalhar agora para atingir este outro.
Carta de Sigmund Freud a Martha Bernays, 7 de Janeiro 1885 (excerto)
Carta de Sigmund Freud a Martha Bernays, 7 de Janeiro 1885 (excerto)
terça-feira, 1 de novembro de 2011
por vezes...
E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos. E por vezes
... encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos.
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes
ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos.
E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se evolam tantos anos.
David Mourão Ferreira
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos. E por vezes
... encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos.
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes
ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos.
E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se evolam tantos anos.
David Mourão Ferreira
quarta-feira, 26 de outubro de 2011
Aprendizagem da Primavera
1.Depois
a mulher deitou-se
A sombra da terra
tombou sobre o céu
2. Não sei o que te invento
se amo mesmo quando não és
Não sei o que te amo
se te invento como és
Palavras que voltam
se não voltas
Cega-nos a mesma noite
o mesmo suspiro
de duas mãos entrelaçadas
MIA COUTO, in RAÍZ DE ORVALHO E OUTROS POEMAS (Caminho, 1999)
a mulher deitou-se
A sombra da terra
tombou sobre o céu
2. Não sei o que te invento
se amo mesmo quando não és
Não sei o que te amo
se te invento como és
Palavras que voltam
se não voltas
Cega-nos a mesma noite
o mesmo suspiro
de duas mãos entrelaçadas
MIA COUTO, in RAÍZ DE ORVALHO E OUTROS POEMAS (Caminho, 1999)
terça-feira, 18 de outubro de 2011
Quero apenas cinco coisas
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o outono
A terceira é o grave inverno
Em quarto lugar o verão
A quinta coisa são teus olhos
Não quero dormir sem teus olhos.
Não quero ser… sem que me olhes.
Abro mão da primavera para que continues me olhando.
Pablo Neruda
A segunda é ver o outono
A terceira é o grave inverno
Em quarto lugar o verão
A quinta coisa são teus olhos
Não quero dormir sem teus olhos.
Não quero ser… sem que me olhes.
Abro mão da primavera para que continues me olhando.
Pablo Neruda
segunda-feira, 17 de outubro de 2011
um bom conselho...
Dê
Fernando Deluqui
Dê amor, dê paixão
Dê espera, dê esperma
Dê prazer, dê fogo,
Dê uma nela, de carinho,
De sacanagem, de sarro, de fato,
Dê amor, dê segurança,
De anca na anca dela
E amanheça de cabeça dentro dela
(...)
segunda-feira, 10 de outubro de 2011
quinta-feira, 6 de outubro de 2011
mais uma vez, eu sei
"Uma coisa só começa a existir quando você também começa a prestar atenção na existência dela. Quando a gente começa a gostar duma pessoa, é bem assim."
(Caio Fernando Abreu)
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
Bom dia, amor,
Por favor, não me analise
Não fique procurando
cada ponto fraco meu
Se ninguém resiste a uma análise
profunda, quanto mais eu!
Ciumenta, exigente, insegura, carente
toda cheia de marcas que a vida deixou:
Veja em cada exigência
um grito de carência,
um pedido de amor!
Amor, amor é síntese,
uma integração de dados:
não há que tirar nem pôr.
Não me corte em fatias,
(ninguém abraça um pedaço),
me envolva todo em seus braços
E eu serei perfeita, amor!
(Do livro "Bom dia amor!", Mirthes Mathias, Juerp, 1990)
Não fique procurando
cada ponto fraco meu
Se ninguém resiste a uma análise
profunda, quanto mais eu!
Ciumenta, exigente, insegura, carente
toda cheia de marcas que a vida deixou:
Veja em cada exigência
um grito de carência,
um pedido de amor!
Amor, amor é síntese,
uma integração de dados:
não há que tirar nem pôr.
Não me corte em fatias,
(ninguém abraça um pedaço),
me envolva todo em seus braços
E eu serei perfeita, amor!
(Do livro "Bom dia amor!", Mirthes Mathias, Juerp, 1990)
domingo, 25 de setembro de 2011
Consumir conscientemente o gozo e a dor
"Hoje é dia de rock, bebê!", disse uma alucinada Cristiane Torloni, em frase que aparecerá nas próximas revistas semanais. Mas, mesmo acompanhando e gostando do Rock in Rio, minha paixão continua sendo a boa música brasileira. Como, por exemplo, essa belezura da Anelis Assumpção:
Amor sustentável
Eu quero ter uma vida sustentável com o meu amor
Ter um aquecedor solar pra aplacar nossas angústias
E um jardim de chuva pra escoar lágrimas ácidas
Dar uma mão de cal no caos
Reciclar o que perturba a mente
Usar só o bom que se sente
Eu quero ter uma vida bioagradável com o meu amor
Consumir conscientemente o gozo e a dor
Ser uma composteira pra aproveitar melhor os restos
Me jogar no esquenta global
E viver na intensidade
Os dias que restam
Eu quero ter uma vida sustentável com o meu amor
Consumir conscientemente gozo e angustias
Ser uma composteira pra aproveitar lágrimas acidas
Dar uma mão de caos no cal
E viver na intensidade
Os dias que restam
Um homem bateu em minha porta
E eu abri
Os olhos e vi flores brotando pelo chão
Abaixe suas armas
Deixe raiar o sol
Degele o meu peito
e tempere o clima
sal, pimenta, fogo, foguinho
Salada, saladinha
Bem temperadinha
Sal, pimenta, fogo, foguinho
Amor sustentável
Eu quero ter uma vida sustentável com o meu amor
Ter um aquecedor solar pra aplacar nossas angústias
E um jardim de chuva pra escoar lágrimas ácidas
Dar uma mão de cal no caos
Reciclar o que perturba a mente
Usar só o bom que se sente
Eu quero ter uma vida bioagradável com o meu amor
Consumir conscientemente o gozo e a dor
Ser uma composteira pra aproveitar melhor os restos
Me jogar no esquenta global
E viver na intensidade
Os dias que restam
Eu quero ter uma vida sustentável com o meu amor
Consumir conscientemente gozo e angustias
Ser uma composteira pra aproveitar lágrimas acidas
Dar uma mão de caos no cal
E viver na intensidade
Os dias que restam
Um homem bateu em minha porta
E eu abri
Os olhos e vi flores brotando pelo chão
Abaixe suas armas
Deixe raiar o sol
Degele o meu peito
e tempere o clima
sal, pimenta, fogo, foguinho
Salada, saladinha
Bem temperadinha
Sal, pimenta, fogo, foguinho
quarta-feira, 14 de setembro de 2011
domingo, 11 de setembro de 2011
será possível?
Quero a sua mão no meu cabelo. Que é pra desembaraçar meu pensamento. Quero respirar o teu perfume. Que é pra descongestionar meu peito.
Labirinto, MPB4
sábado, 27 de agosto de 2011
só se for agora
“(...) bastava que eu soubesse que o instante que se passa, passa definitivamente, e foi numa vertigem que me estirei queimado ao lado dela, me joguei inteiro numa só flecha, tinha veneno na ponta desta haste, e embalando nos braços a decisão de não mais adiar a vida, agarrei-lhe a mão num ímpeto ousado.”
(Raduan Nassar IN Lavoura Arcaica)
(Raduan Nassar IN Lavoura Arcaica)
quarta-feira, 24 de agosto de 2011
amor?
"... É que tem mais chão nos meus olhos
do que cansaço nas minhas pernas,
mais esperança nos meus passos
do que tristeza nos meus ombros,
mais estrada no meu coração
do que medo na minha cabeça..."
(Cora Coralina)
do que cansaço nas minhas pernas,
mais esperança nos meus passos
do que tristeza nos meus ombros,
mais estrada no meu coração
do que medo na minha cabeça..."
(Cora Coralina)
sábado, 20 de agosto de 2011
Um jeito
Meu amor é assim, sem nenhum pudor.
Quando aperta eu grito da janela
- ouve quem estiver passando -
ô fulano, vem depressa.
Tem urgência, medo de encanto quebrado,
é duro como osso duro.
Ideal eu tenho de amar como quem diz coisas:
quero é dormir com você, alisar seu cabelo,
espremer de suas costas as montanhas pequenininhas
de matéria branca. Por hora dou é grito e susto.
Pouca gente gosta.
Adélia Prado
Bagagem
Lisboa, Cotovia, 2002
Quando aperta eu grito da janela
- ouve quem estiver passando -
ô fulano, vem depressa.
Tem urgência, medo de encanto quebrado,
é duro como osso duro.
Ideal eu tenho de amar como quem diz coisas:
quero é dormir com você, alisar seu cabelo,
espremer de suas costas as montanhas pequenininhas
de matéria branca. Por hora dou é grito e susto.
Pouca gente gosta.
Adélia Prado
Bagagem
Lisboa, Cotovia, 2002
quarta-feira, 10 de agosto de 2011
segunda-feira, 8 de agosto de 2011
A Corrente do Bem
Sobre a importância dos laços:
Ter amigos felizes aumenta nossa chance de felicidade mais do que ganhar mais dinheiro. E, se esses amigos tiverem amigos felizes, nossa chance fica ainda maior. O curioso é que, estando contentes, acabamos atraindo mais amigos, que por sua vez também vão contribuir para o nosso bem-estar. É uma espiral ascendente positiva. Até mesmo o contato com desconhecidos pode nos afetar, como pode atestar qualquer um que saiu satisfeito de um restaurante depois de ter sido atendido com um sorriso. Nosso cérebro foi treinado para a empatia, para sentir o que o outro está sentindo, para imitar, mesmo sem perceber, as emoções e expressões faciais de quem está à nossa volta.
Fonte: Revista Vida Simples - Leia a reportagem completa (dica da queridíssima Juliana).
terça-feira, 2 de agosto de 2011
VII
Tu pedes-me a noção de ser concreta
...num sorriso num gesto que abstrai
a minha exactidão em estar repleta
do que mais fica quando de mim vai.
Tu pedes-me uma parcela de certeza
um desmentido do meu ser virtual
livre no resultado de pureza
da soma do meu bem e do meu mal.
Deixa-me assim ficar. E tu comigo
sem tempo na viagem de entender
o que persigo quando te persigo.
Deixa-me assim ficar no que consente
a minha alma no gosto de reter-te
essencial. Onde quer que te invente.
NATÁLIA CORREIA, in POEMAS (1955), in ANTOLOGIA POÉTICA
(org,. de Fernando Pinto do Amaral, Dom Quixote, 2002)
...num sorriso num gesto que abstrai
a minha exactidão em estar repleta
do que mais fica quando de mim vai.
Tu pedes-me uma parcela de certeza
um desmentido do meu ser virtual
livre no resultado de pureza
da soma do meu bem e do meu mal.
Deixa-me assim ficar. E tu comigo
sem tempo na viagem de entender
o que persigo quando te persigo.
Deixa-me assim ficar no que consente
a minha alma no gosto de reter-te
essencial. Onde quer que te invente.
NATÁLIA CORREIA, in POEMAS (1955), in ANTOLOGIA POÉTICA
(org,. de Fernando Pinto do Amaral, Dom Quixote, 2002)
sexta-feira, 29 de julho de 2011
muda pouco. bem pouco.
UM POEMINHA DE AMOR CONCRETO
da mesma forma que você dá o pão à mesa dá a mão um abraço da mesma forma que você dá um aviso um acorde dá um choque um chute um salto da mesma forma que você dá uma carona um passo dá uma força um recado da mesma forma que você dá uma bronca um tapa dá um duro uma gravata da mesma forma que você dá a luz uma ideia dá um gole uma festa da mesma forma que você dá uma rosa um beijo dá uma bala uma moeda da mesma que você dá boa tarde boa noite boas-vindas dá uma desculpa um tempo da mesma forma que você dá de cara dá de frente dá de ombros de bandinha da mesma forma que você não me dá a mínima não me dá ouvidos não me dá bola da mesma forma que você não dá o melhor de si eu dou o cu meu amor e daí
[De MARCELINO FREIRE, extraído do livro Amar É Crime,
Edith - visiteedith.com ]
da mesma forma que você dá o pão à mesa dá a mão um abraço da mesma forma que você dá um aviso um acorde dá um choque um chute um salto da mesma forma que você dá uma carona um passo dá uma força um recado da mesma forma que você dá uma bronca um tapa dá um duro uma gravata da mesma forma que você dá a luz uma ideia dá um gole uma festa da mesma forma que você dá uma rosa um beijo dá uma bala uma moeda da mesma que você dá boa tarde boa noite boas-vindas dá uma desculpa um tempo da mesma forma que você dá de cara dá de frente dá de ombros de bandinha da mesma forma que você não me dá a mínima não me dá ouvidos não me dá bola da mesma forma que você não dá o melhor de si eu dou o cu meu amor e daí
[De MARCELINO FREIRE, extraído do livro Amar É Crime,
Edith - visiteedith.com ]
A despedideira
Há mulheres que querem que o seu homem seja o Sol. O meu quero-o nuvem. Há mulheres que falam na voz do seu homem. O meu que seja calado e eu, nele, guarde meus silêncios. Para que ele seja a minha voz quando Deus me pedir contas.
No resto, quero que tenha medo e me deixe ser mulher, mesmo que nem sempre sua. Que ele seja homem em breves doses. Que exista em marés, no ciclo das águas e dos ventos. E, vez em quando, seja mulher, tanto quanto eu. As suas mãos as quero firmes quando me despir. Mas ainda mais quero que ele me saiba vestir. Como se eu mesma me vestisse e ele fosse a mão da minha vaidade.
Há muito tempo, me casei, também eu. Dispensei uma vida com esse alguém. Até que ele foi. Quando me deixou, já não me deixou a mim. Que eu já era outra, habilitada a ser ninguém. Às vezes, contudo, ainda me adoece uma saudade desse homem. Lembro o tempo em que me encantei, tudo era um princípio. Eu era nova, dezanovinha.
Quando ele me dirigiu palavra, nesse primeirissímo dia, dei conta de que, até então, nunca eu tinha falado com ninguém. O que havia feito era comercia palavra, em negoceio de sentimento. Falar é outra coisa, é essa ponte sagrada em que ficamos pendentes, suspensos sobre o abismo. Falar é outra coisa vos digo. Dessa vez, com esse homem, na palavra e me divinizei. Como perfume em que perdesse minha própria aparência. Me solvia na fala, insubstanciada.
Lembro desse encontro, dessa primogénita primeira vez. Como se aquele momento fosse, afinal toda minha vida. Aconteceu aqui, neste mesmo pátio em que agora o espero. Era uma tarde boa para gente existir. O mundo cheirava a casa. O ar por a parava. A brisa sem voar, quase nidificava. Vez voz, os olhos e os olhares. Ele, em minha frente todo chegado como se a sua única viagem tivesse sido para a minha vida.
No entanto, algo nele aparentava distância. O último escapava entre os seus dedos. Não levava o cigarro à boca. Em seu parado gesto, o tabaco aí mesmo se consumia.
Ele gostava assim: a inteira cinza tombando intacta no chão. Pois eu tombei igualzinha àquela cinza. Desabei inteira sob o corpo dele Depois, me desfiz em poeira, toda estrelada no chão. As mãos dele: o vento espalhando cinzas.
Nesse mesmo pátio em que se estreava me coração tudo iria, afinal, acabar. Porque ele anunciou tudo nesse poente. Que a paixão dele desbrilhara. Sem mais nada, nem outra mulher havendo Só isso: a murchidão do que, antes, florescia. Eu insisti, louca de tristeza. Não havia mesmo outra mulher? Não havia. O único intruso era o tempo, que nossa rotina deixara crescer e pesar. Ele se chegou me beijou a testa. Como se faz a um filho, um beijo longe da boca. Meu peito era um rio lavado, escoado no estuário do choro.
Era essa tarde, já descaída em escuro. Ressalvo. Diz-se que a tarde cai. Diz-se que a noite também cai. Mas eu encontro o contrário: a manhã é que cai. por um cansaço de luz, um suicídio da sombra. Lhe explico. São três os bichos que o tempo tem: manhã, tarde e noite. A noite é quem tem asas. Mas são asas de avestruz. Porque a noite as usa fechadas, ao serviço de nada. A tarde é a felina criatura. Espreguiçando, mandriosa, inventadora de sombras. A manhã, essa, é um caracol, em adolescente espiral. Sobe pelos muros, desenrodilha-se vagarosa. E tomba, no desamparo do meio-dia.
Deixem-me agora evocar, aos goles de lembrança. Enquanto espero que ele volte, de novo, a este pátio. Recordar tudo, de uma só vez, me dá sofrimento. Por isso, vou lembrando aos poucos. Me debruço na varanda e a altura me tonteia. Quase vou na vertigem. Sabem o que descobri? Que minha alma é feita de água. Não posso me debruçar tanto. Senão me entorno e ainda morro vazia, sem gota.
Porque eu não sou por mim. Existo reflectida, ardível em paixão. Como a lua: o que brilho é por luz de outro. A luz desse amante, luz dançando na água. Mesmo que surja assim, agora, distante e fria. Cinza de um cigarro nunca fumado.
Pedi-lhe que viesse uma vez mais. Para que, de novo, se despeça de mim. E passados os anos, tantos que já nem cabem na lembrança, eu ainda choro como se fosse a primeira despedida. Porque esse adeus, só esse aceno é meu, todo inteiramente meu. Um adeus à medida de meu amor.
Assim, ele virá para renovar despedidas. Quando a lágrima escorrer no meu rosto eu a sorverei, como quem bebe o tempo. Essa água é, agora, meu único alimento. Meu último alento. Já não tenho mais desse amor que a sua própria conclusão. Como quem tem um corpo apenas pela ferida de o perder. Por isso, refaço a despedida. Seja esse o modo de o meu amor se fazer eternamente nosso.
Toda a vida acreditei: amor é os dois se duplicarem em um. Mas hoje sinto: ser um é ainda muito. De mais. Ambiciono, sim, ser o múltiplo de nada, Ninguém no plural.
Ninguéns.
(Mia Couto)
No resto, quero que tenha medo e me deixe ser mulher, mesmo que nem sempre sua. Que ele seja homem em breves doses. Que exista em marés, no ciclo das águas e dos ventos. E, vez em quando, seja mulher, tanto quanto eu. As suas mãos as quero firmes quando me despir. Mas ainda mais quero que ele me saiba vestir. Como se eu mesma me vestisse e ele fosse a mão da minha vaidade.
Há muito tempo, me casei, também eu. Dispensei uma vida com esse alguém. Até que ele foi. Quando me deixou, já não me deixou a mim. Que eu já era outra, habilitada a ser ninguém. Às vezes, contudo, ainda me adoece uma saudade desse homem. Lembro o tempo em que me encantei, tudo era um princípio. Eu era nova, dezanovinha.
Quando ele me dirigiu palavra, nesse primeirissímo dia, dei conta de que, até então, nunca eu tinha falado com ninguém. O que havia feito era comercia palavra, em negoceio de sentimento. Falar é outra coisa, é essa ponte sagrada em que ficamos pendentes, suspensos sobre o abismo. Falar é outra coisa vos digo. Dessa vez, com esse homem, na palavra e me divinizei. Como perfume em que perdesse minha própria aparência. Me solvia na fala, insubstanciada.
Lembro desse encontro, dessa primogénita primeira vez. Como se aquele momento fosse, afinal toda minha vida. Aconteceu aqui, neste mesmo pátio em que agora o espero. Era uma tarde boa para gente existir. O mundo cheirava a casa. O ar por a parava. A brisa sem voar, quase nidificava. Vez voz, os olhos e os olhares. Ele, em minha frente todo chegado como se a sua única viagem tivesse sido para a minha vida.
No entanto, algo nele aparentava distância. O último escapava entre os seus dedos. Não levava o cigarro à boca. Em seu parado gesto, o tabaco aí mesmo se consumia.
Ele gostava assim: a inteira cinza tombando intacta no chão. Pois eu tombei igualzinha àquela cinza. Desabei inteira sob o corpo dele Depois, me desfiz em poeira, toda estrelada no chão. As mãos dele: o vento espalhando cinzas.
Nesse mesmo pátio em que se estreava me coração tudo iria, afinal, acabar. Porque ele anunciou tudo nesse poente. Que a paixão dele desbrilhara. Sem mais nada, nem outra mulher havendo Só isso: a murchidão do que, antes, florescia. Eu insisti, louca de tristeza. Não havia mesmo outra mulher? Não havia. O único intruso era o tempo, que nossa rotina deixara crescer e pesar. Ele se chegou me beijou a testa. Como se faz a um filho, um beijo longe da boca. Meu peito era um rio lavado, escoado no estuário do choro.
Era essa tarde, já descaída em escuro. Ressalvo. Diz-se que a tarde cai. Diz-se que a noite também cai. Mas eu encontro o contrário: a manhã é que cai. por um cansaço de luz, um suicídio da sombra. Lhe explico. São três os bichos que o tempo tem: manhã, tarde e noite. A noite é quem tem asas. Mas são asas de avestruz. Porque a noite as usa fechadas, ao serviço de nada. A tarde é a felina criatura. Espreguiçando, mandriosa, inventadora de sombras. A manhã, essa, é um caracol, em adolescente espiral. Sobe pelos muros, desenrodilha-se vagarosa. E tomba, no desamparo do meio-dia.
Deixem-me agora evocar, aos goles de lembrança. Enquanto espero que ele volte, de novo, a este pátio. Recordar tudo, de uma só vez, me dá sofrimento. Por isso, vou lembrando aos poucos. Me debruço na varanda e a altura me tonteia. Quase vou na vertigem. Sabem o que descobri? Que minha alma é feita de água. Não posso me debruçar tanto. Senão me entorno e ainda morro vazia, sem gota.
Porque eu não sou por mim. Existo reflectida, ardível em paixão. Como a lua: o que brilho é por luz de outro. A luz desse amante, luz dançando na água. Mesmo que surja assim, agora, distante e fria. Cinza de um cigarro nunca fumado.
Pedi-lhe que viesse uma vez mais. Para que, de novo, se despeça de mim. E passados os anos, tantos que já nem cabem na lembrança, eu ainda choro como se fosse a primeira despedida. Porque esse adeus, só esse aceno é meu, todo inteiramente meu. Um adeus à medida de meu amor.
Assim, ele virá para renovar despedidas. Quando a lágrima escorrer no meu rosto eu a sorverei, como quem bebe o tempo. Essa água é, agora, meu único alimento. Meu último alento. Já não tenho mais desse amor que a sua própria conclusão. Como quem tem um corpo apenas pela ferida de o perder. Por isso, refaço a despedida. Seja esse o modo de o meu amor se fazer eternamente nosso.
Toda a vida acreditei: amor é os dois se duplicarem em um. Mas hoje sinto: ser um é ainda muito. De mais. Ambiciono, sim, ser o múltiplo de nada, Ninguém no plural.
Ninguéns.
(Mia Couto)
quarta-feira, 20 de julho de 2011
Beta, Beta, Bethânia
Então ela chega e diz: "Dá
licença, rock and roll,
que a tia vai cantar o amor"
Os muitos darks que me perdoem, mas Maria Bethânia é fundamental. Sei, vocês vão dizer que ela é brega, careta, exagerada, melodramática. Pode ser. Mas essa coisa chamada vida onde estamos metidos até o pescoço, às vezes não é brega, careta, melodramática? A Vida é mais Nelson Rodrigues ou mais Clarice Lispector? Mais Augusto dos Anjos ou Emily Dickinson? Fassbinder ou Jacques Demy? Philip Glass ou Dead Kennedys? Mais Sex Pistols ou mais Cecília Meireles? Bukowski ou Bergman?
Tudo isso, sim, e muito mais. O engarrafamento às seis da tarde de uma sexta-feira de chuva, na marginal do Tietê, pode ser uma emoção-Titãs (tipo Bichos Escrotos). Transar com a garota prostituta da rua Augusta, de minissaia de couro e correntinha no tornozelo pode ser uma emoção-Dalton Trevisan. Dar um espirro bem na hora de dizer eu-te-amo pode ser uma emoção-Woody Allen. Assim por diante, cada coisa sendo uma coisa diferente. Porque o que vai sendo vivido e sentido por cada um é tão particular que, mesmo lugar comum ou já cantado em prosa e verso, é para sempre também único. Infinitiva e indivisivelmente subjetivo.
Nosa, como estou me dispersando. O que quero dizer é muito simples – adoro Maria Bethânia. Por um tempo, aposentei Eurythmics, The Cure, Talking Heads, Legião Urbana, Sting, Paul Simon – só consigo Bethânia.
Ando tomado por emoções-Bethânia. Essas, que estão morrendo à míngua, poque não é moderno ter emoções. Não é in sentir amor, envolver-se. Ficou out dizer coisas como “quero ficar com você/ e é tão fundo que eu posso dizer/ que o fim do mundo não vai chegar mais” ou “parece bolero/ te quero, te quero/ dizer que não quero/ teus beijos nunca mais” ou “quando os caminhos se separam/ não tem razão que dê mais jeito” ou “é tão difícil ficar sem você/ o teu amor é gostoso demais”. É burro cantar coisas que eu, tu, ele, nós sentimos? É brega ter desejos e carências e dores e suspiros assim, de gente?
Sentir não é brega. Ao contrário: não existe nada mais chique. Emocione-se e seja o rei de sua insensatez. Seja nobre, seja divino no desconcerto das emoções. Maria Bethânia é muito chique, e quase ninguém está vendo isso. Em Dezembros, sem querer fazer nenhuma revolução, ela chega e diz: “Dá licença, rock and roll, que a titia vai cantar o amor”. E eu peço: Crianças, cessem as guitarras, os teclados, os sintetizadores – um minuto só – e prestem atenção na voz quente dessa mulher linda do jeito inverso da beleza, cantando (que ousadia!) o amor.
Sei: a Aids está solta, e o que era possibilidade de amor agora é possibilidade de morte. Nem por isso é possível parar de amar. Você consegue? Eu, não. E não tenho medo. Sem platonismos, nem zen-budismos: quero que pinte o amor-Bethânia, dançar de rosto colado, pegar na mão à meia-luz, desenhar com a ponta dos dedos cada um dos teus traços, ficar de olho molhado só de te ver, de repente e, se for preciso, também virar a mesa, dar tapa na cara, escândalo na esquina, encher a cara de gim, te expulsar de casa e te pedir pra voltar.
Darks, pós-modernos, minimalistas, gliters, apocalípticos, concretistas, skinheads, me perdoem. Na noite de sábado, caminhando sozinho pela avenida Paulista, o quarto-crescente brilhando sobre a torre da TV Globo, uma vontade desesperada de ter alguém – as únicas canções que me vieram à mente para cantar baixinho foram canções de Bethânia. Doía fundo estar perdido na grande cidade, era completamente sem remédio ser só uma pessoazinha machucada. Mas brotou então um orgulho tão grande de ser ainda capaz de sentir o coração cheio de emoções-Bethânia que era quase como uma felicidade. Sangrada, do avesso – que importa? Era real, era vivo. Isso é muito, e Bethânia canta.
(Caio Fernando Abreu, Caderno 2 – O ESP – 1987)
Fonte: Blog Caio F Caio
sábado, 16 de julho de 2011
Ser sempre ao contrário das expectativas
Uma música (não sei bem qual), uma manhã de sábado igual a todas as outras, o corpo pesado da preguiça (e a cabeça sem saber se é verão, ou não). Ser sempre ao contrário das expectativas, das medidas dos olhares dos outros. Caminhar muito lentamente (o pé magoado e uma promessa de usar sempre sapatos que ficará eternamente por cumprir). As referências todas saindo pela rua, descascando-se a tinta das paredes. Algo que recomeça. Não um regresso. Um retro-avanço do processo.
***
Encantada com a prosa de Luís Felipe Cristóvão, escritor português. Mais aqui.
sexta-feira, 15 de julho de 2011
não se afobe não que nada é pra já...
... é um verso lindo e um dos mais belos já feitos por Chico Buarque. Mas é lindo na teoria, na canção, para cantar no ouvidinho... Agora, dizer que combina com a loucura que é a nossa vidinha diária? Acho um pouco demais. Quero viver agora, com todas as benesses e complicações que vêm junto. Intensamente, sem medos e sem culpas.
Quero tudo, agora e enquanto a chama arder. Pode, Arnaldo? rsrs
Foto: Carlos Herrera
O Amor
O Amor é finalmente
Um embaraço de pernas
Uma união de barrigas
Um breve temor de artérias.
Uma confusão de bocas
Uma batalha de veias,
Um rebuliço de ancas
Quem diz outra coisa, é besta.
(Gregório de Matos)
Despedida
E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir; foi triste. Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste, talvez tenha sido melhor assim, uma separação como às vezes acontece em um baile de carnaval — uma pessoa se perda da outra, procura-a por um instante e depois adere a qualquer cordão. É melhor para os amantes pensar que a última vez que se encontraram se amaram muito — depois apenas aconteceu que não se encontraram mais. Eles não se despediram, a vida é que os despediu, cada um para seu lado — sem glória nem humilhação.
Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, e também uma lembrança boa; que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades; nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um indefinível remorso; e um recôndito despeito.
E que houve momentos perfeitos que passaram, mas não se perderam, porque ficaram em nossa vida; que a lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão; mas que essa solidão ficou menos infeliz: que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho?
Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros verões; se eles vierem, nós os receberemos obedientes como as cigarras e as paineiras — com flores e cantos. O inverno — te lembras — nos maltratou; não havia flores, não havia mar, e fomos sacudidos de um lado para outro como dois bonecos na mão de um titeriteiro inábil.
Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um telefonema que não pôde haver; entretanto, é possível que não adiantasse nada. Para que explicações? Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o silêncio torna tudo menos penoso; lembremos apenas as coisas douradas e digamos apenas a pequena palavra: adeus.
A pequena palavra que se alonga como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo.
Rubem Braga
Extraído do livro "A Traição das Elegantes", Editora Sabiá – Rio de Janeiro, 1967, pág. 83.
Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, e também uma lembrança boa; que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades; nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um indefinível remorso; e um recôndito despeito.
E que houve momentos perfeitos que passaram, mas não se perderam, porque ficaram em nossa vida; que a lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão; mas que essa solidão ficou menos infeliz: que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho?
Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros verões; se eles vierem, nós os receberemos obedientes como as cigarras e as paineiras — com flores e cantos. O inverno — te lembras — nos maltratou; não havia flores, não havia mar, e fomos sacudidos de um lado para outro como dois bonecos na mão de um titeriteiro inábil.
Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um telefonema que não pôde haver; entretanto, é possível que não adiantasse nada. Para que explicações? Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o silêncio torna tudo menos penoso; lembremos apenas as coisas douradas e digamos apenas a pequena palavra: adeus.
A pequena palavra que se alonga como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo.
Rubem Braga
Extraído do livro "A Traição das Elegantes", Editora Sabiá – Rio de Janeiro, 1967, pág. 83.
segunda-feira, 11 de julho de 2011
just tell me where...
“Estudando exatamente onde guardar as impressões, o amor que não amadurecera, a possibilidade de que o amor não fosse amor ou o fosse até demais, a desumana velocidade com que tudo acontecera.”
(Adriana Lisboa in: Um beijo de colombina. Ed. Rocco, p. 72)
Eu roubo, mas credito. Essa lindeza de texto veio do blog da Vanessa, que é todo roubável, um texto melhor que o outro. Falo do Vem cá Luísa, me dá tua mão.
(Adriana Lisboa in: Um beijo de colombina. Ed. Rocco, p. 72)
Eu roubo, mas credito. Essa lindeza de texto veio do blog da Vanessa, que é todo roubável, um texto melhor que o outro. Falo do Vem cá Luísa, me dá tua mão.
quarta-feira, 29 de junho de 2011
uma caixa que se abre ao contrário
"Podias ter-me dito que ias sair da minha vida. A paixão é mesmo isto, nunca sabemos quando acaba ou se transforma em amor, e eu sabia que a tua paixão não iria resistir à erosão do tempo, ao frio dos dias, ao vazio da cama, ao silêncio da distância. Há um tempo para acreditar, um tempo para viver e um tempo para desistir, e nós tivemos muita sorte porque vivemos todos esses tempos no modo certo. Podias ter-me dito que querias conjugar o verbo desistir. Demorei muito tempo a aceitar que, às vezes, desistir é o mesmo que vencer, sem travar batalhas. Antigamente pensava que não, que quem desiste perde sempre, que a subtracção é a arma mais cobarde dos amantes, e o silêncio a forma mais injusta de deixar fenecer os sonhos. Mas a vida ensinou-me o contrário. Hoje sei que desistir é apenas um caminho possível, às vezes o único que os homens conhecem. Contigo aprendi que o amor é uma força misteriosa e divina. Sei que também aprendeste muito comigo, mais do que imaginas e do que agora consegues alcançar. Só o tempo te vai dar tudo o que de mim guardaste, esse tempo que é uma caixa que se abre ao contrário: de um lado estás tu, e do outro estou eu, a ver-te sem te poder tocar, a abraçar-te todas as noites antes de adormeceres e a cada manhã ao acordares. Não sei quando te voltarei a ver ou a ter notícias tuas, mas sabes uma coisa? Já não me importo, porque guardei-te no meu coração antes de partires. Numa noite perfeita entre tantas outras, liguei o meu coração ao teu com um fio invisível e troquei uma parte da tua alma com a minha, enquanto dormias."
(Fernando Alvim)
(Fernando Alvim)
terça-feira, 28 de junho de 2011
quinta-feira, 16 de junho de 2011
para o alto e avante, meu bem
"Eu quero mesmo é alguém me faça mudar completamente de opinião. Que faça meu corpo querer companhia nos momentos em que minha mente insiste pela solidão."
"Tô me aproximando de tudo que me faz completo,
me faz feliz e que me quer bem."
(Caio Fernando Abreu)
"Tô me aproximando de tudo que me faz completo,
me faz feliz e que me quer bem."
(Caio Fernando Abreu)
quarta-feira, 8 de junho de 2011
terça-feira, 7 de junho de 2011
espelho
Dentro da pele,
dentro da casa,
dentro do cosmo.
Entrar e sair de mim,
entrar e sair do mundo.
Eis-me prismática
em minha vida:
eu sou a casa,
eu sou a presa,
sou a janela.
Emissário de meu corpo,
saio e volto a minha cabeça,
a meu ventre,
a meu coração.
Entrar e sair de mim,
entrar e sair do mundo,
dançar o corpo entre
e refletir.
(Raiça Bonfim, que escreve lindo assim e lançará seu livro "10 pontes" no próximo dia 12/06 na Casa das Rosas, em SP)
dentro da casa,
dentro do cosmo.
Entrar e sair de mim,
entrar e sair do mundo.
Eis-me prismática
em minha vida:
eu sou a casa,
eu sou a presa,
sou a janela.
Emissário de meu corpo,
saio e volto a minha cabeça,
a meu ventre,
a meu coração.
Entrar e sair de mim,
entrar e sair do mundo,
dançar o corpo entre
e refletir.
(Raiça Bonfim, que escreve lindo assim e lançará seu livro "10 pontes" no próximo dia 12/06 na Casa das Rosas, em SP)
terça-feira, 31 de maio de 2011
sobre os detritos emocionais
Com honestidade
Ana Jácomo
De vez em quando, a água, por natureza cristalina, de lindas praias existentes na região dos afetos fica turva por detritos emocionais acumulados, nossos e alheios. Às vezes, é possível percebê-los e até identificá-los na superfície. Outras, não. Só o que dá pra perceber é a transparência prejudicada. O desconforto que nem mesmo a massagem das ondas consegue desmanchar. A espontaneidade que desaprendeu a fluir. Um aperto meio doído na garganta dos instantes compartilhados.
Os tais detritos, entre outras coisas, podem ser resíduos de achismos traiçoeiros, olhares estreitados, tristezas arqueológicas, cacos de carências, bobagens fermentadas, perdões mal costurados, medos cabíveis e outros que não cabem. Podem ser também resíduos de coisas inimagináveis, criadas durante trechos de silêncio ruidoso pela falta daquele raro diálogo que não se restringe ao andar da cabeça. Aquele que tem espaço para começar no coração. Aquele que é lugar onde ninguém precisa se defender de ninguém para oferecer proteção a si mesmo. Aquele que quando não acontece às vezes se transforma em dois monólogos esquisitíssimos, feitos de equívocos e sentimentos embolados pelas mãos da confusão.
A verdade é que, embora quiséssemos, não encontramos uns com os outros ao longo da extensa orla da existência só para compartilhar banhos aprazíveis em mar de águas claras, clima ameno, riso farto, coco gelado ou uma cerveja boa. A ideia é ótima, e deve ser desfrutada tanto quanto seja possível, mas não é só essa. Os encontros, sobretudo aqueles que acontecem com potencial pra trazer à tona os seres amorosos que, por essência, já somos, evidenciam nossas belezas sem reservas, mas podem também turvar as águas de quando em quando. Uma hora costuma acontecer, coisas nossas, coisas alheias. Geralmente, chamamos isso de problema, mas um nome também adequado é oportunidade.
Quando acontece, a gente às vezes fica tão assustado que tenta se convencer por a mais b que os detritos são só do outro e as belezas são só nossas. Outras vezes, pode se afastar correndo da beira da praia e deixar o outro se virar sozinho com os resíduos todos, os dele e os nossos. Outras também, inábeis, estabanados, como costumam ser as pessoas que estão começando a aprender a amar, podemos só conseguir revolver os detritos e espalhá-los ainda mais, no afã de resgatar de qualquer jeito a transparência comprometida.
Talvez nesses momentos o gesto mais promissor e generoso possível seja, com toda a calma que soubermos, começar a sair do monólogo esquisito para dialogar a partir do coração. Talvez seja arriscar descobrirmos juntos o que está turvando a água antes que ela se torne mais poluída. E, se o sentimento compartilhado realmente for bacana e precioso para as duas vidas, quem sabe pedir uma para a outra com honestidade: “não desiste de mim.”
Ana Jácomo
De vez em quando, a água, por natureza cristalina, de lindas praias existentes na região dos afetos fica turva por detritos emocionais acumulados, nossos e alheios. Às vezes, é possível percebê-los e até identificá-los na superfície. Outras, não. Só o que dá pra perceber é a transparência prejudicada. O desconforto que nem mesmo a massagem das ondas consegue desmanchar. A espontaneidade que desaprendeu a fluir. Um aperto meio doído na garganta dos instantes compartilhados.
Os tais detritos, entre outras coisas, podem ser resíduos de achismos traiçoeiros, olhares estreitados, tristezas arqueológicas, cacos de carências, bobagens fermentadas, perdões mal costurados, medos cabíveis e outros que não cabem. Podem ser também resíduos de coisas inimagináveis, criadas durante trechos de silêncio ruidoso pela falta daquele raro diálogo que não se restringe ao andar da cabeça. Aquele que tem espaço para começar no coração. Aquele que é lugar onde ninguém precisa se defender de ninguém para oferecer proteção a si mesmo. Aquele que quando não acontece às vezes se transforma em dois monólogos esquisitíssimos, feitos de equívocos e sentimentos embolados pelas mãos da confusão.
A verdade é que, embora quiséssemos, não encontramos uns com os outros ao longo da extensa orla da existência só para compartilhar banhos aprazíveis em mar de águas claras, clima ameno, riso farto, coco gelado ou uma cerveja boa. A ideia é ótima, e deve ser desfrutada tanto quanto seja possível, mas não é só essa. Os encontros, sobretudo aqueles que acontecem com potencial pra trazer à tona os seres amorosos que, por essência, já somos, evidenciam nossas belezas sem reservas, mas podem também turvar as águas de quando em quando. Uma hora costuma acontecer, coisas nossas, coisas alheias. Geralmente, chamamos isso de problema, mas um nome também adequado é oportunidade.
Quando acontece, a gente às vezes fica tão assustado que tenta se convencer por a mais b que os detritos são só do outro e as belezas são só nossas. Outras vezes, pode se afastar correndo da beira da praia e deixar o outro se virar sozinho com os resíduos todos, os dele e os nossos. Outras também, inábeis, estabanados, como costumam ser as pessoas que estão começando a aprender a amar, podemos só conseguir revolver os detritos e espalhá-los ainda mais, no afã de resgatar de qualquer jeito a transparência comprometida.
Talvez nesses momentos o gesto mais promissor e generoso possível seja, com toda a calma que soubermos, começar a sair do monólogo esquisito para dialogar a partir do coração. Talvez seja arriscar descobrirmos juntos o que está turvando a água antes que ela se torne mais poluída. E, se o sentimento compartilhado realmente for bacana e precioso para as duas vidas, quem sabe pedir uma para a outra com honestidade: “não desiste de mim.”
quarta-feira, 25 de maio de 2011
alguém se habilita?
Quem um dia irá dizer
que existe razão
nas coisas feitas pelo coração.
E quem irá dizer
que não existe razão.
que existe razão
nas coisas feitas pelo coração.
E quem irá dizer
que não existe razão.
segunda-feira, 23 de maio de 2011
c'est la vie!
O corte cicatriza, a angústia passa, o medo pode ser vencido, as lágrimas secam, a música acaba... assim como o melhor dia de sua vida também chega ao fim, para que outros possam vir.
Deveria, mas nem de longe consanguinidade é sinônimo de amor e respeito. Tudo muda e algumas coisas se transformam... Fé impulsiona a força, o medo é o principal incentivador da coragem.
Quem erra tentando, aprende muito mais do que aquele que prefere não arriscar. O amor romântico pode se tornar amizade e a amizade pode se tornar amor.
C'est la vie!
Perfeito, não?! Roubado da querida da Cynthia Gonçalves, do Hoje sou Assim.
Deveria, mas nem de longe consanguinidade é sinônimo de amor e respeito. Tudo muda e algumas coisas se transformam... Fé impulsiona a força, o medo é o principal incentivador da coragem.
Quem erra tentando, aprende muito mais do que aquele que prefere não arriscar. O amor romântico pode se tornar amizade e a amizade pode se tornar amor.
C'est la vie!
Perfeito, não?! Roubado da querida da Cynthia Gonçalves, do Hoje sou Assim.
sexta-feira, 13 de maio de 2011
Soul Mate Indicators Tabajara
O blog “4 life self help” dá as seguintes dicas para as mulheres descobrirem se estão saindo com suas “almas gêmeas":
-Alguém com quem você se sente segura, não manipulada ou intimidada.
-A parceria deve ser equilibrada e positiva.
-Ele vai te amar pelo o que você é, sem pedir que você se torne outra pessoa.
-Ele vai te encorajar em seus empreendimentos e sonhos e ter prazer nas suas realizações.
-A relação tem que ser saudável e engraçada.
-A grande prioridade dele é a relação com você.
-Vocês trabalham como um time para resolver problemas e não para piorar problemas.
Comentários dessa colunista:
Se você quase sempre se apaixona por pessoas que te provocam, que esperam que você seja mesmo melhor do que é, que te beliscam o ego, que te torcem as certezas, que lançam fogo no lago calmo e azul da sua mente. Se você transa melhor com aquela pessoa que te irrita. Se você conversa melhor com aquela pessoa que pode discordar, se você vê mais beleza nas faíscas, nas fagulhas. Se você tem você como grande prioridade, ainda que estar apaixonado seja sua grande prioridade. Se você até tenta resolver o problema mas, por causa dos seus problemas, acaba complicando um pouco as coisas. Se você ri bastante mas também é um pouco deprê. E gosta de gente engraçada que também é um pouco deprê. Porque a graça real vem da tragédia que é estar vivo. Se você tem inveja de quem ama, apenas porque ama tanto que às vezes gostaria de viver dentro da pessoa. Ou só porque a inveja e o amor são coisas que nos acometem e não tem muito o que fazer. Se você tenta caminhar na corda bamba, mas vive esfolado, machucado e tonto, de tanto cair. Se você às vezes manipula e intimida e não deixa segura a pessoa amada, porque você é estragado de cabeça e de coração. Mas também abraça, pede desculpas e vomita tanta sinceridade que consegue ter charme e pureza nas maldades. Enfim, se você é errado e não serve pra alma gêmea de ninguém, talvez eu seja sua alma gêmea.
(Tati Bernardi)
Sensacional, não?! Eu me vi muito neste comentário dela. Muito mesmo.
Original aqui.
-Alguém com quem você se sente segura, não manipulada ou intimidada.
-A parceria deve ser equilibrada e positiva.
-Ele vai te amar pelo o que você é, sem pedir que você se torne outra pessoa.
-Ele vai te encorajar em seus empreendimentos e sonhos e ter prazer nas suas realizações.
-A relação tem que ser saudável e engraçada.
-A grande prioridade dele é a relação com você.
-Vocês trabalham como um time para resolver problemas e não para piorar problemas.
Comentários dessa colunista:
Se você quase sempre se apaixona por pessoas que te provocam, que esperam que você seja mesmo melhor do que é, que te beliscam o ego, que te torcem as certezas, que lançam fogo no lago calmo e azul da sua mente. Se você transa melhor com aquela pessoa que te irrita. Se você conversa melhor com aquela pessoa que pode discordar, se você vê mais beleza nas faíscas, nas fagulhas. Se você tem você como grande prioridade, ainda que estar apaixonado seja sua grande prioridade. Se você até tenta resolver o problema mas, por causa dos seus problemas, acaba complicando um pouco as coisas. Se você ri bastante mas também é um pouco deprê. E gosta de gente engraçada que também é um pouco deprê. Porque a graça real vem da tragédia que é estar vivo. Se você tem inveja de quem ama, apenas porque ama tanto que às vezes gostaria de viver dentro da pessoa. Ou só porque a inveja e o amor são coisas que nos acometem e não tem muito o que fazer. Se você tenta caminhar na corda bamba, mas vive esfolado, machucado e tonto, de tanto cair. Se você às vezes manipula e intimida e não deixa segura a pessoa amada, porque você é estragado de cabeça e de coração. Mas também abraça, pede desculpas e vomita tanta sinceridade que consegue ter charme e pureza nas maldades. Enfim, se você é errado e não serve pra alma gêmea de ninguém, talvez eu seja sua alma gêmea.
(Tati Bernardi)
Sensacional, não?! Eu me vi muito neste comentário dela. Muito mesmo.
Original aqui.
terça-feira, 3 de maio de 2011
Um sistema de relação
Considere-se o caso em que A é igual a 1.
Obtém-se a função ípsilon igual a X à vida inteira
partindo da convicção que nenhum amor é para sempre
sendo A o mínimo absoluto do que és capaz de amar
e 1 uma falha de expressão comum ao tempo
em que sofrias fechada num quarto
a sentir uma régua de luz com origem sobre o teu rosto
a definir a região inundada do teu espaço
à medida que o tempo ocupa uma parte da cidade
e a tua situação representada numa estação de comboios
onde o esquema da vida se define por perpendiculares
aos dias cruzados na tua memória
sendo cada dia um gesto que te posiciona
em relação a todos os medos
mentiras de origem abjectas
e a proporção de ípsilon na mais estranha irracionalidade
no centro de um jardim onde se passeia geometricamente
apenas com o pensamento intimamente ligado
por símbolos de circunferência e dimensões harmoniosas
comparando o valor da vida à mais bela arquitectura
da experiência e da perda
um processo prático desenvolvido no laboratório
das horas mais simples e gráficas
ordenadas de uma forma circular
no teu caso um valor compreendido
entre duas questões humanas
por comparação do que foi destruído
pois há uma maior concentração de tristeza nos teus olhos
se designarmos por sofrimento algumas atitudes provocadas por 1
e se traçarmos duas rectas de amor paralelas à desigualdade de amar
e que passem pelos dias intuitivamente felizes
nesse quarto classificado de nuvens pesadas
onde a tua vida é agora inferior à média da felicidade
se concluirmos que o estado de ser feliz é um ponto diário
que varia de predominância e influência
nos tempos nulos condenados e negativos
na figura mínima encostada ao balcão do álcool
numa noite de cubos de gelo
e o que uma bebida especial
servida à mistura com a estratégia das palavras fez dos teus planos
calculando agora o valor referente aos lucros do amor e das promessas
introduz as marcas do teu corpo e obténs as medidas do teu prejuízo
define o tempo correspondente a cada acto de amor
seleccionando o menu da tua experiência
e tens uma lista que confirma o historial da tua personalidade
para que função o problema X tem significado
se o volume da tua casa tem todas as janelas fechadas
e o teu corpo é um fio de comprimento que mede a solidão dos dias
ou se os teus braços já não traçam uma recta de prazer abaixo da cintura
ou ainda se o teu sexo é um foco distante que se fecha em curva
e não há intersecção nem arco entre dois corpos
considerando as arestas da tua vida propriedade de defesa
uma estimativa do tempo ao fim do qual tudo se perde
e tens deste modo um amor protagonizado pelo desespero
sujeito às regras da obediência e da ilusão.
Fernando Esteves Pinto
em Os Dias do Amor (antologia)
2009, Ministério dos Livros
Obtém-se a função ípsilon igual a X à vida inteira
partindo da convicção que nenhum amor é para sempre
sendo A o mínimo absoluto do que és capaz de amar
e 1 uma falha de expressão comum ao tempo
em que sofrias fechada num quarto
a sentir uma régua de luz com origem sobre o teu rosto
a definir a região inundada do teu espaço
à medida que o tempo ocupa uma parte da cidade
e a tua situação representada numa estação de comboios
onde o esquema da vida se define por perpendiculares
aos dias cruzados na tua memória
sendo cada dia um gesto que te posiciona
em relação a todos os medos
mentiras de origem abjectas
e a proporção de ípsilon na mais estranha irracionalidade
no centro de um jardim onde se passeia geometricamente
apenas com o pensamento intimamente ligado
por símbolos de circunferência e dimensões harmoniosas
comparando o valor da vida à mais bela arquitectura
da experiência e da perda
um processo prático desenvolvido no laboratório
das horas mais simples e gráficas
ordenadas de uma forma circular
no teu caso um valor compreendido
entre duas questões humanas
por comparação do que foi destruído
pois há uma maior concentração de tristeza nos teus olhos
se designarmos por sofrimento algumas atitudes provocadas por 1
e se traçarmos duas rectas de amor paralelas à desigualdade de amar
e que passem pelos dias intuitivamente felizes
nesse quarto classificado de nuvens pesadas
onde a tua vida é agora inferior à média da felicidade
se concluirmos que o estado de ser feliz é um ponto diário
que varia de predominância e influência
nos tempos nulos condenados e negativos
na figura mínima encostada ao balcão do álcool
numa noite de cubos de gelo
e o que uma bebida especial
servida à mistura com a estratégia das palavras fez dos teus planos
calculando agora o valor referente aos lucros do amor e das promessas
introduz as marcas do teu corpo e obténs as medidas do teu prejuízo
define o tempo correspondente a cada acto de amor
seleccionando o menu da tua experiência
e tens uma lista que confirma o historial da tua personalidade
para que função o problema X tem significado
se o volume da tua casa tem todas as janelas fechadas
e o teu corpo é um fio de comprimento que mede a solidão dos dias
ou se os teus braços já não traçam uma recta de prazer abaixo da cintura
ou ainda se o teu sexo é um foco distante que se fecha em curva
e não há intersecção nem arco entre dois corpos
considerando as arestas da tua vida propriedade de defesa
uma estimativa do tempo ao fim do qual tudo se perde
e tens deste modo um amor protagonizado pelo desespero
sujeito às regras da obediência e da ilusão.
Fernando Esteves Pinto
em Os Dias do Amor (antologia)
2009, Ministério dos Livros
palavras, apenas?!
Apoderava-se das minhas palavras
como se fossem uma toalha do seu rosto
alguns utensílios reservados para a sua vida.
Eu escrevia casa e a casa teria de ser a defesa do nosso amor.
Eu escrevia cama e a cama transformava-se num jogo de silêncio.
Vivia por trás da minha escrita
como se preenchesse a alma de tudo o que não entendia.
Queria que eu mobilasse a vida só com palavras
breves imagens que fossem o retrato do meu pensamento.
Eu proporcionava-lhe a felicidade como um enigma
em cada palavra um sentimento formalmente virtual
depois abandonava-a com a ilusão do espaço decorativo.
Fernando Esteves Pinto
em Área Afectada
ed: Temas Originais, 2010
como se fossem uma toalha do seu rosto
alguns utensílios reservados para a sua vida.
Eu escrevia casa e a casa teria de ser a defesa do nosso amor.
Eu escrevia cama e a cama transformava-se num jogo de silêncio.
Vivia por trás da minha escrita
como se preenchesse a alma de tudo o que não entendia.
Queria que eu mobilasse a vida só com palavras
breves imagens que fossem o retrato do meu pensamento.
Eu proporcionava-lhe a felicidade como um enigma
em cada palavra um sentimento formalmente virtual
depois abandonava-a com a ilusão do espaço decorativo.
Fernando Esteves Pinto
em Área Afectada
ed: Temas Originais, 2010
segunda-feira, 2 de maio de 2011
sobre as coisas belas e simples
E não é que a Ana Jácomo colocou em palavras tudo que sinto sobre a importância das pequenas coisas?
Tenho aprendido com o tempo que a felicidade vibra na frequência das coisas mais simples. Que o que amacia a vida, acende o riso, convida a alma pra brincar, são essas imensas coisas pequeninas bordadas com fios de luz no tecido áspero do cotidiano. Como o toque bom do sol quando pousa na pele. A solidão que é encontro. O café da manhã com pão quentinho e sonho compartilhado. A lua quando o olhar é grande. A doçura contente de um cafuné sem pressa. O trabalho que nos erotiza. Os instantes em que repousamos os olhos em olhos amados. O poema que parece que fomos nós que escrevemos. A força da areia molhada sob os pés descalços. O sono relaxado que põe tudo pra dormir. A presença da intimidade legítima. A música que nos faz subir de oitava. A delicadeza desenhada de improviso. O banho bom que reinventa o corpo. O cheiro de terra. O cheiro de chuva. O cheiro do tempero do feijão da infância. O cheiro de quem se gosta. O acorde daquela risada que acorda tudo na gente. Essas coisas. Outras coisas. Todas, simples assim.
Ana Jácomo
Tenho aprendido com o tempo que a felicidade vibra na frequência das coisas mais simples. Que o que amacia a vida, acende o riso, convida a alma pra brincar, são essas imensas coisas pequeninas bordadas com fios de luz no tecido áspero do cotidiano. Como o toque bom do sol quando pousa na pele. A solidão que é encontro. O café da manhã com pão quentinho e sonho compartilhado. A lua quando o olhar é grande. A doçura contente de um cafuné sem pressa. O trabalho que nos erotiza. Os instantes em que repousamos os olhos em olhos amados. O poema que parece que fomos nós que escrevemos. A força da areia molhada sob os pés descalços. O sono relaxado que põe tudo pra dormir. A presença da intimidade legítima. A música que nos faz subir de oitava. A delicadeza desenhada de improviso. O banho bom que reinventa o corpo. O cheiro de terra. O cheiro de chuva. O cheiro do tempero do feijão da infância. O cheiro de quem se gosta. O acorde daquela risada que acorda tudo na gente. Essas coisas. Outras coisas. Todas, simples assim.
Ana Jácomo
sexta-feira, 29 de abril de 2011
quinta-feira, 28 de abril de 2011
who am I?
Além de termos o mesmo lindo (!) nome, Camilla Costa verbalizou com precisão o que sinto:
(...) "Uma descrição sincera diria: Meu nome é Camilla. Eu não sofro de falsa modéstia, mas de uma dificuldade crônica de enxergar meus caminhos e capacidades. Eu quero que gostem de mim. Me aplico punições psicológicas quando vejo que pessoas semelhantes a mim já fizeram coisas mais relevantes do que eu. Quero tudo da Barbie quando a Porta da Esperança se abrir."
(por Camilla Costa - texto completo aqui)
(...) "Uma descrição sincera diria: Meu nome é Camilla. Eu não sofro de falsa modéstia, mas de uma dificuldade crônica de enxergar meus caminhos e capacidades. Eu quero que gostem de mim. Me aplico punições psicológicas quando vejo que pessoas semelhantes a mim já fizeram coisas mais relevantes do que eu. Quero tudo da Barbie quando a Porta da Esperança se abrir."
(por Camilla Costa - texto completo aqui)
quarta-feira, 20 de abril de 2011
sobre os acontecimentos recentes
"Você nunca está comigo de verdade." Essa frase, dita para mim por uma amiga muito querida, se juntou com a sequência de desastres que vem ocorrendo com outras duas pessoas que chegaram de forma muito intensa e foram muito importantes ao longo do ano de 2010. Eu preciso reavaliar as minhas prioridades, as minhas escolhas e as coisas e pessoas que deixo passar. As três reclamaram muito, e com razão. Eu falhei várias vezes, e preciso mudar de uma vez por todas.
Não é recadinho, é desabafo mesmo. Sei que estou errada, sei que preciso achar meu caminho, como também sei que só com vocês conseguirei ir até o fim.
Obrigada por não desistirem. Prometo melhorar. Amo vocês.
Não é recadinho, é desabafo mesmo. Sei que estou errada, sei que preciso achar meu caminho, como também sei que só com vocês conseguirei ir até o fim.
Obrigada por não desistirem. Prometo melhorar. Amo vocês.
segunda-feira, 4 de abril de 2011
III
A minha Casa é guardiã do meu corpo
E protetora de todas minhas ardências.
E transmuta em palavra
Paixão e veemência
E minha boca se faz fonte de prata
Ainda que eu grite à Casa que só existo
Para sorver a água da tua boca.
A minha Casa, Dionísio, te lamenta
E manda que eu te pergunte assim de frente:
A uma mulher que canta ensolarada
E que é sonora, múltipla, argonauta
Por que recusas amor e permanência?
(HILDA HILST)
E protetora de todas minhas ardências.
E transmuta em palavra
Paixão e veemência
E minha boca se faz fonte de prata
Ainda que eu grite à Casa que só existo
Para sorver a água da tua boca.
A minha Casa, Dionísio, te lamenta
E manda que eu te pergunte assim de frente:
A uma mulher que canta ensolarada
E que é sonora, múltipla, argonauta
Por que recusas amor e permanência?
(HILDA HILST)
é preciso saber viver
No trabalho, no amor, na vida:
"É importante conhecer bem as regras
pelo prazer de saber quebrá-las."
Gostei disso. Afinal, a vida seria muito chata se beirasse a perfeição, vamos combinar. ;-)
"É importante conhecer bem as regras
pelo prazer de saber quebrá-las."
Gostei disso. Afinal, a vida seria muito chata se beirasse a perfeição, vamos combinar. ;-)
sábado, 2 de abril de 2011
quarta-feira, 30 de março de 2011
Maria, Maria
Não gosto de quem posa de inteligente, culto e letrado. Mesmo porque por mais inteligente, culto e letrado que você seja, cá pra nós, tenho certeza que vez ou outra passa os olhos na Contigo. Ou em qualquer site fofoqueiro. Ou na coluna social. Ou no Faustão. Ou no Big Brother. Além disso, não acho que assistir baboseiras seja atestado de inteligência e/ou esperteza. Eu, por exemplo, vejo o Big Brother pra rir. Leio livros que os mais intelectualizados (?) condenam para relaxar, me divertir, esquecer um pouco as asperezas da vida. A verdade é que tem muita gente fazendo pose por aí, mas lá no fundo adora ouvir uma música brega. Mas esse já é outro assunto. Hoje eu quero falar da Maria.
Sabe a Maria do Big Brother? A Maria, aquela que teve um rápido affair com o nada-bonito-Maurício. Maria, aquela que depois que o nada-bonito saiu da casa arrastou asa para o Wesley. Maria, que depois que o Maurício voltou pra casa se arrependeu. Maria, aquela que bebe e mostra a bunda na televisão. Maria, aquela que diz Maurício-gosto-de-você baixinho no ouvido. Maria, aquela que perde o foco, a noção, o norte, o jeito, o gesto. Maria, aquela que esquece a dignidade no fundo do copo. Maria, aquela que ataca o cara, chora pelo cara, quer de todo o jeito beijar o cara, é louca pelo cara, tarada, maníaca, doente. Pois bem, essa é Maria. Maria, que já foi uma das Felinas. Maria que, diz a lenda, já fez uns bicos na profissão mais antiga do mundo.
Não me importo com o passado da Maria. E eu digo: gosto da Maria, pois o que importa é o que a Maria representa, o que a Maria é, o que a Maria nos faz ver. Eu me enxergo na Maria. Eu enxergo muitas mulheres na Maria. E eu repito Maria-Maria-Maria. A Maria representa nossas lágrimas, nosso rímel borrado, nossos porres, nossas ligações na madrugada, nossos fiascos, nossas insanidades. A Maria representa aquela mulher que já perdeu a cabeça e o juízo por causa de um homem. A Maria é aquele comportamento que você teve sábado passado quando, bêbada e ofendida, mandou 34 mensagens para o celular do ex-namorado.
A Maria sou eu há 5 anos atrás, que corria atrás de um cara que me fazia de gato e sapato. Maria é aquela moça que insiste em manter uma relação com um cara que tem namorada. Maria é aquela que gosta, tem uma inocência no peito, uma ilusão na boca, uma incoerência no olhar. Maria é aquela que acredita em palavras, se apega e quer ir até o fim. Maria é aquela que acha que o passado dita a moda do presente. Maria é aquela que não pensa antes de falar - e age como dá na telha. Maria é impulsividade, calor, vontade. Maria é a falta de vergonha em se expor.
A Maria, minha amiga, é a inimiga íntima de toda mulher.
(Clarissa Corrêa - Texto extraído do blog Imaginário)
PS1: Não fique chocado(a). Eu não deixei de gostar de cultura ou ser menos inteligente por acompanhar um ou outro dia de Big Brother. Sei que o programa deve ser manipulado, que todos lá dentro exercem um personagem e pouca coisa útil se salva, mas quem disse que eu preciso consumir coisas super refinadas o tempo inteiro? Tenho um lado trash, sim. Que se manifesta em algumas noites de paredão e em algumas noites de balada também. Quem já foi na Trash80´s ou já provou o aclamado #Oculto sabe bem do que eu estou falando. Rs
PS2: Maria é fofa, carente até o último fio de cabelo alisado, engraçada, tonta, lesada, passional. Muitas em uma, assim como yo e muitas mulheres que eu conheço. Não tem como não achar graça e se identificar. ;-)
Sabe a Maria do Big Brother? A Maria, aquela que teve um rápido affair com o nada-bonito-Maurício. Maria, aquela que depois que o nada-bonito saiu da casa arrastou asa para o Wesley. Maria, que depois que o Maurício voltou pra casa se arrependeu. Maria, aquela que bebe e mostra a bunda na televisão. Maria, aquela que diz Maurício-gosto-de-você baixinho no ouvido. Maria, aquela que perde o foco, a noção, o norte, o jeito, o gesto. Maria, aquela que esquece a dignidade no fundo do copo. Maria, aquela que ataca o cara, chora pelo cara, quer de todo o jeito beijar o cara, é louca pelo cara, tarada, maníaca, doente. Pois bem, essa é Maria. Maria, que já foi uma das Felinas. Maria que, diz a lenda, já fez uns bicos na profissão mais antiga do mundo.
Não me importo com o passado da Maria. E eu digo: gosto da Maria, pois o que importa é o que a Maria representa, o que a Maria é, o que a Maria nos faz ver. Eu me enxergo na Maria. Eu enxergo muitas mulheres na Maria. E eu repito Maria-Maria-Maria. A Maria representa nossas lágrimas, nosso rímel borrado, nossos porres, nossas ligações na madrugada, nossos fiascos, nossas insanidades. A Maria representa aquela mulher que já perdeu a cabeça e o juízo por causa de um homem. A Maria é aquele comportamento que você teve sábado passado quando, bêbada e ofendida, mandou 34 mensagens para o celular do ex-namorado.
A Maria sou eu há 5 anos atrás, que corria atrás de um cara que me fazia de gato e sapato. Maria é aquela moça que insiste em manter uma relação com um cara que tem namorada. Maria é aquela que gosta, tem uma inocência no peito, uma ilusão na boca, uma incoerência no olhar. Maria é aquela que acredita em palavras, se apega e quer ir até o fim. Maria é aquela que acha que o passado dita a moda do presente. Maria é aquela que não pensa antes de falar - e age como dá na telha. Maria é impulsividade, calor, vontade. Maria é a falta de vergonha em se expor.
A Maria, minha amiga, é a inimiga íntima de toda mulher.
(Clarissa Corrêa - Texto extraído do blog Imaginário)
PS1: Não fique chocado(a). Eu não deixei de gostar de cultura ou ser menos inteligente por acompanhar um ou outro dia de Big Brother. Sei que o programa deve ser manipulado, que todos lá dentro exercem um personagem e pouca coisa útil se salva, mas quem disse que eu preciso consumir coisas super refinadas o tempo inteiro? Tenho um lado trash, sim. Que se manifesta em algumas noites de paredão e em algumas noites de balada também. Quem já foi na Trash80´s ou já provou o aclamado #Oculto sabe bem do que eu estou falando. Rs
PS2: Maria é fofa, carente até o último fio de cabelo alisado, engraçada, tonta, lesada, passional. Muitas em uma, assim como yo e muitas mulheres que eu conheço. Não tem como não achar graça e se identificar. ;-)
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