Lindo isso aqui:
“Esse incessante morrer/que nos teus versos encontro/é tua vida, poeta,/e por ele/te comunicas com o mundo em que te esvais.//Debruço-me em teus poemas/e nele percebo ilhas/em que nem tu nem nós habitamos/(ou jamais habitaremos)/e nessas ilhas me banho/num sol que não é dos trópicos,/numa água que não é das fontes/mas que ambos refletem a imagem/de um mundo amoroso e patético.//Tua violenta ternura, tua infinita polícia,/tua trágica existência/no entanto sem nenhum sulco/exterior-salvo tuas rugas,/tua gravidade simples,/a acidez e o carinho simples/que desbordam em teus retratos,/que capturo em teus poemas,/são razões por que te amamos/e por que nos fazes sofrer(...)Não é o canto da andorinha, debruçada nos telhados da Lapa,/anunciando que tua vida passou à toa,à toa/Não é o médico mandando exclusivamente tocar um tango argentino,/diante da escavação no pulmão esquerdo e do pulmão direito infiltrado(...)Não são os mortos do Recife dormindo profundamente na noite(...)és tu mesmo, é tua poesia,(...)é o fenômeno poético, de que te constituíste o misterioso portador”.
Assim expressou-se Drummond quando Manuel Bandeira completou 50 anos (Ode no Cinqüentenário do poeta Brasileiro-poema do livro SENTIMENTO DO MUNDO). O ano era 1940, marcado pela segunda guerra mundial. O novo livro de Drummond trazia a necessidade de darmo-nos as mãos e sermos no futuro uma lembrança,como um retrato na parede, porque o amor resultou inútil e olhos não choram. Porque chegara um tempo em que não adiantava morrer. A vida? Uma ordem. Vida apenas, sem mistificação.
Fonte: http://moisesneto.com.br/estudo23.html
"Não pense que eu ando atrás só de belas coisas simples. Eu quero qualquer coisa, desconexa, contraditória, insegura, não tem importância, desde que seja sua. As definições redondas e grandiloqüentes, as coisas categóricas e acabadas não me satisfazem, porque eu não sou assim", escreveu Maury Gurgel Valente para Clarice Lispector. Este blog traz excertos do cotidiano, poesias, devaneios sobre relacionamentos, cinema, literatura, música... Belas coisas simples, como eu, você e a vida.
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