domingo, 28 de outubro de 2012

...crime passional...

SILVESTRE E O IDIOMA

Silvestre quer saber

porque razão eu estrago o português
escrevendo palavras que nem há.

Não é a pessoa que escolhe a palavra.
É o inverso.
Isso eu podia ter respondido.

Mas não.
O tudo que disse foi:
é um crime passional, Silvestre.

É que eu amo tanto a Vida
que ela não tem
cabimento em nenhum idioma.

Silvestre sorriu.
Afinal, também ele já cometera
o idêntico crime:
todas as mulheres que amara
ele as rebaptizara, vezes sem fim.

Amor se parece com a Vida:
ambos nascem na sede da palavra,
ambos morrem na palavra bebida.


MIA COUTO, in IDADES CIDADES DIVINDADES (Caminho, 2007)

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Des-vão


E lá no fundo
Do meu mundo
Que só eu me dou
Que só eu sei
Tem você

Correndo por fora
Meio noite
Meio sol
e bossa nova
nesse absurdo-lento
descompasso das horas

profusão de cores
frescores matinais
amores tardios
uma paixão que aflora

todos os sentidos num só vão
toda espera em minha mão
e nada me cabe

não sei se sim
nem se não...
quem sabe?

AnaCris 

Poeminha lindo da poeta Ana Cristina Martins. Gostei muito! 

assim assim :)




"Quando gosto, é sem razão descoberta, quando desgosto também".

Guimarães Rosa